13/12/2016

Verbasco com flocos


Verbascum pulverulentum Vill.


No ciclo anual das plantas de berma de estrada, o amarelo estival dos verbascos vem substituir nos taludes o cor-de-rosa primaveril das dedaleiras. Claro que isso se passa nas estradas de um país imaginário que gostaríamos que fosse o nosso, porque no país real é sinal de brio encharcar os taludes com herbicidas. Mas aqui e ali há sempre uma distracção que as plantas aproveitam, pequenos oásis que extrapolamos, sonhadoramente, para o país inteiro.

Não que os verbascos espontâneos em Portugal (há oito espécies nativas, a que se soma uma introduzida) sejam exclusivamente estradeiros. O que há é espécies (Verbascum virgatum, V. thapsus, V. sinuatum e até o V. pulverulentum, hoje na montra) com versatilidade suficiente para não desperdiçarem, no meio da selva urbana, os recantos de solo livre que existam em bermas de auto-estrada ou por entre os nós rodoviários. Outras espécies, com preferências de habitat mais definidas, são menos vistas. Por exemplo, o V. giganteum (endémico da Península Ibérica) e o V. litigiosum (endémico de Portugal continental) só se dão em areias litorais.

Quase todos os verbascos são plantas bienais, desenvolvendo uma roseta basal no primeiro ano e florindo exuberantemente, com vasta produção de sementes, no segundo e último ano de vida. A distinção entre espécies faz-se atendendo sobretudo ao carácter da inflorescência (se é simples ou ramificada, se as flores surgem espaçadas ou muito juntas, se os estames são glabros ou cobertos por penugem densa, etc.) e à forma e indumentação das folhas. O Verbascum pulverulentum, quando plenamente desenvolvido (é capaz de atingir 1,5 m de altura), tem uma arquitectura inconfundível, que faz lembrar um sumptuoso candelabro (veja a 1.ª foto). Outro modo fiável de o reconhecer, denunciado aliás pelo epíteto pulverulentum, é que ele está recoberto por uma penugem branca que se vai desprendendo em flocos.

Distribuído por boa parte da Europa ocidental, incluindo a Grã-Bretanha, mais raro na região mediterrânica, o verbasco-pulverulento (nome que, sendo embora adaptação directa do nome científico, é português correcto) surge em Portugal com maior frequência no interior norte e centro; no portal Flora-On não há registos da espécie a sul da linha que vai de Santarém a Portalegre. As plantas que fotografámos, na margem portuguesa do rio Minho em Monção, parecem ter-se instalado lá por engano, tão longe estão do grosso das populações portuguesas da espécie. Contudo, o portal Anthos dá conta de observações antigas do verbasco-pulverulento na margem galega do rio. A última, em 1953, foi na povoação de As Neves, a apenas 10 Km do local onde agora o vimos.

1 comentário :

bea disse...

Já tenho encontrado os verbascos, têm flores alegres e parecem-me couves agressivas que rebentam em flores como numa desculpa herbal.

Mas neste momento do ano, ao contrário do usual, os campos estão verdejantes ou amarelos, colinas e colinas a entremear tons. Tão bonitinha a natureza em explosão invernal que mais parece primaveril. Será que o engano não lhe vai custar caro?! As ovelhas, espantadas com a abundância, empanturram de cor e imagino-lhes os interiores em amarelo esverdeado ou verde a amarelar. Passei hoje por elas e garanto, os cordeiros têm perninhas contentes, uma fragilidade de linha que saltita. Uma doçura. Que, na Páscoa, vai acabar na nossa mesa.