16/02/2016

O cravo dos cravos


Dianthus armeria L.
Algumas herbáceas hesitam entre um regime anual ou um ciclo bianual se o habitat tem poucos recursos ou é de elevado risco. O ano extra que por vezes se concedem serve para poupar as sementes que, desconfiam elas, não germinariam naquele ano em boas condições. Esta estratégia permite-lhes resistir em solos com poucos nutrientes, aguentar climas agrestes ou sujeitos a longos períodos de seca, e perdurar em locais improváveis. O cravo das fotos é um exemplo desse esforço de sobrevivência em condições extremas, nem sempre bem sucedido. As plantas do género Dianthus que ocorrem em Portugal, país rico em cravos silvestres, alguns deles endémicos, necessitam de boa exposição solar e, por isso, é frequente encontrarmos grandes populações deles em escarpas, taludes de estrada, dunas, clareiras de matos, afloramentos rochosos em leitos de cheia ou zonas pedregosas de montanha. Mas a espécie D. armeria é mais exigente, e requer prados e terrenos baldios ou em pousio na orla de bosques, com substrato arenoso ou argiloso. Além disso, tende para a indolência, e só algum distúrbio do solo no Inverno parece encorajar a germinação das sementes. Não surpreende, por isso, que os registos desta espécie em Portugal estejam confinados a meia dúzia de sítios no nordeste (embora a Flora Ibérica o assinale também na Beira Baixa) e sempre com número reduzido de indivíduos. A mesma redução de efectivos é notória em Inglaterra, Escócia e Irlanda, onde as populações decresceram para níveis alarmantes após a conversão de muitos prados em terrenos arados, florestados ou impermeabilizados — mas onde, por certo, recuperará através do zelo louvável de ecologistas, botânicos e amadores que costumamos testemunhar em outras ocasiões.

Vimos estes exemplares em Campo de Víboras, num dia de Julho quente e com muita luz, a conviver com zelhas, peónias e orquídeas. O mais alto media cerca de 60 cm, sem requebros nem a formar moitas como é comum noutras espécies de Dianthus; notavam-se-lhe bem as folhas opostas (duas por nó) e penugentas, e as rosetas basais de cor verde nítido em vez do tom glauco mais frequente na folhagem deste género. Havia poucas flores (têm cerca de 15 milímetros de diâmetro), que não são perfumadas mas são muito vistosas pelo rosa purpurino das pétalas maculado de sardas. Podem ver na última foto que elas se agrupam em cimeiras justas como vassouras, protegendo-se com enormes brácteas.

O nome vernáculo em inglês é Deptford pink, atribuído em 1633 pelo naturalista Thomas Johnson que, neste local perto de Londres, o confundiu o Dianthus deltoides. Em português não se conhece designação comum; o título acima refere-se apenas ao facto de os epítetos Dianthus e Armeria significarem ambos cravo.

1 comentário :

bea disse...

É um cravo raro, de difícil observação. Muito prazer, Beatriz Santos.