04/09/2007

Cardos há muitos


Carlina corymbosa / Galactites tomentosa

Os livros sobre plantas que tenho à mão quase não falam de cardos (em inglês thistles): a excepção é um livro sobre flora açoriana escrito em inglês por um alemão. No entanto, o Portugal Botânico de A a Z lista mais de 20 espécies de cardos, desde o cardo tout-court (Galactites tomentosa) ao cardo-santo, passando pelo cardo-amarelo (Carlina corymbosa) e pelo cardo-roxo. O que estas plantas têm em comum são as folhas espinhentas, mas nem sequer pertencem todas à mesma família botânica. Por exemplo, o cardo-marítimo é uma umbelífera, e os dois cardos de hoje são da família Asteraceae, a mesma que inclui margaridas e girassóis. O ostracismo a que os cardos estão sujeitos é outro traço unificador dessa classe heterogénea: ninguém os quer cultivar no jardim, e por isso os livros de jardinagem só os mencionam, quando o fazem, para explicar a melhor maneira de nos livrarmos deles e de outras plantas daninhas. Um cardo pode ser tolerado na natureza - mas mesmo aí não muito, como parte que é daquela massa indiferenciada de plantas a que chamamos mato e que é costume limpar para prevenir incêndios. Em suma, os cardos são plantas que ninguém quer acarinhar, e se eles noutros tempos - quando havia aldeias e tradições rurais - tiveram para nós alguma utilidade, hoje poucos saberão o que fazer com eles. Bom, talvez sirvam de alimento às abelhas. Mas a questão é que não precisamos de fazer nada com eles, pois nem tudo no equilíbrio da natureza se tem que traduzir em nosso benefício imediato. Com jeito, um cardo até se põe bonito para a foto; e, na verdade, ele é bonito. Contudo, esse já é um modo deformado de ver as coisas: como qualquer outra planta no seu habitat natural, um cardo tem o seu lugar na cadeia de tudo quanto existe.

12 comentários :

Paulo disse...

Uma amiga minha fez uma vez feijoada de cardos, que comprou no mercado de Évora. Não sei se seriam de alguma destas espécies, uma vez que já vinham arranjados.
(Estes são bem fotogénicos.)

Anónimo disse...

« quando havia aldeias e tradições rurais » !?

E já não as há !?

Pode ser que que já não se usem os cardos, por exemplo, para coalhar o leite, mas daí a assumir que o mundo rural e as suas tradiçoes tenham desaparecido...
Eu até aqui na cidade os encontro, quase "ao virar de cada esquina".

Manuela

Anónimo disse...

A mim os cardos sempre me encantaram; quer as flores, que por vezes têm cores de uma intensidade deslumbrante, quer as folhas, que também são muito bonitas. Cheguei a tentar introduzi-los no jardim da minha mãe, mas foram rapidamente expulsos.
Sei que também eram utilizados como coalho no fabrico artesanal do queijo.

Isabel Gonçalves

Anónimo disse...

Aqui no Brasil uma senhora que trabalhava com fitoterapia já curou muita gente com estas 'ervas'. Ela me falou de uma espécie de cardo santo do sul do país. Será o mesmo? Existe em Portugal mais de uma espécie de cardo santo? Faz tempo procuro esta informação, um abraco. lucia

bettips disse...

Uma das coisas lindas que me lembro de ver (e comprar, sei lá para quê mas sei porquê) foram as folhas do cardo roxo, numa feira em Carregal do Sal. Precisamente usado para fazer coalhar o leite. Mas na verdade, costumo fotografá-los, acho-os decididamente anti-pessoas mas belos no seu silêncio abandonado. Abçs

Paulo Araújo disse...

Deve ser esse mesmo cardo, pois a santidade dele aparece até no nome científico, que é Cnicus benedictus L (foi Lineu quem lhe deu o nome). Em inglês chamam-lhe (naturalmente) blessed thistle. Se alguma vez o vi, não lhe prestei atenção, mas é fácil encontrar na net imagens e informação sobre ele usando o nome científico.

Anónimo disse...

Assim fica mais fácil, grata pela informação. Se precisar de algo por aqui, deste lado do Atlântico fique a vontade!

José Bandeira disse...

Resta dizer que o cardo é a planta oficial da Escócia. Não se sabe exactamente porque razão se elevou tão humilde planta a tão grande nobreza. Uma tradição diz que os adormecidos escoceses foram alertados para a presença de invasores viking (dinamarqueses) quando um destes pisou um cardo e gritou.

A ordem de cavalaria mais antiga da Escócia é a Ordem do Cardo, e o seu mote é «Me Impune Lacessit» - ninguém me provoca impunemente. :o)

José Bandeira disse...

Queria dizer «por que razão», e não «porque razão», é claro.

E já agora, pensando no assunto, parece-me improvável que um guerreiro viking andasse pelas charnecas descalço - ou que gritasse de uma forma assim tão conspícua por pisar um cardo.

Mas enfim, já vi coisas mais estranhas.

Anónimo disse...

Já li muito sobre o Cardo Santo, fiquei impressionada com a sua qualidade terapeutica.
Quem sabe onde posso encontrar sementes?
Ana Dolores
adolorescc@hotmail.com

Stela disse...

Olá, adorei encontrar este texto estou pesquisando sobre cardos a dias, gostaria de saber se alguém sabe onde encontrá-los por aqui, moro em Santa Catarina. obrigada!

Zé do Pandeiro disse...

Bah! Sou do sul e estava procurando a origem de meu sobrenome CARDOSO diz que é: Chão cheio de Cardos - assim vi o blog e os cardos no wikpédia e adorei a parte do Cardo - Santo e que cura as pessoas. Zé Evandro = Evandro Cardoso. http://serrotepreto.blogspot.com