14/07/2011

Erva do bom despacho


Aristolochia pistolochia L.

Na verdade não foi por ela que visitámos a pequena mata de sobreiros e carvalhos-cerquinhos algures na Serra dos Candeeiros. Tratou-se de um prémio de consolação, pois a desejada mais uma vez se esquivou. E a Aristolochia pistolochia, a planta que rima (este Lineu tinha arroubos de poeta), não é descoberta de se deitar fora. Ainda que a Flora Ibérica garanta que ela ocorre em todo o centro e sul de Portugal e também em Trás-os-Montes, a verdade é que nunca a tínhamos visto. Frequentando bosques e clareiras de matos secos desde o sul de França às regiões de clima mediterrânico na Península Ibérica, é muito menos comum do que a sua congénere Aristolochia paucinervis, da qual se distingue pelas folhas triangulares, pelo amarelo-torrado das flores, e pelos capuzes mais proeminentes.

Depois de uma planta que, se não ajuda a evitar a gravidez, pelo menos tem semelhanças com outra a que a superstição atribuiu tal qualidade, é boa política reforçar a nossa postura neutral dando voz à facção pró-vida. Acreditavam os antigos, por a forma da flor lembrar um útero, que a Aristolochia tinha virtudes obstétricas, e daí o nome que Lineu lhe atribuiu, e que significa excelente parto. A mesma crença inspirou a designação inglesa birthwort para todas as plantas do género. Contudo, a medicina moderna desaconselha qualquer uso terapêutico destas plantas, que são tóxicas e potencialmente cancerígenas.

6 comentários :

ZG disse...

Que maravilha!!

ZG disse...

e qual era a desejada ?

Paulo Araújo disse...

Ophioglossum lusitanicum. Até hoje só vimos um Ophioglossum, mas dos grandes (O. vulgatum), e foi preciso ir à Galiza para o encontrarmos.

ZG disse...

Talvez seja mais fácil encontrar a dita planta no início do Outono, quem sabe... mas esta Aristolochia também deve ser raríssima!...

Rui Fonseca disse...

Peço desculpa mas desvio-me do tema (apesar de, como sempre, interessantíssimo)para lhe perguntar o seguinte. Em Abril de 2008 colocou artigo sobre o tremoceiro azul. Que só agora li por ter procurado a resposta na net. Mas esse artigo não responde, A questão é esta: Habituei-me a ver o tremoceiro amarelo utilizado para azotar os solos arenosos. Mas a semente desta planta é pequena, do tamanho da lentilha, pouco mais, preta, pintalgada de branco.

O tremoço que comemos, suponho, é fruto do tremoceiro azul.

Estou errado?

Antecipadamente grato pela resposta que puder dar.

Paulo Araújo disse...

Tanto o tremoceiro azul (Lupinus angustifolius) como o amarelo (L. luteus) são espontâneos em Portugal; ocasionalmente, podem ser semeados para melhorar o solo e talvez para forragem (não tenho porém a certeza disso, pois algumas espécies de tremoceiro são tóxicas para o gado). O tremoceiro que dá os tremoços habitualmente consumidos é o Lupinus albus, que em Portugal só existe como planta cultivada (e que, apesar do nome, nem sempre dá flores brancas).