26/07/2013

Cinerária dos taludes

Pericallis malvifolia (L'Hér.) B. Nord.



A Pericallis malvifolia é uma asterácea endémica dos Açores, não se registando a sua presença apenas na Graciosa, nas Flores e no Corvo. Hanno Schafer propôs na sua tese de doutoramento (Dissertationes Botanicae, 374, 2003) a divisão desta espécie em duas subespécies: a P. malvifolia subsp. malvifolia, a mais frequente e que se vê nas fotos; e a P. mavifolia subsp. caldeirae, de que só se conhecem populações com poucos indivíduos no Faial e na Terceira, e que consta da lista vermelha, elaborada pela IUCN (International Union for Conservation of Nature), das espécies em perigo no planeta. Enquanto não há estudos genéticos decisivos, as duas subspécies distinguem-se, segundo H. Schafer, essencialmente pelo porte (a segunda é mais baixa), pela morfologia das folhas (sem e com aurículas) e pela cor das flores (sempre brancas na subespécie caldeirae).

Tal como sucede com a distribuição do Lotus azoricus, em Santa Maria, ao contrário das outras ilhas, é fácil encontrar a subespécie malvifolia em habitats ensombrados e húmidos, fendas em escarpas, ribeiras, crateras e arribas. É uma planta perene, com caules erectos que podem atingir os 150 cm de altura. As folhas são arredondadas, de página inferior ligeiramente tomentosa e cinzenta. Os capítulos de flores agrupam-se em corimbos densos de belo efeito e, curiosamente, numa mesma população podemos encontrar pés de flores brancas junto de outros com flores rosadas ou arroxeadas. Que vantagem retirará a planta desta dupla ou tripla coloração?

Quem teve a infeliz ideia de espalhar hortênsias pelas ilhas, e agora as faz exibir em postais ou campanhas de publicidade como o que há de genuíno nos Açores, bem pode envergonhar-se por não ter usado, para enfeitar as bermas de estrada, o malvavisco, igualmente vistoso e, mais importante, nativo das ilhas. O malvão-da-rocha é uma espécie protegida por lei, assim como o Parque Natural de Santa Maria, criado em 2008 por decreto em simultâneo com estruturas análogas nas outras ilhas. A teia legal é, em geral, estendida para limitar o acesso a habitats que exigem conservação; infelizmente não é suficientemente célere ou poderosa para impedir a perda da biodiversidade no arquipélago. Veja-se o exemplo da invasão catastrófica, mas impune, pela conteira (Hedychium gardnerianum), outra planta que o leitor certamente conhece dos postais turísticos dos Açores.

1 comentário :

bea disse...

Espero que os proprietários do blogue estejam ou tenham estado a gozar férias nestes lugares aprazíveis. que me deixam vontade de lá ir um dia:) quem sabe.

Tão bonitinhas essa flores que a natureza planta e faz crescer. julgava eu que as hortenses eram flora natural. E em sua redonda graça não desmerecem.
A conteira desconheço. Se a vi, não me foi apresentada:)
Obrigada pela completude da mostra.