18/08/2009

Capuz-de-frade


Arisarum vulgare O. Targ. Tozz.

Para não sermos acusados de proselitismo, seja da boa ou da má doutrina, parece-nos avisado alternar o vício com a virtude. Depois da tentação pecaminosa simbolizada pela cobra, nada como as santas virtudes monásticas encarnadas num frade. E conseguimos tamanha oscilação moral sem sair da família Araceae, o que mais uma vez mostra como os extremos se tocam.

O nosso fradinho é lusitano e modesto, ao passo que a cobra era oriental e sedutora. Enverga um capuz (ou espata) de 3 cm de altura, o que o deixa a grande distância dos 15 cm da sua prima asiática; as suas folhas, embora dotadas de pecíolo longo, são rasteirinhas e diminutas. O que as duas plantas têm em comum é a disposição temporã: ambas dão por encerrada a floração no início da Primavera.

Dependendo dos autores, o género Arisarum conta com apenas duas ou três espécies, todas da Europa mediterrânica. O nosso capuz-de-frade (A. vulgare) é a única delas que parece ocorrer em Portugal, sendo mais comum no centro e sul do país. É um mistério que uma planta de vocação tão eclesiástica tenha optado por não frequentar a verde província do Minho.

9 comentários :

Unknown disse...

Que lindas fotos! Lembro-me deste "fradinho" que via na infância e a que achava imensa piada.Quanto a mim é bem mais interessante que a "cobrinha" oriental. Caso para dizer, mais uma vez, de que o que é nacional é bom!...
Obrigada, Paulo Araújo e à sua Equipa, pelo vosso regresso que proporciona o prazer desta descoberta diária.
Até amanhã...
MD

Paulo Araújo disse...

Obrigado pelo comentário. Também acho muito mais entusiasmante descobrir estas plantinhas na natureza do que fotografá-las em vasos. Mas, além de remotas, as florestas orientais têm a agravante de nelas haver cobras a sério. E o nosso fradinho é realmente uma beleza. Corremos é o risco de nem reparar nele, de tão pequeno que é.

Anónimo disse...

Pois eu acho que tem muito de um "Frère Jacques sonnant les matines". Pas vrai?

Manuel Anastácio disse...

No centro de Portugal (e não só: a menção também aparece na Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira da Cultura), estas plantas são também chamadas de candeias, devido à semelhança com as lucernas de azeite de antigamente.

Anónimo disse...

Fotografei este exemplar no concelho do Marco de Canaveses, no vale do Tâmega.

http://www.flickr.com/photos/quinta_de_corujas/5193482920/

Não é no Minho mas é perto e também é terra de grande devoção.

Luís Corte-Real

Paulo Araújo disse...

Caro Luís Corte-Real:

Obrigado por nos mostrar a sua descoberta. Conheço bem o vale do Tâmega nas proximidades de Amarante, mas a Marco de Canavezes nunca fui. Talvez tenha que lá ir espreitar - até porque nunca vi desses fradinhos em Amarante. São plantas que passam meio despercebidas por florescerem no Inverno, altura em que pouca gente anda à procura de flores.

Anónimo disse...

ola... eu tenho de fazer um trabalho sobre plantas que tenham flor e fruto e tenho de as colher por acaso nao sabem em que regioes do centro e sul esta planta se encontram? sff

Josefina disse...

Bom dia, elas são insetívoras? Obrigada, Josefina

Paulo Araújo disse...

Tanto quanto se sabe, não são plantas insectívoras, embora haja plantas da mesma família que obrigam o insecto a permanecer na flor (ou melhor, na inflorescência) mais tempo do que eles desejariam.