Salsa-veneno na Primavera
Iris pseudacorus L. / Oenanthe crocata L. — ribeira do Espírito Santo (Miramar — V. N. Gaia)
Entre Abril e Maio, a ribeira do Espírito Santo, em Miramar, é uma fita multicolor com predominância do amarelo e do branco, a que se acrescentam discretas pinceladas de laranja, azul e vermelho. Efeito da Primavera, que não se conforma com as limpezas indiscriminadas a que a vegetação das margens é regularmente sujeita. Há plantas que sabem baixar a cabeça no momento certo, ficando reduzidas a rizomas ou bolbos, e só a levantam quando os dias amenos anunciam tréguas temporárias na guerra que lhes é movida. Pois mesmo o mais cego dos roçadores acharia estranho que o mandassem decepar os lírios. Os lírios-amarelos (Iris pseudacorus), que são presença habitual em zonas alagadiças, funcionam como alerta amarelo contra limpezas fora de época.Falta averiguar do branco que, de tão exuberante, quase não deixa entrever a fita de água nem sempre azul encravada entre as duas margens. Será salsa? Parece demasiado crescida para isso. Umas fotos mais podem ajudar.
![](https://s5.postimg.cc/60af4bdlz/Oenanthe-crocata-02.jpg)
Oenanthe crocata L.
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![](https://s5.postimg.cc/l1hazblpj/Oenanthe-crocata-04.jpg)
Além do grande tamanho (pode chegar ao metro e meio de altura), o que mais chama a atenção nesta planta, de seu nome Oenanthe crocata, é a forma das inflorescências: várias dezenas de pedúnculos que fazem lembrar varetas de um guarda-chuva irradiam de um mesmo ponto na extremidade de cada haste; e cada pedúnculo sustenta um cacho achatado de várias dezenas de flores. Ou seja, cada inflorescência é ela própria um colectivo de pequenas inflorescências. A planta cumpre a duplicar os requisitos para pertencer à família das umbelíferas — o que, longe de ser caso único, todavia a distingue de plantas de floração mais modesta como a Sanicula europaea.
Se a hiper-inflorescência pode ter uns 15 cm de diâmetro, já as flores que a compõem andam pelos 2 mm, e os frutos pouco maiores são. Para distinguirmos a Oenanthe crocata de outras umbelíferas, o que é de suma importância dado tratar-se de uma planta mortalmente venenosa, melhor será atendermos a outras características: aos sulcos que marcam o caule (visíveis na penúltima foto) e ao recorte variável das folhas, que podem ter segmentos de triangulares ou ovados a quase lineares. A ecologia também dá uma ajuda: a salsa-dos-rios (um dos seus nomes comuns) prefere, já se adivinha, sítios húmidos, embora nem sempre tenha o pé mergulhado na água. É uma planta perene, dotada de raízes tuberosas, vulgar de norte a sul do país e, mais geralmente, em toda a Europa central e ocidental.
4 comentários :
Numa aldeia do concelho de Viana do Castelo, o povo chama a esta planta "PARRACHIS". Noutra do concelho de Ponte de Lima, a cerca de 20 Km daquela, é designada de"PERRICHEU".
Também é uma planta que o gado come, sem, aparentemente, lhe ser prejudicial à saúde.
Pergunto. É a planta venenosa para os animais?
Muito grato pelos ensinamentos. gado bovino e
Obrigado pela informação. Não conhecia esses nomes - mas de facto esta planta tem muitos, como «canafreicha», «embude» e «rabaça».
O que o gado normalmente come sem problemas são as folhas da planta. Mas o caule e sobretudo a raiz são muito mais venenosos - o bastante para matar uma vaca.
Encontrei-a na zona da Várzea na Foz do Arelho e disseram-me ser aipo selvagem , mas conhecendo o aipo que se compra fiquei com sérias duvidas pelo que a dissequei e fotografei pedindo ajuda no grupo do Facebook e em boa hora o fiz antes de arriscar a experimentar. Obrigada pela informação tao completa no seu blog
No concelho de Moimenta da Beira Chama-se sabuga. É a raiz em forma de bolbo (batata) que é venenoso. Matou Há muitos anos atrás uma burra a meu pat, um animal ainda jovem e corpolento. Ainda se chamou o veterinário, mas nada se pôde fazer.
Faustino Silva
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