Potências de dois
Moenchia erecta (L.) G. Gaertn., B. Mey. & Schreb. subsp. erecta
Conrad Moench (1744-1805), botânico alemão, elaborou, nos intervalos das suas tarefas académicas, uma lista da flora local presente nos campos e jardins da região onde vivia. Se tivesse um blogue, por certo nos teria legado pequenos trechos descrevendo as plantas que ia encontrando, nomeando inclusive algumas até então desconhecidas. A designação genérica da planta que hoje aqui mostramos foi criada em sua homenagem.O género Moenchia abriga três espécies de herbáceas anuais, nativas da região mediterrânica, centro e sul da Europa. São plantas frágeis e pequeninas, de folhas opostas e sésseis; as flores de quatro pétalas brancas, cada uma com cerca de 5 milímetros de comprimento por 2 de largura, nascem protegidas por sépalas verdes pontiagudas e de margens hialinas. Apreciam relvados, campos cultivados e, em geral, terrenos arenosos bem irrigados. Como florescem cedo, logo em Fevereiro, é fácil não as vermos quando os dias soalheiros chegam e com eles recomeçam os passeios pelo campo.
Na Península Ibérica ocorre apenas uma espécie de Moenchia, de talos erguidos e pouco ramosa, mas, para compensar, tem uma distribuição ampla e surge em duas formas, que diferem essencialmente no número de estames: 4 na subespécie erecta, a mais frequente por cá, e 8 na subespécie octandra, de que se conhecem populações apenas na metade sul do país. Quanto aos estiletes, o número é igual, 4, em ambas. Como a natureza não tem de se pôr em harmonia com o que nos parece um padrão matemático, o tema não é tão simples como parece: há registo de populações com algumas plantas que dão flores de 4 estames e outras de 8. Resta saber que vantagem retira a planta desta oscilação, ou se ela é resultado de uma mutação fortuita que ainda não estabilizou.
![](https://s5.postimg.cc/onzkiltwn/Casal-Velho.jpg)
Casal Velho, serra dos Candeeiros
Os exemplares da foto estavam num anfiteatro magnífico em Casal Velho, na serra dos Candeeiros, em companhia de Asplenium ruta-muraria, Arabis sadina e uma população invulgarmente numerosa de Narcissus calcicola, além de uns poucos pés de Barlia robertiana e Orchis mascula (para as restantes orquídeas, todavia, era ainda cedo e teremos de voltar a este monte branco em breve).
2 comentários :
Deve ser um passeio bonito, esse de procurar flores em lugares que a leigos parecem improváveis, mas estão afinal nas probabilidades delas.
e estas, de folhas sésseis - não é bonito o termo? sesseis; ausência de pecíolo; directas e sem mediação - são lindas; o pormenor de pétalas e sépalas desencontradas é um encanto.
e boa semana
que maravilha...
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