21/12/2013

Margarida dos brejos

Eclipta prostrata (L.) L.
Comunicar eficientemente sobre ciência a uma audiência não especialista sem usar jargão científico em demasia é tarefa árdua em que muitos cientistas vacilam. À força do hábito de conversar entre pares, parece-lhes faltar o rigor que a linguagem técnica assegura; e não é raro iniciarem palestras de divulgação com um incómodo pedido de desculpas aos que já sabem tudo por terem de perder o seu precioso tempo com um discurso excessivamente elementar destinado aos outros, os leigos. Ainda que o conhecimento das plantas não se possa reduzir a um aborrecido dicionário de termos técnicos, há que recorrer a eles de tempos a tempos, como quando aprendemos uma língua nova. E, para identificar ou distinguir plantas, há que reparar nas diferenças (mais ou menos técnicas) de cada uma, certos de que essas peculiaridades estão lá para benefício da planta e não para conveniência dos estudiosos.

O leitor já sabe que uma margarida não é uma flor mas um coro delas servindo uma notável estratégia de disseminação: o arranjo de florículos é tão denso que é possível que uma só visita de um polinizador baste para fertilizá-los todos; caso algum não seja polinizado, recorre sem embaraço à auto-fertilização. As sépalas que resguardam cada florículo são essencialmente folhas modificadas, e na família das margaridas é usual que o cálice por elas formado se transforme num penacho. Esta estrutura, o pappus, parece um pára-quedas com a semente suspensa na base, e assim é facilmente levado pelo vento a colonizar novos torrões.

Algumas margaridas, porém, não apresentam pappus, e outras têm sementes com dois formatos, com ou sem poupa: a primeira com o dever de povoar novos espaços; a segunda destinada a perpetuar a espécie junto à planta mãe. Sem o tufo de cabelinhos a ajudar, o trabalho de dispersão cabe por inteiro à semente. Algumas recorrem a um gancho ou espinho (ou seja, a um só cabelinho que enrijou) para se agarrarem ao pêlo de animais ou à nossa roupa e irem à boleia para paragens distantes; outras são muito leves, seja pelo material fino de que são feitas, seja por cavidades de ar interiores, lugares que pareciam destinados a sementes que abortaram para não sobrecarregarem o conjunto; outras ainda exibem um design aerodinâmico, rolando facilmente se empurradas pela chuva ou pelo vento até encontrarem um cantinho jeitoso para germinarem.

As margaridas do género Eclipta são assim chamadas pela ausência de pappus nas suas sementes (ou têm-no muito rudimentar). Nas fotos pode ver-se um conjunto delas, em tom verde, junto a uma inflorescência; quando maduras, destacar-se-ão quase cilíndricas e castanhas. De origem tropical mas esporadicamente naturalizada no nosso país, a Eclipta prostrata é anual, de floração tardia, apresentando um hábito prostrado e ramoso. Aprecia margens de riachos, arrozais e, em geral, sítios encharcados. O exemplar das fotos é vizinho do rio Guadiana em Elvas.

1 comentário :

Carlos M. Silva disse...

Olá

E de vez em quando ..vejo nomes que nunca lera. Sei que a família me é difícil, mesmo apenas de ver (e nem tudo é ainda possível de ver), a totalidade do que por cá exista. Mas ver aqui espécies, mesmo que exóticas mas já naturalizadas, em alguns recônditos geográficos do país, não deixa de me espantar.

Abraço.
Carlos M. Silva