09/04/2008

Junco-dos-prados

"Menina Custódia, preencha lá essa folha com o número de pirilampos que calcula que existem." E a menina Custódia, com os olhos baixos de castidade, responde: "Senhor presidente, eu não costumo sair à noite, mas, pelo que tenho ouvido zumbir por aí, punha uns 79." "Ponha 99", responde o presidente, "pode ser que ainda tenhamos algum subsídio."

Eduardo Prado Coelho, Público, 11 Setembro de 2003




Luzula campestris (L.) DC.

Em 2003 o Parque Biológico de Gaia solicitou às câmaras municipais que «percorressem matas, pradarias, margens de rios e ribeiros, orlas de campos agrícolas e jardins e assinalassem as suas observações numa folha apropriada.» Objectivo: registar a presença e distribuição de pirilampos em território português. Nesse ano o país indignava-se com o recente escândalo ligado à Casa Pia e, em Setembro, fazia contas à calamitosa onda de incêndios. Mas nem tudo foram más notícias: temos um número muito razoável de pirilampos distribuídos de uma forma harmoniosa. Ao menos isso, suspirámos, mesmo que, por este processo, não se evitasse que algum pirilampo fosse contado duas ou mais vezes.

Há outros seres luzentes que, como os vaga-lumes, se põem em sincronia sem ajuda de maestro. Para cortejar o vento, seu polinizador, a Luzula campestris está em flor. É ver agora este pequenino junco cosmopolita nos prados húmidos porque a meio do Verão desaparecerá, para só ressurgir na Primavera de 2009.

A palavra luzula deriva da italiana lucciola, vaga-lume. E as fotos da inflorescência, que tem entre 4 e 12 flores, justificam a escolha desta designação. As seis pétalas castanhas lembram as asas de um insecto; os seis estames, em posição oposta a cada pétala, são amarelos como lâmpadas fluorescentes; e o estilete contém três estigmas cintilantes, como um mini-relâmpago emitido por cada flor. Mais tarde, as cápsulas sedosas dos frutos atrairão as formigas, que farão o favor de dispersar as sementes em troca deste espectáculo de fogo-de-artifício e de algum alimento.

4 comentários :

Estranho Fulgor disse...

Os mistérios da Luz...

Convido-a a visitar a minha nova morada da poesia.

Até sempre

Miguel Jorge disse...

O que se aprende por aqui...que poético.

Anónimo disse...

Já não é possível aceder à listagem das árvores e respectivos nomes cujas fotos têem sido postas neste blog ao longo do tempo?
Helena Andrade

Paulo Araújo disse...

Essa listagem estava muito desactualizada, e como não tínhamos pachorra para a manter resolvemos suprimi-la. Mas, se quiser encontrar uma árvore específica, pode fazer pesquisa no blogue, usando a caixa no canto superior esquerdo. Caso saiba a família botânica a que a árvore pertence (ou, nalguns casos, o nome científico), também pode usar as etiquetas na coluna da esquerda.