África aqui tão perto
O sudeste da Península é a região com maior quantidade de endemismos e maior variedade de habitats da Europa. Para isso muito contribui uma orografia invulgar, com várias serras próximas da costa, bafejadas por ventos marítimos e com um clima ameno. A serra Nevada, que em Abril ainda exibe os cumes cobertos de neve, ilustra bem a biodiversidade notável desta região. Em conjunto, porém, essas montanhas isolam alguns locais das correntes húmidas do mar Mediterrâneo. Aí a chuva é muito escassa e registam-se temperaturas elevadas durante todo o ano. O processo é conhecido: o vento vindo do mar, carregado de humidade, sobe a montanha, larga no topo a água que transporta e, ao descer, está reduzido a ar muito quente e seco. Estão assim reunidas as condições para se instalar a aridez e o solo ralo, onde a vegetação mais tenaz é herbácea. Parece ser esta a origem do deserto de Tabernas, na província de Almería: uma vasta extensão de margas e arenitos, encaixada entre a Serra de los Filabres, a norte, e a Serra Alhamilla, a sueste. Visitámos este deserto em Abril, depois de duas semanas em que se registou alguma precipitação em Almería. Com sorte, pensámos, poderíamos vê-lo florido.
E, sim, encontrámos uma paisagem extraordinária, recheada de endemismos, alguns de óbvia ascendência africana, outros que são versões, adaptadas à secura e salinidade, de espécies comuns noutras paragens.


Esta Linaria é uma herbácea anual que não ultrapassa os 20cm de altura, de corola branca, por vezes levemente riscada de violeta, e esporão longo. Tem semelhanças, mas também diferenças morfológicas importantes, com a nossa Linaria elegans. É um endemismo raro do sudeste de Espanha.




A Koelpinia linearis é uma asterácea anual com flores de cor amarelo-limão, muitas folhas fininhas e longas, e um fruto de formato bizarro. Aprecia prados semi-desérticos, e a sua distribuição inclui também o Médio Oriente e o norte de África. A única população conhecida na Europa é a do sudeste de Espanha. Curiosamente, no recanto arenoso do deserto de Tabernas onde a vimos acompanhavam-na inúmeros pés de Cistanche phelypaea.




A Strigosella africana é também uma espécie anual, cuja designação oficial na Flora Iberica é Malcolmia africana. O aspecto geral é o de uma planta de porte pequeno (não mais de 40 cm de altura), com folhagem contorcida pela secura e lindas (mas diminutas) flores rosado-violáceas que amadurecem amarelas. Vimo-la no bordo de um caminho argiloso, a enfrentar estoicamente o sol com os talos rígidos ramificados a partir da base e cobertos de pêlos protectores.
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