Jojoba em Porto Santo
O Museu da Baleia na Madeira, localizado na vila piscatória do Caniçal, regista a história da caça às baleias no mar do arquipélago da Madeira e, curiosamente, inclui algumas sementes de jojoba como peça em exibição. A respectiva legenda explica porquê. O óleo de cachalote foi usado durante longos anos na indústria cosmética, parecendo insubstituível pelas suas propriedades químicas únicas e pelos benefícios inexcedíveis na hidratação e protecção da pele. A descoberta do óleo de jojoba, que tem afinal características químicas e usos semelhantes, permitiu a salvação de muitas baleias. O óleo de jojoba é uma cera líquida extraída das sementes dos arbustos de Simmondsia chinensis, uma espécie nativa dos desertos do México e Arizona que hoje vos mostramos.
![](https://i.postimg.cc/tJGhQg59/Simmondsia-chinensis-03.jpg)
![](https://i.postimg.cc/7h1Sxys0/Simmondsia-chinensis-04.jpg)
O nome do género homenageia o botânico inglês Thomas William Simmonds, mas o epíteto específico é um engano. O botânico que o escolheu (Johann Link) misturou inadvertidamente amostras da Califórnia com algumas chinesas, e achou que estava a nomear uma planta colectada na China. Infelizmente, as regras da taxonomia ditam que, mesmo errado, o primeiro epíteto específico registado é o que tem prioridade.
A jojoba (nome de inspiração índia) chega a uns 2 metros de altura, exibe uma copa densa de folhas opostas, coriáceas e com uma penugem branca, dispostas num arranjo espiralado que, dizem, facilita a entrada do vento (como se ele precisasse) que assim dissemina o pólen entre os ramos, onde se aninham as flores femininas. Esta é uma espécie dióica, com flores masculinas amareladas (4ª foto) e mais vistosas do que as femininas (3ª foto), decorrendo a floração em Dezembro. O fruto é uma semente castanha quando madura, com elevada percentagem do tal óleo milagroso.
![Porto Santo: ponta da Calheta](https://i.postimg.cc/QxspfHCb/Ponta-da-Calheta-04.jpg)
As fotos são de uma colina arenosa da Ponta da Canavieira, em Porto Santo. Nesta lomba perto do mar, o solo tem a cor da argila e desfaz-se ao toque. Na década de 90 foram ali plantados inúmeros arbustos de jojoba para fazer face à intensa erosão. É que, durante os primeiros três séculos depois de ter sido descoberta pelos portugueses, a vegetação original da ilha foi sendo dizimada, fosse para dar lugar a campos de cultivo e pastos, fosse pela grande necessidade de madeira e combustível. Aposta-se agora em substituir essa floresta desaparecida por plantas resistentes a ventos fortes num ambiente semi-árido, na esperança de que possam segurar o solo e, a longo prazo, induzir um aumento de pluviosidade na ilha, apoiando desse modo o retorno do coberto vegetal autóctone. Gastando pouca água, preferindo solos pouco profundos e bem drenados, suportando elevados níveis de salinidade, não exigindo cuidados especiais de cultivo e apreciando um clima mediterrânico seco, a jojoba parece ideal para controlar a desertificação na ilha de Porto Santo.
Apesar do risco, por se tratar de espécie exótica, à jojoba pede-se também que ajude a aumentar a biodiversidade em locais onde outrora só se plantou o pinheiro mediterrânico Pinus halepensis, num regime de monocultura que outrora se adoptou, não sem perigo como hoje sabemos, nos pinhais de Leiria.