23/05/2014

Grinaldas minhotas

Spiraea hypericifolia L. subsp. obovata (Waldst. & Kit. ex Willd.) H. Huber
Antes de visitarmos as margens do rio Minho em Melgaço, consultamos o horário das marés. É que, apesar de estar a uns 50 km da foz, estas variações do nível da água também lá se sentem. Nota-se que, depois de o volume de água começar a subir, o nível máximo é rapidamente atingido, mas é longo o intervalo que leva a baixar (impressões sobre a velocidade que ilustram um resultado matemático famoso). Sem este cuidado, resta-nos a arrelia de, uma vez iniciado o caminho, a água de repente nos dar pelos joelhos, ou, se tivermos já chegado à meta, termos de esperar, entre resmungos, que o chão enxugue para podermos regressar.

Programada a jornada para que ela se faça na maré baixa, seguimos pelo leito do rio a descoberto como quem marcha em terra seca. O destino é um rochedo cinzento e silencioso, rodeado de calhau rolado, que é uma ilha na maré cheia mas agora é acessível a pé enxuto. Neste recanto, sem relvados verdejantes nem arvoredo frondoso que dê colorido, pende-nos a atenção para as pequenas coisas. E foi entre inúmeros pés de Allium schmitzii, a rescender a alho como se estivéssemos numa cozinha em pleno vapor, e abundantes rebentos de Vincetoxicum nigrum já com botões de flores de cor castanho-púrpura, que atingimos o bordo da rocha e vimos, pendurado de uma das fendas, o pequeno arbusto das fotos. E, estando nós por certo em maré de sorte, também por ali floriam alguns exemplares de Allium scorzonerifolium.

A planta, com uns 80 cm de altura, lembrou-nos, até pelo perfume, as suas congéneres de jardim (Spiraea cantoniensis ou Spiraea japonica), frequentemente usadas em sebes. A ecologia da Spiraea minhota revela idêntica vocação: ela aprecia estar à margem, seja de rios ou de bosques, desde que haja bastantes rochas a que se agarrar. A outra população desta planta que agora conhecemos está também no norte, junto a um riacho farto que corre num bosque muito bem preservado e com sombra generosa. Este é um habitat escasso ou em declínio por cá, e talvez por isso os registos desta planta em Portugal sejam tão raros.

Nas imagens pode notar alguns detalhes da planta. Por exemplo, que os caules floríferos são arqueados, de modo que as cimeiras de flores parecem flutuar, enquanto os estéreis são erectos. E que as folhas, de textura coriácea, exibem por vezes uns graciosos dentinhos no ápice. As flores são pequeninas — as pétalas medem cerca de 3 mm de diâmetro, tanto quanto os estames; na última foto, a maioria dos estames ainda não se desenrolou e forma uma coroa engraçada no centro das flores.

2 comentários :

Rafael Carvalho disse...

Spiraea hypericifolia,...
preciosidades que eu ainda não tive oportunidade de contactar.
Cumprimentos.

bea disse...

Tão lindas! parecem flores de cerejeira a sair da rocha. Há incríveis naturais.
Parabéns pela paciência de obedecer a marés. E obrigada pelo raminho de flores