17/09/2009

Doce veneno amargo


Solanum dulcamara L.

A batata (Solanum tuberosum, de fruto tóxico) é um tubérculo humilde das montanhas andinas onde o solo é fino, as temperaturas baixas, os dias curtos e o ar rarefeito, e onde ainda hoje se consomem variedades silvestres, incluindo a linda batata azul. Desconhecida na Europa antes da Renascença, veio a ser mais do que uma fonte de nutrientes: permitiu uma explosão populacional sem precedentes e, depois de uma praga que devastou as plantações, forçou os europeus a uma emigração histórica para o Novo Mundo, o que lhe criou condições para conseguir a independência. Os conquistadores espanhóis desafiaram a civilização inca atraídos pelo ouro e pela prata, mas o notável legado dos incas veio guarnecido de milho e batata.

A batateira pode propagar-se por sementes, difíceis de obter nas variedades hortícolas recentes, mas é mais usual a multiplicação pelos «olhos» dos tubérculos. Segundo Henry Hobhouse no livro Seeds of Change (Folio Society, 2007), até 1770 três plantas confundiam-se na designação «batata»: a branca, de que falámos antes, a batata-doce (Ipomea batatas) e a mandioca (Manihot esculenta). Variantes da palavra persistiram nas línguas europeias até surgir pomme de terre.

Quase todas as cerca de 1400 espécies do género Solanum, subtropical e maioritariamente da América Central e do Sul, têm folhas de aroma acre, flores encantadoras e frutos perigosos ou mesmo mortíferos (com bravas excepções, como o pepino, S. muricatum, a beringela, S. melongena ou o tomate, S. lycopersicum). A espécie das fotos, com vasto uso medicinal, é europeia, semi-lenhosa e, por hábito, gosta de vaguear escalando por outras plantas. Os frutos são bagas verdes, depois cor-de-laranja, que os pássaros consomem só depois de terem amadurecido para rubras.

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