17/08/2005

Poema das coisas belas

As coisas belas,
as que deixam cicatrizes na memória dos homens,
por que motivo serão belas?
E belas, para quê?

Põe-se o sol porque o seu movimento é relativo.
Derrama cores porque os meus olhos vêem.
Mas por que será belo o pôr do Sol?
E belo, para quê?

Se acaso as coisas não são coisas em si mesmas,
mas só são coisas quando coisas percebidas,
por que direi das coisas que são belas?
E belas, para quê?

Se acaso as coisas forem coisas em si mesmas
sem precisarem de ser coisas percebidas,
para quem serão belas essas coisas?
E belas, para quê?

António Gedeão, Poemas póstumos (1987)


Foto: pva 0506 - Gloriosa superba «Rothschildiana» - Kew Gardens

3 comentários :

Unknown disse...

Lembrei-me de vocês hoje, ao ler este poema de Olavo Bilac:

Velhas Árvores

Olha essas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores mais novas, mais amigas.
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...

O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem.

Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem.

Unknown disse...

!!!
Já me perguntei muitas vezes essas perguntas todas! Obrigada pelo poema, não conhecia.

SEMPRE disse...

É linda a mensagem aqui apresentada.Estas são as coisas belas da vida e as que valem realmente a pena.