18/07/2007

«A árvore, essa desconhecida*

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Uma árvore é também um prodígio de arquitectura…
Imagine o caderno de encargos da árvore. Trata-se de construir uma torre de cerca de 60 metros de altura, com 2 metros de diâmetro, tendo no seu cimo uma vasta estrutura de cerca de 20 hectares, e fundações que não excedam 3 metros, num solo móvel e húmido de um país tropical batido pelas chuvas. O material de construção tem que ser banal, leve, capaz de boiar sobre a água e de um preço verdadeiramente atraente, qualquer coisa como 500 euros por metro cúbico no máximo.

Propus este caderno de encargos a um conhecido arquitecto :"-Uma torre assim não existe e nunca existirá ." respondeu-me ele . Moral: apesar das nossas proezas tecnológicas, somos completamente incapazes de construir uma árvore grande , aliás, uma pequena também não. (…)

A superfície de uma árvore, de qualquer árvore, a área com que interage com o ambiente, é imensa…
Um animal como nós, o
Homo sapiens, tem apenas cerca de 2 metros quadrados de superfície em contacto com o mundo exterior. A árvore, pelo contário, é um organismo vivo todo em superfície. Como se encontra imóvel, alimentando-se de luz solar, de gás e de água do solo, nutrientes disponíveis apenas em pequenas quantidades, necessita para o efeito de colectores gigantes. A superfície total de uma ávore de dimensões médias, raízes, tronco, ramos e folhas desdobradas, é no seu conjunto de cerca de 200 hectares, ou seja do tamanho do principado de Mónaco. Isto significa que de cada vez que um lenhador abate uma árvore diminui a área do nosso planeta em 200 hectares (…) »

*Extrato da entrevista > (in Le Monde 2 de 21.01.2006) a Francis Hallé responsável pelas missões científicas dos chamados «radeaux des cimes» no dossel > das florestas tropicais, autor, entre outras obras, de Eloge de la plante : Pour une nouvelle biologie e Plaidoyer pour l’arbre (in my wish list ;-)

3 comentários :

Rosa disse...

Manuela, este texto é uma alegria, daquelas que eu sinto quando alguém consegue brilhantemente dizer o que há muito ando para dizer mas por falta de talento não consigo.
Ando por aqui triste a constatar que pela costa da Ericeira e arredores já quase não se vêem árvores,acho que não gostam delas.

a d´almeida nunes disse...

Temos que manter a luta
Continuar a batalhar
A árvore há-de ser mais astuta
Que precisamos de respirar...

bettips disse...

Como ficam bem as nossas amigas assim explicadas! Louvores a elas e quem as lembra. Abç