27/05/2006

Abater árvores para melhorar o ambiente

Já se sabe que ambiente é um termo da mais vasta abrangência; mas o seu uso está a ser esticado a tal ponto que ele corre o risco de se esvaziar de significado. É que nem são precisas grandes acrobacias de retórica para argumentar que uma acção e a sua oposta são ambas em benefício do ambiente; ou, pelo menos, de alguma das múltiplas acepções desse vocábulo - esquecendo momentaneamente, se der jeito, todas as outras. Consideremos, por exemplo, a construção ou não de uma via rápida. Se o seu único traçado possível destruir uma zona de grande valor ecológico, então é bom para o ambiente que a estrada não se faça. Mas, se a estrada desviar o trânsito do centro de uma localidade, então o ambiente vai ser beneficiado com a sua construção, pois as ruas da localidade ficarão mais tranquilas e menos poluídas.

Um outro exemplo, desta vez real. Há pouco mais de dez anos, plantaram-se em Famalicão 26 liquidâmbares; e até as crianças terão percebido que com isso o ambiente em Famalicão melhorou. Quem sabe até se as crianças famalicences não terão sido então incumbidas de compor redacções sobre a árvore e o ar que respiramos - a propósito, justamente, das novas árvores no centro da cidade. As crianças cresceram e saíram da escola, e o seu mundo de certezas infantis vai sendo derruído por sucessivos abalos. Agora a Câmara que há dez anos plantou os liquidâmbares convida-as a acreditar que o ambiente é beneficiado pelo arranque das mesmas árvores.

Abstenho-me de discutir as razões deste abate. O que me incomoda é o uso a despropósito de uma palavra: se em nome do ambiente fazemos uma coisa e o seu contrário, então ambiente não significa nada. É claro que, se os moradores não queriam aquelas árvores (e estão no seu direito), eles vão ficar felizes com a rua despida. Ficando felizes, serão mais cordiais no trato. As relações entre vizinhos serão de uma cortesia exemplar. Haverá pois, sem dúvida, um ambiente de boa vizinhança, o que, por assim dizer, se traduz em bom ambiente tout court. QED

5 comentários :

Luís Bonifácio disse...

Para quê arrancá-las.

Os Liquidambares que se encontravam na Av. D. Afonso Henriques em frente à câmara de Matosinhos foram replantados.

Porque é que a câmara de Famalicão não faz o mesmo?

Anónimo disse...

Ao menos previnem!

Aldina Duarte disse...

Abater uma árvore é qualquer coisa que nunca poderá fazer sentido! A inteligência humana mínima, para além da sensibilidade, tem certamente de encontrar soluções para qualquer forma de vida sempre e cada vez mais longe da destruição!

Até breve!

Anónimo disse...

Hoje já há tanta informação sobre árvores ornamentais que não se justifica plantar árvores que 10 anos depois não irão caber. Ainda há muito para avançar! Contudo nesta notícia é de louvar a atitude do municipio de divulgar e procurar explicar antecipadamente a acção. Espero que não seja demasiado tarde para a plantação (estamos quase no Verão!)

Anónimo disse...

Caros bloggistas,

O assunto que é apresentado por um cidadão de Vila Nova de Famalicão é, no meu entender pertinente e válido....desde que devidamente explicado.
Sou técnica no municipio de Vila Nova de Famalicão, e coube-se a mim dar o parecer para a substituição das árvores. Refleti durante muito tempo sobre a questão, ouvi colegas arboricultores e estou convicta que tomei a melhor decisão possivel. Quem conhece o liquidambar conhece também a sua forma adulta (que não se forma de modo algum em 10 anos) e reconhece que ter estas árvore a 1,5 m de edificios é incorrecto,tecnicamente desaconselhável, mesmo absurdo. No entanto eu não projectei nada. A mim coube-me resolver a situação existente. Optei pela sugestão das remoção e substituição de liquidambares por camélias, pelas caracteristicas edafoclimáticas do local, estruturamento da rua, etc. Fiz aquilo que a um técnico compete. Propor soluções para resolver problemas.
Quanto à questão do transplante, possivelmente quem conheceu as árvores em questão e o seu local de instalação, concordaria que remover árvores em caldeiras de 1x1,nos passeios era uma operação que implicaria substituir a pavimentação integral do passeio, num arruamento, no centro da cidade, por causa de liquidambers que foram plantadas à 10 anos e cujo desenvolvimento de encontrava nitidamente atrofiado pelas condições desfavoráveis existentes. Deixo esta situação à v/ criterosa opinião.
Se me perguntarem se acho que esta operação foi executada na melhor época do ano, concerteza que lhe respondo que não, mas quanto a isso como é obvio não me compete responder.
Finalmente, e com base na minha experiência com arborização, posso-vos assegurar com que prefiro abater uma árvore a vê-la viver sem a dignidade e o respeito que de todos nos merece. As árvores não são objectos, nem muito menos coisas verdes que surgem na cidade. São seres vivos que merecem da nossa parte o esforço de lhe darmos as melhores condições para o seu desenvolvimento. No concelho vejo verdadeiras atrocidades em árvores privadas e confesso que nunca vi, qualquer linha escrita sobre o assunto. E as árvores das propriedades privadas também são importantes!
Finalmente quero dizer a todos que estamos sempre disponíveis para receber os conselhos e opiniões de qualquer pessoa que queira connosco construir uma estrutura arborea urbana sustentada e sustentável. Contamos com a opinião de todos.