13/08/2009

Guarda-sol japonês


Sciadopitys verticillata (Thunb.) Siebold & Zucc.

A família Sciadopityaceae tem um único género, Sciadopitys, e uma única espécie, S. verticillata que, para se evitar a solidão, já esteve incluída na família Taxodiaceae. Arengas várias indicaram contudo que era prudente o isolamento taxionómico. Sciadopitys deriva dos termos gregos skiados, umbela, e pitys, pinheiro. Um nome assim usa-se na lapela como uma flor.

No início, em dias em que via passar muitos dinossauros mas estes ainda não eram famosos, esta árvore dedicou-se ao ócio de refinar as folhas. Estas são na verdade duplas mas completamente fundidas, com uma estria em cada face. Não entendemos a razão deste reforço, nem o aparente desperdício tão invulgar na natureza, mas o resultado é formoso: as agulhas espalmadas têm cerca de 12 cm de comprimento, cor verde-azeitona na face superior, mais amarelada na inferior, e agrupam-se em rosetas como as varas de um guarda-chuva (verticilos). No topo da copa os ramos são ascendentes, com os pequenos pálios terminais acentuando este efeito.

Como vegetal antigo, nunca negociou a sua sobrevivência com os insectos - que não existiam quando ela se estreou nas montanhas do centro do Japão -, nem descurou a sua autonomia. É uma árvore monóica: produz, no mesmo pé, cones masculinos e femininos, ambos primaveris; os primeiros nascem em cachos, os femininos são solitários, amadurecendo em dois anos e ganhando então uma cor acastanhada. A polinização está entregue ao vento.

Não é por ser espécie com origem tão remota que não tem uso. A madeira é resistente e flexível, e, como os pinheiros, exsude uma «resina» que serve como ingrediente de vernizes. E, claro, há o valor ornamental que os hortos sabem transformar em alto preço mas que os responsáveis pela arborização pública parecem ignorar.

3 comentários :

Unknown disse...

... e nós agradecemos a vossa pesquisa e, reconhecidamente, a sua divulgação!

Foi uma grande alegria decobrir, há dias, o vosso regresso e continua a ser um enorme prazer vir aqui, diariamente, espreitar a surpresa que nos vão oferecer...

Muito OBRIGADA!
M.Dalila

José Batista da Ascenção disse...

Não é invulgar na natureza a modificação morfológica das folhas: basta pensar que todas as partes de uma flor, incluindo estames e carpelos, são folhas modificadas para permitir uma reprodução (sexuada, neste caso) mais eficaz. E o "dobramento" e a fusão das partes dobradas das folhas é muito fácil de ver por exemplo no lírio (Iris germânica L.)que, na parte inferior, se encaixam umas nas outras precisamente na zona do dobramento. De tal modo que a toda a superfície exposta da folha corresponde exactamente à mesma página. Em corte transversal, ao microscópio óptico, a visão dos feixes condutores e dos tecidos do mesófilo foliar dá uma ideia mais clara. Enfim, o que a natureza faz...

Maria Carvalho disse...

M. Dalila: Obrigada, o seu apreço é um regalo para nós.

José: Não diria que se trata neste caso de uma modificação morfológica das folhas com a intenção de lhes alterar a função, como no caso óbvio das brácteas ou dos exemplos que refere. Mas a planta retira certamente da fusão de duas folhas - o desdobramento a que se refere, ficando cada folha com uma só página - alguma vantagem. Pode ser estratégia vulgar, mas não deixa por isso de me intrigar.