30/07/2010

Chícharo amargo


Lathyrus linifolius (Reichard) Bässler [sinónimo: Lathyrus montanus Bernh.]

As terras de Sicó, repartidas entre os concelhos de Pombal, Ansião e Alvaiázere, são o reino do chícharo, esse legume quase desconhecido que substitui com vantagem o feijão-manteiga naquele arroz de consistência espessa que fica longo tempo a apurar ao lume. O nosso conservadorismo alimentar não deixa antever que o consumo do chícharo se generalize a todo o país, e por isso quem quiser abastecer-se dele terá de ir à terra onde ele é farto. E pode ser que nem lá o encontre. Há tempos, no regresso de um passeio de sábado à tarde, parámos em Ansião e fomos a um Minipreço, único estabelecimento ainda de portas abertas. Claro que não tinha chícharos: os produtos à venda eram os mesmos que há em todos os Minipreços do país. A ideia de que uma cadeia nacional possa vender produtos locais é ingénua e antiquada. Só aquilo que vem dos armazéns centrais devidamente embalado chega às prateleiras dos supermercados. O chícharo cultivado em Ansião só pode ser vendido em Ansião se fizer estágio em Lisboa.

O chícharo provém de uma leguminosa cultivada, o Lathyrus sativus, que também se naturalizou em certas regiões do país. Mas há outras plantas do género Lathyrus que fazem parte da nossa flora autóctone. E, mesmo que os «feijões» desses outros pseudo-chícharos não se comam, encontrá-los na natureza provoca-nos imediata salivação. No caso do L. linifolius, tal reacção pavloviana é um verdadeiro disparate, pois o nome que se lhe dá em inglês, Bitter Vetch, não deixa dúvidas quanto à sua inaptidão para nos alegrar as papilas gustativas.

Mas comer não é tudo, e a Lathyrus linifolius é uma planta bonita e algo esquiva, que gosta de habitats resguardados como bosques ou sebes mas também está presente em pastagens. As suas flores são comparativamente pequenas (1,5 cm) e distinguem-se pelo cálice azulado. Ao contrário de outras congéneres suas, não gosta de se enrolar em árvores e arbustos para trepar mais alto: as extremidades das folhas (que são compostas, com quatro a oito folíolos dispostos aos pares) apresentam-se desprovidas das gavinhas que tão visíveis são, por exemplo, no L. latifolius.

3 comentários :

trepadeira disse...

Olá
Tenho fotografado algumas espécies de borboletas a alimentarem-se nessas belas flores.
O Abelhão negro também.

Chicharros semeio,não só pelo grão mas,sobretudo pelos cornichos.São aquelas vagens tardias de Outono.Fazem um caldo e também um arroz de se lhes tirar o chapéu.
Cordialmente,
mário

Anónimo disse...

Olá Mário
Em que zona do País semeia você os chicharos?
Saudações
Emilio

Maria Lua disse...

Obrigado pela partilha de informação sobre o Chícharo amargo.
Bom final-de-semana.