16/04/2006

"Tudo era da idade e da cor das palmas verdes."

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[25 março-1893] «A SEMANA foi santa - mas não foi a semana santa que eu conheci, quando tinha a idade de mocinho nascido depois da guerra do Paraguai. Deus meu! Há pessoas que nasceram depois da guerra do Paraguai! Há rapazes que fazem a barba, que namoram, que se casam, que têm filhos, e, não obstante, nasceram depois da batalha de Aquidabã! Mas então que é o tempo? É a brisa fresca e preguiçosa de outros anos, ou este tufão impetuoso que parece apostar com a eletricidade? Não há dúvida que os relógios, depois da morte de López, andam muito mais depressa. Antigamente tinham o andar próprio de uma quadra em que as notícias de Ouro Preto gastavam cinco dias para chegar ao Rio de Janeiro. (...)

Aí vou escorrendo para o passado, cousa que não interessa no presente. O passado que o jovem leitor há de saborear é o presente lá para 1920, quando os relógios e os almanaques criarem asas. Então, se ele escrever nesta coluna, aos domingos, será igualmente insípido com as suas recordações. (...)

As semanas santas de outro tempo eram, antes de tudo, muito mais compridas. O Domingo de Ramos valia por três. As palmas que traziam das igrejas eram muito mais verdes que as de hoje, mais melhor. Verdadeiramente já não há verde. O verde de hoje é um amarelo escuro. A segunda-feira e a terça-feira eram lentas, não longas; não sei se percebem a diferença. Quero dizer que eram tediosas, por serem vazias. Raiava, porém, a quarta-feira de trevas; era princípio de uma série de cerimônias, e de ofícios, de procissões, sermões de lágrimas, até o sábado de aleluia, em que a alegria reaparecia, e finalmente o Domingo de Páscoa que era a chave de ouro.


Tenho mais critério que meu sucessor de 1920; não quero matá-lo com algumas notícias que ele não há de entender. Como entender, depois da passagem de Humaitá, que as procissões do enterro, uma de São Francisco de Paula, outra do Carmo, eram tão compridas que não acabavam mais? Como pintar-lhe os andores, as filas tochas inumeráveis, as Marias Behús, segundo a forma popular, centurião, e tantas outras partes da cerimônia, não contando as janelas das casas iluminadas, acolchoadas e atapetadas de moças bonitas - moças e velhas - porque já naquele tempo havia algumas pessoas velhas, mas poucas. Tudo era da idade e da cor das palmas verdes. A velhice é uma idéia recente. Data do berço de um menino que vi nascer com o ministério Sinimbu. Antes deste - ou mais exatamente, antes do ministério Rio Branco - tudo era juvenil no mundo, não juvenil de passagem, mas perpetuamente juvenil. As exceções que eram raras, vinham confirmar a regra.»
(134) A Semana, de Machado de Assis

2 comentários :

Ponto Verde disse...

Anedota de Páscoa, Câmara de Almada pretende ser exemplo e auxiliar de boas práticas ciclisticas para os PALOP´s ver em www.a-sul.blogspot.com

Faz o que eu digo, mas não olhes para o que eu faço.

Mauro Pereira da Silva disse...

A cada ano a simbologia do Cristo, a desconstrução do corpo/carne, o paradoxo vinho/sangue, está mais distante. O ser humano precisa urgentemente Ser Humano. A loucura que nos atinge está chegando ao seu extremo. O planeta já não suporta mais violência. O Cristo, hoje, é um mero nome.