11/05/2014

Uma salva ibérica


Salvia sclareoides Brot.


Nesta ocasião, em que todos parecem saber o que é fundamental para a salvação do país, que só por destino não consegue ser salvo por tão habilidosas ideias, vem a propósito mostrar uma Salvia, nome derivado talvez do latim salvus, que significa "salvo", "livre de perigo e dano", e que assim regista a sua fama como remédio. Outrora esteve mesmo em uso uma beberagem de Salvia que se administrava a tardos e a insensatos, para alívio comunitário.

Nos nossos passeios, encontramos em geral apenas duas das seis espécies do género Salvia que ocorrem por cá: a Salvia verbenaca, planta perene e vulgar, presente em quase todas as províncias; e a S. sclareoides, um endemismo da Península Ibérica, bienal ou perene e de ecologia mais exigente, preferindo nitidamente solos calcários; dela só há populações conhecidas na Beira Litoral, Estremadura e Algarve.

Há nelas muito em comum e a S. verbenaca tem tendência a gerar variantes locais, o que nos dificulta a tarefa de as identificar. Para nosso benefício, as Floras reúnem uma lista de dados morfológicos que as distinguem:
  1. Ambas têm uma roseta basal de folhas mas as da S. verbenaca são laciniadas enquanto as da S. sclareoides são crenadas ou serradas, muito rugosas, com aspecto bolhoso e a face inferior penugenta.
  2. Os caules da S. scaleroides são viscosos na parte inferior; na S. verbenaca é a parte superior do caule que pode apresentar pêlos glandulíferos.
  3. A S. verbenaca pode atingir os 80 cm de altura; pelo contrário, a S. sclareoides não costuma ultrapassar os 40 cm.
  4. As inflorescências de S. verbenaca têm mais flores e estas são lilacíneas ou azuladas, um pouco menores do que as de S. sclareoides, que têm corola violácea.
Desafortunadamente, nem sempre as plantas cumprem a diferenciação cromática que os manuais prescrevem. E, pior, raramente encontramos as duas espécies juntas para conseguirmos fazer uma comparação judiciosa. Por isso, na prática, atentamos num outro pormenor. A corola das salvas é bilabiada, com o lábio inferior dividido em três lóbulos, sendo o do meio mais largo. Face a uma salva, notamos se este lóbulo central se dobra vincadamente para trás e se os outros dois estão descaídos, como braços em descanso. Nesse caso, trata-se de um exemplar de S. sclareoides, uma vez que na S. verbenaca o labelo é patente e os lóbulos laterais estão erguidos como orelhas de burro.

No entender de quem regista estas coisas, o nosso povo há muito que não tem dúvidas sobre esta distinção: chama salva-dos-caminhos ou erva-crista à S. verbenaca, mas reserva os nomes salva-do-sul e salva-viscosa-dos-montes para a S. sclareoides.

1 comentário :

bea disse...

Gosto-lhe da cor azul-arroxeada. Lembra uma flor de jardim a que chamávamos "esporas".