Ao contrário do Leucojum autumnale, com flores no Outono e fácil de avistar mais ou menos por todo o país, o L. tricophyllum, de floração primaveril, prefere o sul, e mesmo na Península Ibérica restringe-se à região sudoeste. Parece ter relutância em ultrapassar a barreira do rio Tejo. Por isso, fomos nós vê-lo ao Ribatejo.
Leucojum trichophyllum Schousb. [= Acis trichophylla (Schousb.) G. Don]
Demos com ele a formar tapetes branquinhos em taludes arenosos de berma de estrada e em clareiras de pinhais, e notámos logo como as flores são bastante maiores do que as do
L. autumnale. Pendentes (para a última foto foi preciso levantar-lhes o queixo), solitárias ou dispondo-se em umbelas de duas a quatro por escapo, com um pedicelo longo e seis tépalas brancas, as flores exibem uma
espata escariosa tal como os narcisos e os alhos (género
Allium), e que é típica da família
Amaryllidaceae. A cor dos talos (avermelhados no
L. autumnale) e a da estrutura reprodutora na base das tépalas (verde no
L. tricophyllum) são outros pormenores que distinguem estas duas espécies. Além deles, observe-se que a folhagem, que é basal, surge no
Leucojum trichophyllum antes
antes da floração, quando no
L. autumnale são as flores que nascem
primeiro.
Em Espanha há registo de mais duas espécies de
Leucojum: uma delas,
L. valentinum, também de floração outonal, é endémica da região de Valencia; a outra,
L. aestivum, com flores entre Fevereiro e Junho a que os ingleses chamam com graça
Summer snowflakes, é nativa do sul da Europa, incluindo o sul de Inglaterra, e ilhas Baleares. Em Portugal pode ver-se (já em Fevereiro) em alguns velhos jardins.
Como já aqui antes comentámos,
estudos morfológicos e genéticos publicados em 2004 fundamentam uma alteração na classificação taxonómica destas duas espécies de
Leucojum, que deveriam transitar para o género
Acis (um nome talvez inspirado no mito de Acis e Galatea). Esta diferenciação não é, contudo, recente. Ela é referida na obra
The Paradisus Londinensis (1807), de R. Salisbury, e por Robert Sweet que, em 1829, usou oficialmente o nome
Acis autumnalis para designar o
Leucojum autumnale. Desde 2014, são aceites as novas denominações para três das quatro espécies de
Leucojum que ocorrem na Pensínsula Ibérica (
Acis autumnalis,
Acis trichophylla e
Acis valentina), mantendo-se inalterada a filiação do
Leucojum aestivum.