28/07/2012

Joio-do-trigo

Agrostemma githago L.


As searas ou os campos de milho que ainda encontramos pelo país têm em geral um período de repouso depois da colheita, pousio aconselhável para se recuperar a qualidade do solo. Nesse meio tempo, algumas herbáceas pouco exigentes aproveitam para se disseminar, garantindo alguma diversidade nas leiras durante o Verão. Porém, poucas sobrevivem ao combate que se segue. Para erradicarem plantas que consideram daninhas ou infestantes (e algumas são-no, podendo, como a da foto, estragar o sabor dos cereais se as suas sementes se misturam com eles em quantidades elevadas), os agricultores abusam de herbicidas, condenando igualmente a terra e os cursos de água. Com esse procedimento, chegou a vez de a cravina das searas, antes presença frequente em todas as províncias portuguesas, se tornar uma planta rara. Infelizmente, o seu futuro incerto não pode ser tido como uma vitória da agricultura.

O género Agrostemma (quase à letra, grinalda dos campos) é nativo da região mediterrânica e tem apenas mais uma espécie, a turca A. gracilis Boiss., usada como ornamental. A das fotos é planta anual, erecta e alta (atinge um metro de altura) mas pouco ramificada e de flores solitárias. Os caules e folhas são penugentos e têm um tom verde-acinzentado. As flores podem ser brancas, mas têm sempre cerca de cinco centímetros de diâmetro, longos cálices tubulares com dez «costelas» salientes e cinco lacínias foliáceas, além de cinco pétalas com forma de unha e mais curtas do que as sépalas, a rodear dez estames e cinco estiletes. O fruto é uma cápsula que se abre por cinco veios. (Esta preferência pelo número 5 é comum, talvez seja mera economia na adopção de formas que permitam, ainda assim, alguma simetria.)

3 comentários :

Carlos aGUIAR disse...

Olá
O género Agrostemma tem o seu solar no mediterrâneo oriental. Esta A. githago, muito provavelmente, é estrangeira; terá vindo pela mão do agricultor proto-histórico ou romano, distribuidores activos de plantas daninhas pela bacia mediterrânica. Hoje ameaçam-nos as Cortaderia, as Acacia e as Hakea. No passado, com a mesma sensação de impotência, assistiu-se à chegada de plantas diabólicas - da A. githago, da Centaurea cyanus ou do Chrysanthemum segetum, por exemplo -, com as técnicas agrícolas contemporâneas reduzidas a belíssimas flores-do-campo.

Maria Carvalho disse...

Obrigada pelo seu reparo. É interessante saber como chegaram cá algumas das plantas daninhas, e pertinente o alerta que nos deixa: embora algumas delas nos pareçam agora à beira de desaparecer, e nos inclinemos a lamentá-lo, elas podem ter sido, e voltar a ser, infestantes muito nocivas. O que o texto sublinha, contudo, é outro aspecto: este controle também é ruinoso porque, infelizmente, as técnicas agrícolas contemporâneas são demasiado agressivas e não distinguem exótico de autóctone.

Carlos M. Silva disse...

Olá
Apenas duas vezes vi esta planta e apenas no interior onde,suponho,a agricultura ainda extensiva lhe dá tempo de germinação!Por cá,norte litoral ou noutras regiões não terá qualquer hipótese (leigo a falar!)
De facto,leigo que sou,municiado de uns livrecos generalistas,foi com satisfação que encontrando-a pela pela 1ª vez,em 2009,no trilho a caminho do Castro de Vilar de Galegos(Douro) a confrontei com o que via no guia de flora mediterrânica que carregava.A sensação de poder dizer 'É esta!' é imperdível e espero nunca a perder! Depois e apenas este ano a voltei a ver já em maior quantidade) exactamente na zona geográfica deste post.
Pode ser 'diabólica' mas é de um rosa belíssimo!

Abraços
Carlos M. Silva