26/05/2005

Os jardins do Museu Soares dos Reis


Foto: pva 0501 - pátio do Museu Soares dos Reis, Porto

A rua D. Manuel II, no Porto, é um campo de batalha: trincheiras, barricadas, nuvens de poeira, peões metidos ao trânsito, cartazes vociferantes, manifestações espontâneas de protesto. Num passe de mágica a merecer estudo por parte dos aprendizes de demagogo, o responsável pelo pandemónio conseguiu fazer crer à populaça que a culpa era de outrem: ora da Oposição, ora do IPPAR do Porto, ora do IPPAR de Lisboa, ora de Lisboa, ora do Museu Soares dos Reis, ora da Ministra, ora da nova Ministra, ora do Primeiro-Ministro, ora dos tribunais. Todos juntos contra o Porto - contra ele que, sozinho e contra todos, defende o Porto.

Recuemos então para trás da barricada - toneladas de entulho a gritar bem alto em tom de escárnio toma lá que já aprendeste - e entremos no sitiado Palácio dos Carrancas. É aqui que mora o Museu Soares dos Reis, o segundo maior museu do país, mas desconhecido dos portugueses em geral e dos portuenses em particular: os nomes de Silva Porto ou Henrique Pousão não lhes dizem nada; nunca visitaram a exposição permanente de faiança e outras artes decorativas; as multidões que vão a Serralves admirar abstrusas exposições de arte moderna ignoram amostras temporárias como as de Carlos Relvas ou Guilherme Camarinha. A crise orçamental e a falta de funcionários agravam este panorama, obrigando por vezes ao fecho de várias salas de exposição.

Em 2001, após anos de encerramento, o Museu reabriu com novo edifício anexo contendo um auditório e uma galeria de exposições temporárias. Na inauguração, houve festa para crianças, com música e palhaços, no jardim das traseiras do Museu, alvo também de beneficiações. Foi essa a única vez que visitámos esse tesouro escondido atrás dos muros, onde tílias enormes alteiam as copas por entre enigmáticos blocos de pedra talhada. Desde então o jardim não voltou a abrir ao público: por não haver jardineiro, todo o espaço está ao abandono.

Um outro bonito jardim, este de camélias, ocupa o pátio interior do Palácio dos Carrancas. Nesse recinto, mais pequeno, não se notam sinais de desleixo. Há de facto quem cuide do jardim, mas não um jardineiro: é uma funcionária que, embora com outras atribuições, tem o brio de lhe fazer a manutenção regular.

Se a Câmara, em vez de fazer guerra ao Museu, estivesse preocupada com a imagem da cidade, bem poderia ceder os seus jardineiros para tratar desses jardins. Até porque, como alguém já aqui observou, a progressiva abolição dos canteiros de flores na cidade poderá deixar muitos desses profissionais sem ter que fazer.

12 comentários :

Unknown disse...

Conheço bem o museu, mas de facto nunca lhe vi os jardins...

Anónimo disse...

Fiquei impressionado como sabe exactamente quem é o responsável pelo "imbróglio" que são as obras em frente ao museu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Atribuir as culpas somente a um dos intervenientes,é,no minimo, pouco avisado.Ou então demonstra parcialidade politica.

Paulo Araújo disse...

O responsável foi quem mandou avançar as obras à frente do Museu sem se munir das autorizações necessárias. Não foram o IPPAR, nem a Ministra, nem os tribunais; foi o Presidente da Câmara do Porto, que aliás está a actuar de modo idêntico na Av. dos Aliados. Esta apreciação nada a tem a ver com simpatias ou parcialidades políticas.

Anónimo disse...

A ignorância é atrevida.
Onde estava a autorização necessária para os dois anteriores presidentes (o eleito e o não eleito) avançarem com a saída de um túnel urbano de 750m cheio de carros num cruzamento junto ao Hospital?
Haja respeito pela inteligência de quem vive o Porto.

Maria Carvalho disse...

A decisão de construir o túnel foi desastrosa, só a pensar no conforto dos carros, com demasiadas penalizações para a zona do Carregal. A invasão do Jardim do Carregal pelo estaleiro das obras e a construção de um túnel que destrói inevitavelmente o torrão daquelas árvores é um crime. Mas porque é que estes erros dos dois presidentes anteriores ilibam o actual? A decisão de prolongar o túnel sem autorização, origem do "imbróglio", de quem foi? Há dúvidas sobre isso entre os inteligentes da cidade?

Anónimo disse...

Só não tenho dúvidas de que o actual presidente teve que tomar uma decisão difícil para resolver um problema que os seus antecessores criaram (até porque sempre foi contra a construção do túnel):

a) Devolver cinco milhões de euros à CE que os outros gastaram a fazer dois buracos e gastar outro tanto a tapá-lo;
ou
b) Pedir mais dinheiro à CE e resolver aquilo que é óbvio: a saída de todo o tráfego que, da baixa, demanda a Boavista e o Campo Alegre, não pode entroncar com a Rua Clemente Menéres e ficar parado, encostado a um Hospital Central, dentro de um túnel com uma saída com 11% de inclinação.

Julgo que não é preciso sequer ser inteligente.

ManuelaDLRamos disse...

(aparte ;-)A minha avó ensinou-me que as mensagens anónimas nem sequer se deviam ler: era directo para o caixote do lixo! A opção de "anonimous" neste blog foi deixada principalmente para facilitar os comentarios sem ter que se registar no blogger. Claro que há liberdade para opinar e apenas deitamos ao lixo os comentarios ofensivos, mas lamento sempre que as pessoas não se identifiquem, sobretudo quando se estabelece um diálogo e o comentário não é um mero piropo ou graça. Bem, esta é a minha opinião pessoal(fim do aparte ;-) Podem continuar!

Anónimo disse...

Eu acho que voltou a altura de assinar anónimo porque o PS, rapidamente, está a preencher tudo o que é lugar importante com os seus quadr(ad)os, até na Justiça!

Não tenho dúvidas de que Rui Rio ocupa o lugar que o PS mais ambiciona neste momento. Então, em vez de tomar medidas difíceis que os impediria de alcançar os tão desejados lugares como o do Rio, fingem que Governam e com uma grande diferença para o PSD...

Não me parece. Acho que o povo já percebeu que só há serenidade democrática em Portugal quando a esquerda está no poder, por isso, de vez em quando, não resiste a dar-lhes uma vitória...

E depois é isto! Rio e o Túnel pagam pela demagogia barata da esquerda sem vergonha!

Armando Lima

Paulo Araújo disse...

Caro ex-anónimo: O meu mundo não é a preto e branco, como o seu parece ser; por isso não avalio a acção de um autarca pela cor da camisola que enverga. Fim de conversa.

Anónimo disse...

A mim parece-me que se a ministra da cultura estivesse verdadeiramente interessada no Museu Soares dos Reis, estaria mais empenhada em resolver os seus verdadeiros problemas estruturais e que foram recentemente referidos pela sua directora, nomeadamente a falta de funcionários para assegurar a segurança das colecções, a capacidade de realizar novas exposições temporárias, etc.
Neste processo não há inocentes, e é um processo que foi herdado por todos como uma espécie de facto consumado. A mim parece-me fundamental haver um consenso para a sua resolução mas, entre as três alternativas (saida no lado norte do jardim do Carregal, saída junto à urgência do Santo António e saida no inicio da D. Manuel II) a ultima parece-me a menos má. Não nos esqueçamos que o SAnto António também é um edificio classificado como Monumento nacional, enquanto que o Museu Soares dos Reis é apenas Imóvel de Interesse Público.
José Manuel Varela

Maria Carvalho disse...

Caro ex-anónimo: Realmente os custos por cá andam pela hora da morte. Cinco milhões de euros para tapar um buraco?! Não admira que, por uma obra parada, a Câmara seja obrigada a pagar o dinheirão que anunciou. O presidente vai pedir dinheiro à CE para pagar esta dívida extra?

Maria Carvalho disse...

Se o túnel fosse apenas para ambulâncias e trânsito de emergência, ou estes e os transportes públicos, a saída junto à urgência do hospital seria a mais conveniente. Pois, mas aos carros nesta cidade não se podem recusar regalias... Aliás, um dos grandes vícios desta discussão é considerar que a cidade é sobretudo um problema de trânsito.