07/06/2011

Graal




Pinguicula vulgaris L.

O lugar não é inacessível, mas para chegarmos perto dos taludes a gotejar é preciso saltitar pelas rochas musgosas e arredondadas espalhadas pelo rio, e nem sempre a perna as alcança ou as pedras fazem a devida ponte. O resultado é um caminhar vacilante que raramente evita que saiamos dali encharcados. Mas o esforço justifica-se: recenseada desde 1884, mora ali a única população conhecida de Pinguicula vulgaris em Portugal.

A parede parecia feita de água e flores roxas que, de longe, diríamos serem só violetas, mas, perto delas, talvez porque partilhem os mesmos polinizadores, havia inúmeros pés de P. lusitanica e as rosetas basais de cor verde-limão, com cinco a oito folhas de beiras involutas, que procurávamos há um ano. Depois de verificarmos que se têm alimentado bem, a julgar pelas sobras no prato, estivemos largos minutos a conhecer as flores. São solitárias, campanuladas, de esporão assovelado, fauce branca e corola com lóbulos desiguais ondulados. A última foto mostra o fruto, uma cápsula ovóide que, lemos depois, contém uma centena de sementes diminutas e castanhas — a quimera dos coleccionadores. Durante o Inverno, a planta repousa: de cada pé, restará uma gema sem raízes, e não um subconjunto de folhas como acontece com a P. lusitanica.

Ocorre em quase toda a Europa, América do Norte, Ásia e norte de África, em turfeiras ácidas, charnecas húmidas e rochas ressumbrantes. Na Península Ibérica só se encontra a norte, e há registo de nomes vernáculos para ela em castelhano (atrapamoscas), catalão (viola d'aigua), galego (grasilla) e basco (ametz-bedarra). Por cá, cremos que ainda não lhe atribuíram nenhum; quer o leitor fazer uma proposta?

4 comentários :

Francisco Clamote disse...

Parabéns: pela pesquisa e pelo "post".

Rosa disse...

Coisa mais linda!

Maria Carvalho disse...

Obrigada, foi uma aventura muito bem recompensada.

Maria Carvalho disse...

Excelente proposta de nome vernáculo, coisa-mais-linda.