05/09/2009

Onde a terra acaba




Aster tripolium L. - Land's End (Cornwall)

Londres, 21 de Outubro de 1885

Minha cara Srª Condessa

Tenho sido ultimamente tão abandonado pelos meus amigos de Lisboa - ou pelo menos daquele bairro de Lisboa onde eu mais desejo ter amigos - que, se possuísse uma canoa e um papagaio, podia considerar-me realmente como um Robinson Crusoé, desamparado na sua ilha. Há, é verdade, em roda de mim uns quatro ou cinco milhões de seres humanos. Mas, que é isso? As pessoas que nos não interessam e que se não interessam por nós são apenas uma outra forma da paisagem, um mero arvoredo um pouco mais agitado. São, verdadeiramente, como as ondas do mar, que crescem e morrem, sem que se tornem diferenciáveis umas das outras, sem que nenhuma atraia mais particularmente a nossa simpatia enquanto rola, sem que nenhuma, ao desaparecer, nos deixe uma mais especial recordação. Ora estas ondas, com o seu tumulto, não faltavam decerto em torno do rochedo de Robinson - e ele continua a ser, nos colégios e conventos, o modelo lamentável e clássico da solidão.

Eça de Queiroz, Correspondência

5 comentários :

Luz disse...

Espero que seja só o rochedo e o Eça que sintam a solidão. Entretanto as florinhas azuis estão bem acompanhadas pois têm a sua família à roda, a mosca também pois está interessada nas flores e portanto, segundo o conceito do Eça, se as flores não lhe são indiferentes, já são uma forma de companhia. Quanto ao rochedo, tem mesmo que estar sozinho, pois escolheu um sítio de difícil acesso e portanto só mesmo o mar é que o pode visitar. Eu, por agora estou muito bem acompanhada, pois, com estas fotografias fantásticas que o vosso blogue tem sempre, é impossível sentirmo-nos sozinhas.
Bom fim-de-semana
Luz

Luz disse...

Maria
Obrigado por gostar da minha companhia, e obrigado também por todas as maravilhas que nos vão ensinando...
Encontrei-vos, por acaso um dia quando procurava a imagem de uma planta para mostrar às crianças do jardim-de-infância e fiquei fascinada com a fotografia que vi no blogue. Por isso adicionei-vos à lista dos favoritos e habituei-me a passar por cá. Também as crianças gostam de o fazer pois pedem frequentemente para visitar o"cantinho das plantas", que é como vos chamamos na nossa sala.
Durante um tempo estiveram inactivos, e eu esperei. Quando voltaram, e eu comecei a ler as vossas postagens apercebi-me do quanto podia aprender com elas.
E foi impossível não vos responder... Por isso a única coisa que vos posso dizer é OBRIGADO, pelo vosso trabalho e por tudo aquilo que nos ensinam, já para não falar do quanto é bom e relaxante passar uns minutinhos na vossa companhia.
Muito obrigado pelo vosso trabalho!
Luz

Paúl dos Patudos disse...

Passear por aqui, não tendo com passear doutra forma , para visualizar tanta beleza, acrescenta mais alguns anos à vida que estou a viver neste planeta, como ser humano. Tudo por aqui é sempre tão lindo , que quase dá vontade de entrar pelo monitor do computador e sentir todos os cheiros que emanam das flores, das plantinhas, das árvores...
Obrigado pela partilha.
Desculpe todo este palavreado , mas na realidade é o que sinto ao vir aqui.
abraço
Ana Paula

Maria Carvalho disse...

Luz, Ana: Estamos a ficar viciados na vossa amabilidade. Receio que não consigamos retribuir, e merecer, tanta gentileza.

Luz disse...

Basta que continuem a partilhar connosco estas coisas maravilhosas que têm vindo a partilhar
Luz