15/03/2011

Dama da noite



Hesperis laciniata All.

Esperar não é necessariamente ficar à espera – é viver enquanto não acontece uma coisa que, afinal, queremos menos do que viver apenas. Miguel Esteves Cardoso, Ainda ontem (Público, 18/II/2011)

Conhecíamos a Ota de uma curta visita, há uns anos, à Base Aérea. No Inverno de 2010, tornou-se-nos clara a premência de nova visita, esta de cariz não militar. Houve, contudo, que aguardar até que retornasse o tempo preferido para a floração das crucíferas, período em que consultámos obsessivamente o calendário para não falhar a data.

Fomos à procura dela em Fevereiro numa cascalheira calcária no vale da ribeira da Ota. Após meia hora de marcha estradeira, ladeados por arbustos e árvores que formam um bosquete cerrado mas que parece recente, e outro tanto por um corredor estreito atapetado de musgos, fetos e cogumelos vermelhos, estacámos numa encosta de pedrinhas angulosas brancas. Tropeçámos (literalmente) pela ladeira até um canto assombrado, e lá estavam as flores de cor violácea, pétalas longas (uns 3 cm) onduladas e uma fragância fugidia que se torna mais intensa ao entardecer – capricho que a designação grega hespera celebra. A população é pequena, embora tenhamos notado a presença de vários pés novos, com quase 30 cm de altura, ainda só com as folhas, que são alternadas, lanceoladas e de margens dentadas (daí a designação latina laciniata), com 5 a 15 cm de comprimento.

A juliana é uma herbácea bienal ou perene, mas de vida curta, nativa da metade sul da Península Ibérica, sul da Europa e Marrocos. É a única espécie (das cerca de 150) do género Hesperis que ocorre, e raramente, em Portugal, e não há registo da presença da subespécie de flores amarelas manchadas de ametista. Espanha foi bafejada com outra espécie, a H. matronalis (em duas subespécies, a subsp. candida, autóctone e de flores brancas, e a subsp. matronalis, naturalizada, com pétalas púrpura), planta de maior porte, inflorescências mais densas e folhas pecioladas não lobadas.

2 comentários :

Beth Bucker disse...

Olá ! estava procurando sobre a lavanda do mar,encontrei e gostei muito deste blog,informativo e poético !
também temos um dama da noite,apesar de ser diferente desta ( não entendi se abre apenas a noite),se quiser podem dar uma olhada,abraços, Beth.
http://po-da-terra.blogspot.com/2010/10/damas-da-noite-e-orquideas.html

Maria Carvalho disse...

Olá, Beth, seja bem-vinda. Tem razão, há muitas espécies com esse nome vernacular. Esta ganhou-o em alusão ao filme Belle de jour. As flores de Hesperis abrem a qualquer hora (e não só à noite como o seu magnífico Epiphyllum oxypetalum) e duram mais do que uma noite. Mas o perfume das flores só é perceptível à noite.