Limónios lilases de La Gomera
Mesmo que não aspire às estrelas do guia Michelin, um restaurante com brio pode, por apenas cinco euros, dar um toque de requinte às suas instalações sanitárias. É esse o preço de venda dos ramalhetes de limónio numa certa cadeia de supermercados — nas floristas ficam algo mais caros, mas talvez sejam de produção biológica. Assenta sempre bem uma jarrinha com limónios ao lado da saboneteira, e igual enfeite pode ser usado nas mesas das refeições se elas forem espaçosas. Nesse caso, porém, o estabelecimento já incorre em despesas significativas de decoração, necessariamente reflectidas na factura apresentada ao cliente.
A vantagem dos limónios face a outras flores mais vistosas como lírios ou crisântemos é que se trata de um investimento duradouro. Enquanto que as outras, se não forem artificiais, murcham em poucos dias, os limónios permanecem viçosos semanas a fio. Como é que eles conseguem? Na verdade, as flores propriamente ditas são de curta duração, e são os cálices multicoloridos (azuis, roxos, amarelos, brancos), feitos de uma matéria membranosa que parece imperecível, a dar vivacidade ao arranjo.
Em Portugal não somos mal servidos de limónios: contam-se 14 espécies no continente e mais três nas ilhas. Antes que os donos dos restaurantes se organizem para colherem às mãos-cheias inflorescências de plantas silvestres e assim pouparem uns euros, há que ressalvar que os nossos limónios não são apropriados para enfeites: faltam-lhes os cálices vistosos e, de um modo geral, têm inflorescências discretas. São belos nas falésias com o mar ao fundo (pois vivem todos no litoral), mas deixam de o ser quando arrancados e metidos numa jarra.
Com algumas excepções importantes, da mesma pecha sofrem, para bem da sua sobrevivência, a quase totalidade dos limónios ibéricos. Nas Canárias, onde se contam umas vinte espécies, a situação é diferente. Muitos dos limónios canarinos são plantas grandes, com inflorescências muito desenvolvidas, em que o azul ou lilás dos cálices contrastam com o branco das corolas. A sua valia ornamental é evidente, mas quase todos são raros, e a sua colheita (proibida por lei) seria um acto de depredação. Ao contrário do que sucede em paragens continentais, não têm preferência marcada pela beira-mar, vivendo a maioria deles no interior das ilhas, em altitudes muito variáveis que podem alcançar os 1000 metros.

Neste fascículo mostramos dois dos quatro limónios endémicos de La Gomera. Qualquer deles é muito escasso na ilha, e os dois que ficam por mostrar são ainda mais raros. O L. brassicifolium (ilustrado em cima), que encontrámos num par de locais nas imediações do Roque Cano, é uma planta baixa, de não mais que 30 cm de altura, mas de folhas largas — que, como sugere o epíteto específico, são semelhantes às da couve. As inflorescências são amplas, umbeliformes, e as hastes florais são guarnecidas por abas muito largas.
O L. redivivum (ilustrado em baixo), que está restrito a taludes e escarpas da zona central de La Gomera, é bem mais elegante do que o seu conterrâneo, florindo tal como ele de Março a Maio. As suas hastes florais, também elas bastamente aladas, são altas e regularmente ramificadas, atingindo o conjunto cerca de um metro de altura; as folhas são exclusivamente basais, murchando durante a floração. Parece ser prato apetitoso para as cabras assilvestradas que têm vindo a depauperar a flora da ilha: encontrámo-lo com abundância numa ladeira pedregosa protegida por arame farpado, mas do lado de cá da cerca nem um só exemplar sobrara para amostra.




1 comentário :
Beleza! Remota, que aqui nos trazem aos olhos. Obg
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