25/11/2014

Erva dos cinco dedos


Castro Vicente — rio Sabor ao fundo
Visitar os afloramentos calcários de Castro Vicente ou das minas de Santo Adrião é como entrar numa livraria esmerada e sem lacunas: lá encontramos os clássicos, os de leitura obrigatória, os recomendados, os de elevada qualidade, os dignos de apreço, os ainda não lidos, os menos virtuosos e alguns já preparados para serem esquecidos. A impressão que nos domina é a de que nunca conseguiremos ler tudo, e de que nem todos os livros têm por destino envelhecer numa biblioteca. Resta-nos o consolo de saber que, apesar de a biblioteca de plantas conter infinitas possibilidades, que o acaso proporcione e a natureza consinta, ela será sempre finita.


Dorycnium pentaphyllum Scop.


A planta das fotos, uma herbácea airosa e robusta de flores minúsculas, é uma aquisição com alguns meses que tem estado na pilha das novidades a aguardar a sua vez. Foi boa ideia esperarmos até agora para a mostrar: nestes dias cinzentos de aguaceiros, voltar ao Verão e ao nordeste pelas imagens de plantas tem sido um exercício revigorante. O que se nota nestes pequenos arbustos perenes? A folhagem, que é de um verde acetinado; as folhas com cinco folíolos por vezes desiguais; e as inflorescências em capítulos de flores com corola de estandarte e asas brancas. O fruto é uma vagem ovóide com uns 5 mm de comprimento, a lembrar uma azeitona com costura.

Estes exemplares estavam em solo pedregoso, exposto ao sol e em sítio árido. Ainda assim, chegavam a uns 80 cm de altura e faziam uma bela sombra a muitas orquídeas e a mais algumas preciosidades. Em Portugal continental há registo de mais duas espécies deste género, o D. rectum (abundante em juncais e em margens de lagoas e charcos, cujos frutos parecem salsichas) e o D. hirsutum, planta do litoral algarvio que ainda não vimos.

3 comentários :

bea disse...

Agora que o cinza dos dias implantou de raiz, é na verdade um agrado olhar essa encosta de nuvens permeadas de sol bem como o verde garrafa natural das folhas. Mas até a floração nos faz bem aos olhos. Lembra-nos tempos que hão-de chegar. Porque, embora finita, a natureza é cíclica.

MPorto disse...

Fica aqui um dos livros esquecidos que anda pelas prateleiras lá do fundo! ;-)

Maria Carvalho disse...

bea: Este pedaço de natureza é bom para uma pausa nesse ciclo, onde os olhos podem repousar a atenção.

Miguel: A propósito de plantas raras, talvez fosse possível juntar, a algumas das fichas das espécies na Flora-On, um símbolo que indicasse se é vulnerável, se está ameaçada ou em risco de extinção. Seria uma primeira versão do tão necessário livro vermelho da flora.