08/02/2010

Cidadã do mundo


Senecio vulgaris L.

A tasneirinha ou cardo-morto é o par ideal para a barbicha-de-bode: são duas plantas sem eira nem beira, e cada uma delas tem o que falta à outra. Enquanto que as inflorescências do Tragopogon pratensis são constituídas unicamente por florículos externos, as do Senecio vulgaris só têm florículos tubulares. Dito de modo menos rigoroso, as primeiras dispensam a almofadinha central, que é única coisa que existe nas segundas.

Quando as inflorescências da tasneirinha, muito bem arrumadas em cilindros verdes decorados com pintinhas negras, se transformam em frutos, o resultado é uma esfera pilosa daquelas que se sopram para averiguar se o pai do outro é ou não careca. Foram estes cabelos brancos - que de facto se chamam papos, e são igualmente vistosos nos dentes-de-leão - que motivaram o nome genérico Senecio, do latim senex = homem velho.

Resistindo tenazmente à perseguição que, com base em alegações em boa parte infundadas sobre a sua perigosidade, lhe é movida em todos os continentes habitados, a tasneirinha floresce o ano inteiro, e aproveita qualquer canto, nem que seja uma brecha do passeio, para fazer germinar as suas sementes. Agradecem os pássaros que delas se alimentam, e nós mesmos não deveríamos ser tão ingratos.

4 comentários :

Alexandre I. disse...

Viva!

Já não vinha passear por estes vossos jardins há algum tempo...
Felicito-vos por terem retomado vida no blogue... É-nos muito caro. Todos os que se deixam apaixonar pelas pequenas grandes maravilhas da natureza encontram, aqui, um cantinho de relaxamento, aventura e aprendizagem.
Vejo que, há bem pouco tempo, visitaram as terras de Sicó, lugar já de referência para "foto-caçadores" de orquídeas nativas. Não deixo de vos aconselhar uma visita mais prolongada, talvez através de uma das caminhadas programadas pela associação de defesa do património da região (Al-Baiaz, com o prof. botânico e dali conterrâneo Mário Lousã). Não deixem de visitar, também, aquele que era para Miguel Torga o miradouro mais vasto de Portugal, a Serra de Alvaiázere.

Devo também dizer que já tive a oportunidade de visitar o Porto e (re)conhecer algumas das extraordinárias árvores e jardins da cidade. E nem precisei de mapa ou guia turístico. Vê-las ao vivo, foi como encontrar velhas amigas.
Continuem com o vossa dedicação, tão frutuosa, a este espaço!

Abraço
(lembrei-me também de vos deixar o link de um blogue de um jovem geógrafo, ambientalista e defensor do património natural da região da Sicó. http//azinheiragate.blogspot.com)

Arma_Zen disse...

É mesmo uma "cidadã do mundo"! Aqui em e em qualquer lugar nas cidades do interior de São Paulo, encontro esta florzinha, a tasneirinha, antes anônima para mim. Muito obrigada!
Abraços.

Paulo Araújo disse...

Obrigado, Alexandre, já nos fazia falta a sua visita.

Claro que vamos voltar à região de Sicó. A primeira visita foi só para descobrir o caminho e marcar terreno, mas as orquídeas (que outra coisa haveria de ser?) vão-nos obrigar a ir lá muitas vezes. O problema é que é um dia de cada vez, um ir e voltar que deixa sabor a pouco. Voltaremos à Serra do Anjo da Guarda, em Ansião, e também iremos espreitar a Alvaiázere. E há ainda os carvalhais de Quercus faginea, mas aí nem sabemos bem por onde começar. Se quiser dar mais dicas, ficamos-lhe muito agradecidos.

Paulo Araújo disse...

Tuca:

Obrigado por confirmar a presença destas florzinhas vadias desse lado do Atlântico. Deixe-me só ressalvar que o nome popular tasneirinha não é usado no Brasil. Mas basta o nome científico (Senecio vulgaris) para identificar a planta.