31/08/2011

Orelhas frias



Cerastium ramosissimum Boiss.

Nomes vulgares: nenhum registado (o nome em inglês para as plantas do género Cerastium é mouse-ear chickweed)
Ecologia e distribuição: solos silícicos mais ou menos arenosos, em altitudes acima dos 500 m; presente no sul da Europa, de Portugal até à Turquia, e também no norte de África
Distribuição em Portugal: Beira Alta, Beira Baixa, Douro Litoral, Minho e Trás-os-Montes
Época de floração: Março a Agosto (dependendo da altitude)
Data e local das fotos: Maio de 2011, estrada de Seia para a Torre, um pouco acima da Lagoa Comprida
Informações adicionais: plantas com hastes de 20 a 25 cm, muito ramificadas; flores pequenas, com cerca de 1 cm de diâmetro


Cerastium ramosissimum Boiss.

Nomes vulgares: nenhum registado (o nome em inglês para as plantas do género Cerastium é mouse-ear chickweed)
Ecologia e distribuição: solos silícicos mais ou menos arenosos, em altitudes acima dos 500 m; presente no sul da Europa, de Portugal até à Turquia, e também no norte de África
Distribuição em Portugal: Beira Alta, Beira Baixa, Douro Litoral, Minho e Trás-os-Montes
Época de floração: Março a Agosto (dependendo da altitude)
Data e local das fotos: Maio de 2011, estrada de Seia para a Torre, um pouco acima da Lagoa Comprida
Informações adicionais: plantas com hastes de 20 a 25 cm, muito ramificadas; flores pequenas, com cerca de 1 cm de diâmetro

30/08/2011

Têucrio lusitano



Teucrium salviastrum Schreb.

Não sei se também vos acontece: quando lemos «endemismo lusitano», invade-nos uma curiosidade que não se sacia com a mera leitura das Floras. E, se nos damos conta que o período de floração está quase no fim, é um lufa-lufa até viajarmos para algum dos lugares onde a planta já foi observada. Mais ainda se uma tal preciosidade é uma das (apenas) quinze espécies do género Teucrium que são espontâneas em Portugal. Um tal afã levou-nos a uma ladeira muito íngreme, forrada de cascalho solto, em Fajão, na serra do Açor, para vermos este endemismo do centro e norte de Portugal, que ocorre entre os 600 e os 1900 metros de altitude. O fotógrafo destemido, qual cabrito, não hesitou. Mas havia poucos exemplares, e em todos eles já as flores estavam secas.

Avançámos esperançosos para o plano B. Na ficha de uma visita de estudo da Sociedade Portuguesa de Botânica a escarpas e prados do Marão, lemos a promessa de encontrarmos esta planta, cuja floração, em teoria, decorre entre Junho e Agosto. Embora a data limite das inscrições estivesse já vencida, ainda havia vagas (abençoados os portugueses indiferentes a estas iniciativas) e pudemos participar. Depois de subirmos uma encosta, avistámos dois ou três pés com magníficas flores rosadas. Contudo, como têm notado, o Verão este ano anda amuado e, nesse dia e naquela escarpa, esteve especialmente trombudo. Resultado: tocámos nas folhas, reparando como são coriáceas mas acetinadas, com margens crenadas e face inferior esbranquiçada; apreciámos as inflorescências com duas flores em cada nível, viradas para o mesmo lado; e louvámos as belos cálices corcundas (de uns 6 mm) e as corolas bilabiadas, agasalhadas exteriormente pelo que nos pareceu algodão, com o lábio maior pintado de lilás. Mas, para nosso desalento, o frio e o nevoeiro fustigaram-nos o bastante para inviabilizar qualquer foto.

Quando o destino insiste em contrariar-nos, é avisado não guardar por mais tempo o trunfo na manga. Seguimos, portanto, para a serra da Estrela. Ali também a metereologia nem sempre sorri ao visitante, mas é fácil encontrar plantas na berma da estrada, numa corridinha com o carro à vista. Talvez não haja, por esse mundo, montanha tão bem servida de acessos; por vezes nota-se mesmo algum exagero em prol do nosso conforto, quiçá em detrimento de plantas e bichos. Deixemos isso, porque o passeio foi um regalo. As populações de Teucrium salviastrum que se exibiam aos estradeiros formavam tapetes extensos e estavam no auge da floração. Depois, mais acima na montanha, voltámos a vê-lo em fendas de rochas, mas os exemplares eram de menor porte e havia cabras prontas a comê-los.

Brotero, que publicou uma nota sobre esta planta em 1827, poderia ter sido o seu primeiro descritor. O naturalista alemão Johann Christian Daniel von Schreber (1739-1810), que estagiou em Upsala com Lineu, adiantou-se-lhe em 1773, mas não sabemos se a viu e onde.

A origem do nome Teucrium não está estabelecida. As fontes hesitam entre dois gregos famosos: Teukros, rei de Tróia; ou Teucro, filho de Télamon e Hesione, meio-irmão de Ájax, perito no arco e na flecha. Plínio não esclarece, apesar de exemplificar a génese deste nome com o par Achilles-Achillea. Já o latim salviastrum não levanta dúvidas: alude à semelhança (astrum) das folhas e flores desta planta com as de algumas salvias (como a S. officinalis L.).

A Flora Ibérica indica pólio-montano como designação vernácula portuguesa do T. salviastrum; porém, segundo os autores de Portugal Botânico de A a Z, esse é o nome comum do T. polium L.: mais uma vez, um endemismo português parece não ter nome nosso.

29/08/2011

Três semanas na serra


Barragem do Viriato — Penhas da Saúde

Embora não tenhamos guardado o nome do vencedor, este ano procurámos estar informados sobre a Volta a Portugal em Bicicleta. As visitas que planeávamos à Serra da Estrela explicam este interesse um pouco displicente: é que não queríamos de todo apanhar a caravana velocipédica na subida à Torre. Assim, as nossas visitas aconteceram todas antes de 13 de Agosto. Ainda lá não voltámos depois disso porque convém dar tempo para que o tradicional lixo da berma da estrada (garrafas de plástico e restos de merendas) seja recolhido.

Em cerca de meia dúzia de visitas espalhadas por quatro meses, e com a preciosa ajuda de alguns amigos, foi tanto o material acumulado que nos vemos compelidos a reservar não uma nem duas, mas três-semanas-três para um especial Serra da Estrela. Sem intenção de respeitar a ordem cronológica, sucede ainda assim que as fotos deste primeiro fascículo trazem as cores da Primavera — que, no patamar intermédio da serra, atinge o seu auge na primeira quinzena de Maio, com a urze e o tojo a comporem o característico mosaico amarelo e roxo. Lá para baixo já os narcisos se despediram; mais acima, ainda há gelo por derreter.


Phalacrocarpum oppositifolium (Brot.) Willk.

Juntando-se ao mato bicolor e às discretas violetas amarelas, uns vistosos malmequeres brancos completavam a paleta primaveril. Escaldado por episódios anteriores, o fotógrafo, não querendo arriscar uma identificação errada, esteve tentado a ficar-se pela contemplação, mas os malmequeres pareceram-lhe tão especiais que acabou por apontar-lhes a objectiva. Em boa hora o fez: o Phalacrocarpum oppositifolium é um endemismo ibérico que, em Portugal, surge apenas nas montanhas do norte e do centro, em regra não abaixo dos 1000 metros de altitude. E o iberismo não se fica por aqui, já que a única outra espécie do género, Phalacrocarpum hoffmannseggii (que se distingue da anterior por ter folhas menos recortadas), é também um exclusivo peninsular, restrito no nosso país a uns poucos locais em Trás-os-Montes.

Pela folhagem e pela cor das inflorescências (que têm até 5 cm de diâmetro), o Phalacrocarapum oppositifolium poderia confundir-se com a camomila (Matricaria recutita L.) e com outros vulgares malmequeres de flor branca. Uma distinção essencial, porém, como aliás indica o epíteto específico, é ele ter folhas opostas, enquanto que a generalidade das asteráceas as tem alternadas. Além do mais, as brácteas das inflorescências têm um friso acastanhado e penugento que é distintivo (ver quarta foto).

Indica Franco na sua Nova Flora de Portugal que o P. oppositifolium frequenta fendas de rochas e encostas pedregosas. Na realidade, as suas preferências de habitat são mais variadas, pois na Serra da Estrela ele também se encontra, e com alguma abundância, em orlas de bosques.

26/08/2011

Saudades das ilhas



Scabiosa nitens Roem. & Schult.

O suspiro-roxo é um dos cerca de 70 endemismos açorianos (espécies, subespécies ou variedades) e está protegido pela Convenção de Berna e pela Directiva Habitats — não porque seja muito raro (está porém em declínio em algumas ilhas) mas porque a sua ecologia é ainda mal conhecida. Saúda-se tal precaução entre nós, mais habituados a lamentar o prejuízo enquanto corremos afoitos atrás das compensações.

É uma herbácea perene, lenhosa na base, que chega perto dos 50 cm de altura, com flores lilases e folhas glabras e brilhantes (o latim nitens significa precisamente luzidio), dispostas em rosetas semelhantes às da europeia Scabiosa columbaria L. Esta, segundo Hanno Schäfer (Chorology and Diversity of the Azorean Flora, Dissertationes Botanicae, 2003), é um antepassado plausível da planta açoriana. Está presente em todas as ilhas, com excepção da Graciosa — mas, segundo H. Schäfer (Flora of the Azores — A Field Guide, 2.a edição, 2005), poderá estar extinta no Faial —, e cresce em falésias, praias de calhau rolado, matos costeiros, pastagens de baixa altitude e prados húmidos de montanha abaixo da floresta de nuvens.

O leitor fará a fineza de a comparar com estas outras escabiosas do continente.

25/08/2011

Furalha malfurada


Hypericum foliosum Aiton

Uma das plantas endémicas açorianas que melhor resistiu à ocupação humana e ao avanço das espécies exóticas foi este hipericão robusto e avantajado que, pelo porte (pode chegar a 2 m de altura) e pelo aspecto geral, faz lembrar o hipericão-do-Gerês (Hypericum androsaemum). Deve contudo reconhecer-se que o hipericão açoriano (a que os ilhéus chamam furalha, malfurada ou milfurada) é o mais vistoso e bem proporcionado dos dois, não sofrendo de discrepância entre o tamanho das folhas e o das flores.

O H. foliosum leva a sério o preceito darwinista de que para sobreviver é preciso adaptar-se. Além de frequentar assiduamente o pouco que resta da floresta natural das ilhas, também é visto em plantações de criptomérias e em matas de incenso (Pittosporum undulatum), em falésias e encostas, em bermas de estrada, e até, como planta pioneira, em taludes resultantes de derrocadas.

Dada a sua ubiquidade, é algo surpreendente que só o tenhamos visto florido uma única vez, no último dia da estadia na ilha das Flores, em Junho. As visitas anteriores ao arquipélago tinham sido a outra ilha (Terceira) e num mês já tardio (Outubro), mas Junho parecia perfeito, pois os manuais prescrevem, para o H. foliosum, um período de floração de Abril a Junho. Mas a verdade é que nas Flores não é assim: no princípio de Junho está ainda tudo atrasado. Foi só a baixa altitude, no norte da ilha, que vimos uns poucos arbustos com floração incipiente — um feliz encontro só possível por os aviões não terem voado nesse dia.

24/08/2011

Ratos & orelhas



Cerastium azoricum Hochst. [sinónimo: Cerastium vagans subsp. azoricum (Hochst.) Govaerts]

Nomes vulgares: orelha-de-rato-dos-Açores, Azorean mouse-ear chickweed
Ecologia e distribuição: endemismo açoriano exclusivo das Flores e do Corvo; vive em falésias costeiras, encostas íngremes e húmidas, quedas de água e bordas de pastagens, em altitudes inferiores a 600 m
Época de floração: Junho a Agosto
Data e local das fotos: Junho de 2011, ilha das Flores
Informações adicionais: planta ramificada, com hastes até 40 cm de comprimento e flores de uns 2 cm de diâmetro; apesar de não ser incomum nas Flores, o facto de só existir no grupo ocidental do arquipélago torna-a vulnerável

23/08/2011

A cavalo branco não se olha a cor




Centaurium scilloides (L. fil.) Samp.

Escolhemos visitar a ilha das Flores no início do Verão para podermos ver a versão albina do Centaurium scilloides — uma forma que, sendo rara no continente, é a única que ocorre em todas as ilhas dos Açores. Também aqui esta planta perene prefere habitats húmidos, ravinas e rochas, não é exigente com a qualidade do substrato e é resistente ao sal e à maresia. Apreciando invernos e verões amenos, é mais frequente nas zonas costeiras e na floresta laurissilva entre os 400 e os 700 metros de altitude. As flores, em geral solitárias, medem cerca de 2 cm de diâmetro. Apesar de o período de floração ser longo e de este centauro constar da lista vermelha em França e Inglaterra, crê-se que só não está em regressão no norte de Espanha e nos Açores.

A cor das corolas e as folhas um pouco mais estreitas são as únicas diferenças detectadas entre os espécimes continentais e os insulares. Por isso, a proposta de considerar a variante branca como uma subespécie (C. scilloides subsp. massonii (Sweet) Palhinha) não vingou. E, naturalmente, houve quem questionasse o seu parentesco com as plantas do continente. Esta espécie é endémica da costa atlântica do oeste europeu, entre Portugal (onde se restringe ao norte) e as ilhas britânicas, e só nos Açores não dá flores cor-de-rosa. Ora a componente genética responsável pela cor branca (ou melhor, pela ausência do rosa) é, como em outros géneros, recessiva. E portanto, admitindo que a planta açoriana, cuja presença nas ilhas se crê ser anterior à ocupação humana, tem um antepassado europeu, como chegou ela às ilhas e por que é a versão recessiva, à partida com baixa probabilidade de dominar, a única que ali sobrevive?

Como em muitos capítulos da História, há boas conjecturas mas não ainda uma resposta conclusiva. Fizeram-se aturadas experiências, claro. Revelaram que uma só destas plantas pode produzir num ano mais de 11 mil sementes, um terço das quais mantém a viabilidade e a capacidade de flutuar no mar durante pelo menos quinze dias. Uma vez aportada a uma das ilhas (fosse trazida pelas marés ou por aves marinhas), o vento, o mar e os pássaros certamente ajudaram na colonização das outras, o que justificaria que todas as plantas açorianas sejam de flor branca. E há registos de plantas albinas na Galiza e outras com flores de um rosa esbatido na Cantábria e na Normandia. Mas estes estudos não chegam para decidir se a planta açoriana teve origem no continente — embora sugira que o sentido inverso é menos plausível — nem se a viagem, a ter existido, foi directa. E não explicam por que razão (evolutiva, por adaptação a novos polinizadores, ou outra) só há a versão albina nas ilhas; nem por que não consta da flora da ilha da Madeira.

A abreviatura (L. fil.) Samp. no nome desta espécie indica que foi primeiro descrita (em 1782, como Gentiana scilloides) por Carl von Linnaeus (1741-1783), botânico sueco com o mesmo nome do pai, que participou numa expedição botânica à Europa ocidental entre 1781 e 1783; e que essa designação foi corrigida mais tarde (1913) por Gonçalo Sampaio.

22/08/2011

Semana das Flores


Lagoa Comprida — ilha das Flores

Quem se imagina já de malas aviadas para o paraíso na Terra, materializado em paisagens de sonho numa ilha quase incólume, talvez deva ser avisado de que nem só de beleza vive o homem. Com uma densidade populacional de 28 hab/Km^2, seis vezes inferior à de São Miguel, a ilha de Flores é a mais esparsamente povoada dos Açores. É também, excluindo o Corvo com os seus 400 habitantes, aquela onde mora menos gente: quatro mil pessoas. Como se diz no linguajar moderno, a falta de massa crítica é um problema. Que não haja multiplexes de cinema para preencher o tédio dos fins-de-semana é um inconveniente menor na vida dos ilhéus. Afinal, em todo o arquipélago só em Ponta Delgada, cidade já com pinta de metrópole, é que existe tal entretenimento. Bem mais grave para os florentinos é a falta, não apenas de um hospital, mas de consultas médicas de especialidade. Casos que poderiam ser de rotina são encaminhados, pelo centro de saúde da ilha, para o Hospital da Horta: duas vezes 230 Km de avião, dias inteiros perdidos para uma consulta de poucos minutos. Ou, tratando-se de mulheres grávidas, quatro ou mais semanas longe de casa, no Faial, à espera do dia do parto. Nas Flores, um dos custos paradoxais da insularidade é não se poder nascer na ilha.

O nosso assunto, porém, é outro; e, tanto na paisagem como na vegetação, as Flores são o mais apurado resumo do arquipélago açoriano. É uma ilha compacta, rectangular, com 16 Km de extensão de norte a sul e 12 Km de leste a oeste. Ao longo da costa, desenvolvem-se vertiginosas falésias de duzentos a trezentos metros de altura, cortadas por inúmeras cascatas; subindo para o centro da ilha, encontramos crateras emolduradas por vegetação cerrada, autênticas florestas virgens à escala liliputiana. Das estradas, modestas e com poucas rectas, há umas que atravessam bosques, como a que vai de Santa Cruz às Lajes, e outras, pelo interior da ilha, rodeadas de pastagens que se perdem na ondulação dos montes. Tudo isto envolto no mistério de uma névoa intermitente e regado por uma chuva quase diária.

Na ilha das Flores, menos transformada pela acção humana, é fácil encontrar certas plantas nativas açorianas que, nas demais ilhas, estão reduzidas a pequenos núcleos ou refugiadas em lugares inacessíveis. Um bom exemplo é a Platanthera azorica, que já quase desapareceu do Faial e do Pico e cuja ocorrência hoje em São Miguel é incerta. Outro é a Veronica dabneyi, ressuscitada nas Flores depois de presumivelmente extinta no Faial.

Para melhor sublinhar o mérito florístico das Flores, e para encorajar outros naturalistas, amadores ou profissionais, a visitar a ilha, mostramos esta semana mais algumas das plantas que lá observámos em Junho. Com uma ou outra excepção, trata-se de espécies endémicas açorianas que existem na generalidade das ilhas do arquipélago. Todas elas, por possuirem parentes próximas no continente, ilustram o carácter marcadamente europeu da flora açoriana.

Bellis azorica Hochst. ex Seub.

A margarida-dos-Açores (Bellis azorica) é, vê-se-lhe bem pela cara, prima da vulgar bonina dos nossos relvados (Bellis perenis). Com hastes rastejantes de não mais que 20 cm de comprimento, distingue-se da sua congénere pelas inflorescências mais pequenas, por ser mais hirsuta, e por ter folhas caulinares e não apenas basais.

É improvável, contudo, que o leitor alguma vez se veja na necessidade de recordar estes detalhes para saber se está perante uma espécie ou outra. É que a Bellis azorica, apesar de só não ocorrer em três das ilhas (São Miguel, Santa Maria e Graciosa), é uma das plantas mais raras e ameaçadas da flora endémica açoriana. Pouca gente a encontrará por acaso; ou, encontrando-a, terá dúvidas sobre a sua identidade. Ao contrário da sua prima continental, que encontrou em habitats criados pelo homem (os relvados de jardim) o seu lugar de eleição, a margarida-dos-Açores é pouco ou nada adaptável e não tolera ambientes degradados. Os poucos núcleos remanescentes da planta, que floresce de Junho a Julho, localizam-se em ravinas, crateras e florestas húmidas de louro e cedro. Os exemplares das fotos vivem junto à Lagoa Comprida, sob a protecção de um atarracado cedro-do-mato (Juniperus brevifolia) que, com assinalável belicosidade, dificultou quanto pôde o trabalho do fotógrafo.