04/09/2012

O amarelo que faltava


Centaurea ornata Willd.



Entre as centáureas, predominam as cores vizinhas do roxo, com mais ou menos matizes de rosa, magenta, azul ou branco. A minoria que resta optou por flores amarelas. Dividido, desse modo, o mundo em duas cores, verificámos que por aqui nunca se tinha visto uma centáurea amarela, pecado grave porque até há um endemismo português neste grupo. Porém, a sua distribuição restringe-se às longínquas serras costeiras do sudoeste, e nós tivemos de nos contentar com um endemismo ibérico: o cardazol, herbácea perene que em Espanha parece ser frequente, tendo em conta os registos do Anthos, mas que por cá se avista pouco.

Há algum tempo que sabíamos onde a procurar. Como ela aprecia solos pedregosos em sítios áridos e secos, lugares que à primeira vista parecem inapropriados para plantas mas que à segunda nos surpreendem agradavelmente, bastava encontrar um terreno inculto sem uso recente, com entulho, sim, mas abençoado com raridades botânicas. O leitor já adivinhou? Esse mesmo. Em Julho, as amplas bermas desse parque de estacionamento pareciam pintadas de amarelo vivo, tão saudável e florida estava a população desta «cigarra» naquele recanto. As plantas eram altas, com cerca de 70 cm de altura, ramosas e a deixar pouco espaço à vegetação concorrente, algumas com frutos acetinados cheios de papilhos brancos. Como é comum neste género, a folhagem é espinhosa — repare, pela quarta foto, na unha-espinho com que terminam os folíolos — assim como as brácteas dos capítulos florais.

A Nova Flora de Portugal (vol. II, 1984) refere a divisão desta espécie em duas subespécies: a ornata, sobretudo do nordeste, centro-este (onde a vimos, e onde se inclui também o Sabugal) e sudeste; e a interrupta, com algumas pequenas diferenças nas folhas e no invólucro exterior da inflorescência, que prefere os climas mais quentes e mediterrânicos do sul e da bacia do Alto Douro.

1 comentário :

Francisco Clamote disse...

Obrigado, Maria, pela lição e pela lembrança.