18/07/2005

O renascimento do Jardim do Carregal

1) Na rua de Clemente Meneres, que circunda o Jardim do Carregal, prosseguem a reconstrução dos passeios e o asfaltamento da via. O lugar, recorde-se, vive há seis anos em estado de sítio, agravado ultimamente pelas malogradas obras de extensão do túnel rodoviário até à rua D. Manuel II. Com a próxima abertura do túnel, ainda que reduzido a uma saída, é natural que o trânsito à superfície seja desencorajado, e nisso o projecto para a zona é sensato, alargando os passeios e estreitando a faixa de rodagem. Mas há dois pormenores desagradáveis: os automobilistas, numa exuberante demonstração de falta de civismo, já se apropriaram dos novos passeios para estacionamento; e os quatro bordos (Acer campestre) recém-plantados no passeio do lado norte estão a secar. Embora não se conteste a escolha da espécie, estas árvores, à semelhança do que aconteceu com os plátanos da Av. da Boavista, foram plantadas na pior altura. Poderiam ainda assim ter sobrevivido se alguém cuidasse de as regar regularmente. A sua morte é o infeliz resultado da negligência e do mau planeamento.

2) Regressamos, a medo, ao Jardim do Carregal, jóia do Porto oitocentista a que os nossos contemporâneos não souberam dar melhor uso que o de estaleiro de obras. As árvores que lhe tiraram não serão substituídas, pois no lugar do solo onde vegetavam existe agora uma placa de betão que uma fina camada de terra mal disfarça. Outras árvores, poupadas à motossera, têm sucumbindo aos maus tratos: amputação de raízes, encontrões das máquinas, acumulação de entulho, terra ressequida por falta de rega. Todas as vezes que lá passamos actualizamos o obituário: depois da magnólia e das camélias, chegou a vez da Agathis robusta, árvore australiana que era uma das raridades do jardim; as folhas secas e a copa rala não deixam dúvidas de que foi tocada pela morte. Mas agora no jardim há finalmente sinais de esperança: as máquinas, os barracões, o entulho e a vedação de zinco foram removidos, o desgracioso edifício térreo que funcionou como anexo hospitalar será demolido, e não tarda iniciar-se-á a recuperação dos canteiros. Não poderíamos desejar melhor prenda de Verão: esperámos seis anos para que nos devolvessem o Jardim do Carregal.

Foto: pva 0507 - Acer campestre na rua de Clemente Meneres

2 comentários :

Anónimo disse...

Infelizmente tenho reparado em muitas árvores a secar por todo o lado, jardins, passeios, nós de estradas... Algumas deste ano, outras do ano passado e mais velhas também. Além da negligência e mau planeamento, seria bom não esquecer o (mau) tempo deste ano.
O Jardim do Carregal é uma pena. -- JRF

Unknown disse...

6 anos, só? Parece-me que está assim desde sempre...!