Sempre viva
A serra Nevada, obrigada pelo nome que tem a cobrir-se de neve nas zonas mais elevadas, pelo menos durante o Inverno, não é confundível, seja pelo clima, vegetação ou paisagem, com o interior escarpado da ilha de Tenerife, nas Canárias. As plantas dos cumes peninsulares, se transplantadas para Tenerife, morreriam num curto prazo vitimadas pelo calor, insolação e secura; e as tenerifenhas, se fizessem a viagem inversa, não sobreviveriam ao frio e à neve. É inesperado que locais tão contrastantes abriguem plantas claramente aparentadas, mas é isso mesmo que sucede com os géneros Sempervivum e Greenovia. O primeiro está representado na serra Nevada por uma única espécie, S. minutum (nas fotos), e o segundo (que alguns autores incluem em Aeonium) conta com três espécies em Tenerife, sendo Greenovia aizoon a nossa favorita. Se nos abstrairmos da cor das flores (rosadas no Sempervivum, amarelas na Greenovia), estas duas plantas são óbvias versões do mesmo modelo: rosetas basais, mais ou menos esféricas, de folhas imbricadas; hastes florais erectas, revestidas de folhas a fingir de escamas; e inflorescências terminais compactas, formadas por flores com numerosas pétalas rodeando profusas coroas de estames. Qualquer aficionado de suculentas gostaria de as cultivar lado a lado, mas os diferentes requisitos ecológicos inviabilizam tal desejo: num lugar onde uma delas pudesse viver ao ar livre, a outra exigiria ambiente climatizado.
O género Sempervivum engloba umas 40 espécies, amiúde difíceis de destrinçar, distribuídas pelas montanhas do norte de África, Médio Oriente e Europa, a que se somam centenas de variedades cultivadas. Já aqui falámos do S. vicentei, que vimos na Cantábria, e várias outras espécies são frequentes nas cadeias montanhosas do país vizinho. A sua completa ausência em território português é difícil de entender. É verdade que as nossas montanhas continentais são baixotas, ficando aquém de todas as grandes ou médias montanhas espanholas, mas várias das espécies peninsulares de Sempervivum ocorrem também a altitudes moderadas. O S. tectorum e o S. vicentei, por exemplo, admitem viver a altitudes rondando os 800 metros, onde a neve é fenómeno raro. Essa injustiça na repartição de valores naturais entre os dois países impõe-nos uma ida a Espanha sempre que queiramos admirar estas semprevivas e outras jóias botânicas no seu habitat. É uma obrigação que cumprimos com todo o gosto.