08/06/2007

Jardim centenário a estrear




Boa notícia para os fotógrafos que documentam para os álbuns de recordações os casamentos celebrados na Conservatória do Registo Civil de Vila Nova de Gaia: as sessões fotográficas com os recém-casados e respectivos pais, padrinhos e toda a corte de familiares e amigos podem voltar a realizar-se no local do costume. Na quinta-feira, dia 30 de Maio, foi inaugurado pelo presidente da Câmara o novo Jardim Soares dos Reis. Claro que ele não é exactamente novo: embora não pareça, este que é um dos raros jardins no centro urbano de Gaia já existe desde 1904. Contudo, as árvores que o compõem, mesmo as de maior porte, aparentam poucas décadas de vida. Há registo de o espaço ter sido alterado em 1974, e é provável que o arvoredo tenha sido então todo substituído. A intervenção que agora se completou, embora ocasionada pela construção de uma via rápida, deixou um rasto menos destruidor, pois as árvores na metade sul do jardim não foram afectadas pela gigantesca trincheira que obliterou a metade norte, e puderam na sua maioria ser poupadas. A excepção mais assinalável é que, no lugar dos mirrados ciprestes (Cupressus sempervirens) que acompanhavam a sucessão de espelhos de água, há agora um duplo alinhamento de loureiros (Laurus nobilis). Regista-se assim uma louvável continuidade entre o jardim que havia e o que agora se fez: nenhum gaiense se sentirá, como se sentem os portuenses que visitam a Cordoaria ou os Aliados, orfão de um lugar que já só existe na memória; e, se o gaiense se quiser sentar no Jardim Soares dos Reis, não lhe faltarão bancos nem lhe irão doer as costas por falta de encosto.

A grande novidade é que, tapada a trincheira, o trânsito em volta do jardim foi confinado à parte sul, enquanto que a parte norte, que surge agora como prolongamento pedonal das ruas adjacentes, foi estendida até ao bordo do largo Soares dos Reis. Os moradores ficam a poder sair de casa directamente para o relvado. A nova extensão do jardim, embora ainda muito despida e mostrando as costuras da colocação apressada dos tapetes de relva, cola muito bem com a parte antiga, tanto no desenho dos percursos e na modelação do terreno como nos materiais empregues. Há novos carvalhos-americanos, bétulas, camélias, azáleas, rododendros e magnólias, mas a escadaria seria mais alegre se se tivessem mantido os nenúfares.

Não poderá a Câmara de Gaia desistir de uma vez por todas do estacionamento subterrâneo no Jardim Soares dos Reis? Que gosto há em desbaratar aquilo que agora tão bem se fez? As árvores pedem tempo para crescer: deixe-se o jardim em paz para que, daqui a vinte ou trinta anos, com mais sombras e recantos, ele se assemelhe mais à idade que tem.

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