18/10/2013

Musgo desdentado

Huperzia suberecta (Lowe) Tardieu


Os ingleses chamam fir clubmoss a esta planta, ou a outra com ela aparentada. É um nome que se presta a certos equívocos, como muitas vezes sucede com as designações vernáculas. Assim, clubmoss, que se aplica indistintamente a todas as licopodiáceas, sugere que estas plantas, cujas hastes erectas lembram vagamente um bastão (club), pertencem à classe dos musgos (moss). Na verdade, embora haja musgos (como o Polytrichum commune, vulgar em habitats encharcados) que com elas têm alguma semelhança, as licopodiáceas, ao contrário dos musgos, são plantas vasculares, representando por isso um estádio evolutivo mais avançado. São, ainda assim, dos mais primitivos organismos vegetais à face da Terra, anteriores aos fetos (com os quais costumavam ser emparelhados) e a todas as plantas que produzem flor.

O bastão-de-musgo não é pois um musgo, mas o nome fir clubmoss, que preferimos não tentar verter na íntegra para português, é bem apropriado ao evocar o abeto (fir). A Huperzia e a sua prima Lycopodiella cernua, ambas comuns em proporções variáveis nas sobras de floresta nativa que pontuam o arquipélago açoriano, fazem de facto lembrar coníferas em miniatura, e é fácil confundi-las com rebentos de criptoméria, espécie florestal dominante nas ilhas.

A Huperzia selago, que existe no norte da Península Ibérica mas não chega a Portugal, é a única representante europeia de um género que globalmente inclui mais de 300 espécies sobretudo tropicais. Tão semelhante ela é às plantas açorianas (e madeirenses) que vários foram os autores a defender que nas ilhas atlânticas ocorriam simples variedades da planta continental. Contudo, a espécie mais comum nos Açores, H. dentata, que também ocorre, embora raramente, na Madeira, apresenta um detalhe morfológico que a diferencia facilmente da H. selago: as suas folhas têm numerosos pequenos "dentes" ao longo das margens. A segunda espécie insular, H. suberecta, que hoje exibimos no escaparate, inverte papéis com a sua congénere quando muda de arquipélago, pois é rara nos Açores e comum na Madeira. As folhas desdentadas (confira nas fotos acima) e a presença ocasional de bulbilhos asseguram que o observador atento (e munido de lupa) não confundirá a H. suberecta com a H. dentata. Mais difícil é explicar, se descontarmos os mais de mil quilómetros de oceano, o que separa a H. suberecta da H. selago. Dizem os peritos que é o tamanho das hastes — as da primeira podem chegar aos 40 cm, as da segunda ficam aquém dos 25 cm — e a ornamentação dos esporos, pormenor apenas visível ao microscópio.

Ainda que as duas espécies açorianas coexistam na serra de Santa Bárbara, na ilha Terceira, a H. suberecta é aquela que tem maiores exigências de humidade, surgindo apenas nas zonas mais altas e enevoadas das ilhas, em geral bem acima dos 500 m. A H. dentata, por seu turno, desce até aos 300 m, e na ilha das Flores é comum mesmo em bermas de estrada.

3 comentários :

Anónimo disse...

bom dia, ha dias enviei um comentario para pedir ajuda onde poderia encontrar feijoeiras para comprar mas não obtive resposta, ainda estou a procura se me poderem ajudar agradecia. obrigado

Paulo Araújo disse...

Este não é um blgue de jardinagem nem de horticultura, e de facto não sabemos onde pode comprar esse arbusto. Mas talvez os comentários nesta página sejam de alguma ajuda.

bea disse...

Muito prazer, musgo desdentado. Ouso dizer que o meu musgo, vulgo musgo do presépio, nada tem a ver contigo, mas é um veludo ao tacto e exibe um verde impossível nas minhas bandas. Além disso, lembra-me o Natal que é uma festa de família.
Por isso, não te ofendas, tu até tens a tua beleza, não digo que não,mas prefiro aquele verde rasteiro de humidade, com terra agarrada, que apanho com o sacho de mil cuidados para não partir. E onde ponho uma manjedoura com palha colada onde deito um Menino Jesus em pelota, todo satisfeito e livre do papel frisado em que o guardo ano inteiro. E julgo ser uma alegria para todos os intervenientes, eu inclusa.

E portanto. Renovo as desculpas, que o post é para ti e não quero estragar mais o teu dia a babar ternuras por outra planta. Tens razão. Não se faz.

Fica bem.

BFS