17/07/2012

Sopa de espinhos

Rhamnus lycioides subsp. oleoides (L.) Jahandiez & Maire


Se um dos nomes vernáculos deste arbusto, espinheiro-preto, parece apropriado — pois a planta é provida de espinhos e tem uma tonalidade mais sombria que outros arbustos igualmente aculeados — já o outro, fura-panelas, suscita perplexidade. Será que alguém tentou fazer sopa com ele e os espinhos romperam a panela? Tratando-se de uma planta algo tóxica (as suas bagas, apesar de apreciadas pelos pássaros, são desaconselhadas para os humanos), o acidente só pode ter sido providencial.

O espinheiro-preto, arbusto semi-caducifólio de crescimento lento, tem o aspecto desgrenhado que as fotos documentam e não costuma exceder um metro de altura. Distribui-se pelas duas bandas da bacia mediterrânica, da Península Ibérica à Turquia e de Marrocos ao Egipto, e é um dos dois do seu género espontâneos em Portugal. O outro, Rhamnus alaternus ou aderno-bastardo, é componente habitual dos matos mediterrânicos do centro e sul do país, e distingue-se do bem menos frequente R. lycioides pelas folhas com margens dentadas e pela ausência de espinhos. Ambos têm preferência por terrenos secos, mas o espinheiro-preto é quase exclusivo dos calcários. Outro traço comum é o aspecto das flores, pequenas e amarelo-esverdeadas, com as sépalas, que são quatro no R. lyciodes e cinco no R. alaternus, a fazerem as vezes das inexistentes pétalas.

Das seis subespécies de Rhamnus lycioides, só a oleoides, que já foi espécie autónoma sob o nome R. oleoides, tem presença confirmada em Portugal. Em Espanha e nas ilhas Baleares ocorre também a forma típica da espécie (subsp. lycioides), que apresenta folhas consideravalmente mais estreitas.

6 comentários :

Ana disse...

Durante as observações que fiz na recolha de dados para a minha tese de mestrado tinha um aderno-bastardo como companhia. Uma bela companhia! Era uma alegria reencontrá-lo todos os dias.

Carlos M. Silva disse...

Olá
Comentara o post seguinte com uma das duas pastas do PNSAC aberta,a de 2009,quando ao olhar para esta,acho que também a vi;nem me atrevo a dizer,aqui, a soberba de lhe ter dado um outro nome e de uma outra família.
Uma pergunta: as pétalas das flores são 4 ou 5 (e com 4-5 estames) e dobram para baixo?
Se for a mesma (o que nem isso garanto!) talvez a tenha fotografado um pouco mais tarde (em 04/Abr)!
Cumprimentos
Carlos M. Silva

Paulo Araújo disse...

Olá, Carlos.

Obrigado pelo comentário. De facto troquei os números: este é que costuma ter quatro "pétalas" (e quatro estames), e o R. alaternus tem cinco de cada. Já fiz a correcção. Embora os dois ocorram no PNSAC, o R. alaternus é muito mais comum.

Abraço,
Paulo

Carlos M. Silva disse...

Olá
Eu é que agradeço pois não terá sido este mas o outro, já com flores abertas e daí a minha pergunta.
Obrigado
Carlos M. Silva

Unknown disse...

Boa tarde!

só uma pequena nota: em "Portugal" há que referenciar também o Rhamnus glandulosa Ait. ("sanguinho"), um endemismo canário-madeirense relativamente raro. No Continente pode observar-se em certas coleções botânicas e ainda no Parque das Nações (Lisboa).
Cumprimentos,

João Pinho

Paulo Araújo disse...

Caro João Pinho:

Obrigado pelo reparo. De facto desconhecia a existência desse arbusto madeirense.

Saudações,
P.V.A.