30/09/2011

A cantar de galo

Rhinanthus minor L.
O povo chamou-lhe galo-de-crista mas, pensando melhor, mudou para crista-de-galo. O nome científico (do grego rhinos + anthos, isto é, flor nariguda) e um dos adoptados em inglês (cockscomb) também realçam o formato acapelado da flor. E, na arrumação que têm vindo a fazer da família Scrophulariaceae, os taxinomistas decidiram transferi-la para a Orobanchaceae, certamente incentivados pela parecença, sobretudo nas flores, com algumas plantas semi-parasitas desta família. Um ouvido atento, enquanto se sacode o fruto, descobre facilmente o motivo de outra designação vernácula, yellow rattle.

É uma planta anual de lameiros e clareiras de carvalhais, frequente nos prados húmidos e bordos de represas no limite oriental do Gerês, onde o Paulo a fotografou. Ocorre em quase toda a Europa e região mediterrânica; na Península só se encontra na metade norte e, por cá, nas montanhas da Beira Alta, Minho e Trás-os-Montes. Segundo a Flora Ibérica, é a única espécie conhecida em Portugal do género Rhinanthus.

Nos exemplares que vimos, os talos, com listas escuras, tinham cerca de 40 cm de altura, mas a planta pode adicionar-lhes uns dez. A sua presença ajuda, dizem, a manter a biodiversidade: gulosa como é dos nutrientes nas raízes das outras plantas, impede que a erva ocupe todo o solo, assim permitindo, como lhe convém, que outras espécies mais saborosas ali se desenvolvam.

Floresce de Maio a Julho. Ou no Outono, apresentando então algumas diferenças morfológicas de adaptação à estação, característica comum a outras espécies semi-parasitas. Mas a inflorescência em espiga terminal, com flores em tom amarelo-violeta, brácteas grandes com textura papirácea, cálice comprimido lateralmente, corola tubular amarela bilabiada a lembrar uma touca e ápice roxo com dois dentinhos, essa mantém-se.

29/09/2011

A associação do agrião

Cardamine caldeirarum Guthnick ex Seub.
Ao fim de alguns anos a observar plantas silvestres, é inevitável que elas se repitam. Os lugares assiduamente revisitados já não revelam novidades, e quase nos limitamos a saudar distraidamente algumas velhas conhecidas. A mesma sensação de déjà vu que assalta o amador também aflige, e com maior intensidade, o profissional. Portugal é um país pequeno, com uma flora indígena ou naturalizada que não ultrapassará as 4000 espécies. A solução para quem procura coisas novas será demandar áfricas ou orientes inexplorados; ou então (como os fitossociólogos se lembraram de fazer) estudar as associações vegetais. Expliquemo-nos: certas espécies, por terem preferências ecológicas semelhantes, costumam aparecer juntas; o conjunto das espécies que caracteriza um determinado habitat diz-se uma associação vegetal. As associações vegetais recebem nomes alatinados que resultam, em geral, da combinação dos nomes das principais plantas que as compõem; um exemplo é Geranio purpurei-Cardaminetalia hirsutae. A ideia, além de ter permitido uma leitura mais profunda dos espaços naturais, expandiu prodigiosamente o âmbito da erudição botânica. A aritmética é simples: em vez de considerarmos as 4000 espécies separadamente, combinamo-las em grupos de duas, três ou mais. Tomando só conjuntos de duas espécies, obtemos 7998000 possíveis associações vegetais; se preferirmos conjuntos de três, o número sobre para 10658668000 (mais de 10 mil milhões).

Antes que a caixa de comentários se encha de protestos indignados, ressalvamos que nem todas as combinações de duas ou três espécies da flora portugesa configuram associações vegetais plausíveis. Um planta dunar do litoral e outra que viva em lagoas de montanha dificilmente coexistem na natureza. Tirando isso, e tendo em conta os exageros de que alguns fitossociológos são culpados, o exercício não é descabido nem irrealista.

À janela do escritório tenho uma floreira onde três azáleas de folhagem perene sobrevivem há mais de uma década, nunca se esquecendo de florir profusamente em cada Primavera. Costumava arrancar as ervitas espontâneas, mas deixei de fazê-lo com assiduidade e as azáleas não parecem ressentir-se do desleixo. Entre as plantas que colonizaram esse ecossistema semi-natural, o agrião-de-canário (Cardamine hirsuta) destaca-se pela persistência e abundância. O matrimónio entre a herbácea vadia e o arbusto ornamental leva já uns anos, e é justo que se lhe reconheça cidadania socio-taxonómica. Nasce assim a associação Rhododendronion azaleae-Cardaminetalia hirsutae as. nova inéd., até hoje conhecida de uma única floreira num prédio urbano de habitação, mas com potencial para surgir em muitos mais lugares.

A Cardamine hirsuta, que tem algumas semelhanças com o verdadeiro agrião, é uma planta anual oportunista, capaz de ocupar os recantos mais inesperados. Essas plantas omnipresentes podem despertar a nossa admiração pela sua capacidade de sobrevivência, mas dificilmente nos entusiasmam quando deparamos com elas. Foi por isso que pouca atenção prestei quando, na ilha das Flores, me pareceu vê-la em grandes quantidades junto a regatos e escorrências de água. Olhando melhor, vi que a planta açoriana era mais robusta e ramificada, com flores maiores. Tratava-se, de facto, da Cardamine caldeirarum, que é endémica dos Açores - e que, ocorrendo em quase todas as ilhas do arquipélago (a excepção é a Graciosa), chega em algumas delas, mas não nas Flores, a merecer o estatuto de raridade.

Como nos jardins açorianos também se cultivam azáleas, não é impossível nas Flores que algum agrião-de-canário-açoriano lhes vá fazer companhia. À cautela, fica desde já registada a associação Rhododendronion azaleae-Cardaminetalia caldeirarae as. nova inéd. Averiguarei da sua existência in situ numa próxima visita à ilha.

28/09/2011

Por vielas e calçadas

Campanula erinus L.


Nome vulgar: campainhas
Ecologia e distribuição: pastagens anuais, rochas, muros e até (pelo menos no Porto) bermas de passeios; disseminada pela Península Ibérica, bacia do Mediterrâneo e Macaronésia
Distribuição em Portugal: como planta nativa, em quase todo o território continental (com possível excepção do interior centro) e na Madeira; como planta introduzida, nos Açores
Época de floração: Abril a Agosto
Data e local das fotos: Abril de 2011, jardins do Palácio de Cristal, no Porto (foto 1); Junho de 2010, serra dos Candeeiros (fotos 2 e 3)
Informações adicionais: planta anual, com caules até 35 cm (mas em geral mais pequenos) e flores tubulares diminutas, com cerca de 5 mm de comprimento; as folhas alternadas apresentam um recorte característico

27/09/2011

Alho victorino

Allium victorialis L.


Por causa das qualidades da cebola (Allium cepa L.) e do alho (Allium sativum L.), todas as plantas do género Allium têm boa reputação, na horta ou na farmácia. O que hoje mostramos vai ainda mais longe nos benefícios que concede aos que o usam: a crer no relato de William T. Stearn (Dictionary of Plant Names, 1992) sobre a origem do epíteto victorialis, os bolbos deste alho têm a virtude de afastar os espíritos maus das minas, protegendo os mineiros na escuridão dos túneis.

As folhas lanceoladas e a umbela globosa de flores desculpam os que confundem o alpine leek com o alho-dos-ursos. Porém, o A. ursinum L. tem, em geral, menor porte, apenas folhas basais, uma haste floral mais curta (10-45 cm), uma umbela mais lassa e tépalas brancas. E é muito raro em Portugal: só se conhece uma população na serra da Nogueira, em Bragança. O A. victorialis, originário das montanhas do centro e sul da Europa e um pouco mais comum por cá, tem floração mais tardia; as suas flores começam por ser branco-esverdeadas mas amadurecem com um tom amarelo pálido. Ocorre nas serras do Gerês e da Estrela, sob bosques ripícolas de bétulas e salgueiros, ou em zonas rochosas.

Encontrámos estes exemplares junto à ribeira do Forno, a norte de Pitões das Júnias, a cerca de 1140 metros de altitude. Formavam um tapete verde escuro na margem do regato, um recanto de trevas que quase contornámos temerosamente mas por onde os intrépidos montanheiros romperam sem hesitar.

26/09/2011

Morrião dourado

Lysimachia azorica Hornem. ex Hook. [= Lysimachia nemorum subsp. azorica (Hornem. ex Hook.) Palhinha]


Após um intervalo de quatro semanas, regressamos à ilha das Flores e à flora açoriana para fazer dois aditamentos. Neste primeiro mostramos uma das plantas mais comuns em lugares húmidos - o que nas Flores abrange quase a ilha inteira. Aí, de facto, a Lysimachia azorica só está ausente dos pontos mais baixos do litoral. À medida que subimos pela estrada em direcção às caldeiras, o amarelo das suas flores vai-se tornando mais frequente nos taludes; até que, nas turfeiras que se sucedem às pastagens, não há metro quadrado de terreno que ela desaproveite. A única outra planta nativa que com ela rivaliza em abundância é o feto-pente (Blechnum spicant). E a Lysimachia azorica não é apenas nativa: é uma planta endémica açoriana; existe em todas as ilhas do arquipélago, mas não existe em nenhum outro lugar do mundo.

Ou será que existe? A Lysimachia azorica é sósia quase perfeita da Lysimachia nemorum, uma espécie europeia que se distribui do norte da Península Ibérica até à Grã-Bretanha e à Escandinávia, e daí desce até à Itália. Já que a espécie açoriana nem sequer ganhou nome vernáculo, inspiramo-nos naquele que os britânicos dão à sua irmã gémea (yellow pimpernel) para lhe chamar morrião-dourado. A semelhança entre as duas suscita uma pergunta inquietante: não se dará o caso de serem uma e a mesma espécie?

A pergunta não tem deixado de apoquentar os botânicos desde que, em 1817, Jens Wilken Hornemann (1770–1841), director do Jardim Botânico de Copenhaga, cultivou a planta a partir de sementes trazidas dos Açores por um oficial da marinha dinamarquesa. O próprio Hornemann começou por considerar que se tratava da Lysimachia nemorum, mas mudou de opinião e baptizou-a como Lysimachia azorica. No entanto, Moritz August Seubert (1818–1878), na sua Flora Azorica (1844), volta a chamar-lhe Lysimachia nemorum. Em meados do século XX a contenda não estava ainda decidida. Rui Teles Palhinha (1871-1957), estudioso da flora açoriana e autor de um Catálogo das plantas vasculares dos Açores (publicado postumamente em 1966), dedicou-lhe um artigo (Acerca de uma Lysimachia açorense) que apareceu em 1956 no Boletim da Sociedade Broteriana. Conta Palhinha que ele próprio teve uma opinião oscilante sobre o assunto, mas que, depois de observar ao vivo tanto as plantas continentais como as insulares, concluiu que as dois taxónes não configuravam espécies separadas. Entendeu, ainda assim, que as plantas açorianas eram diferentes (caules não tão prostrados; folhas obtusas e de margens recurvadas; flores maiores e de pétalas mais estreitas), e por isso se justificava autonomizá-las numa subespécie. Estava salvo um endemismo açoriano, embora despromovido para uma divisão secundária.

O próprio Palhinha, consciente de que a taxonomia botânica não é uma ciência exacta, parecia adivinhar que a história não terminava aí. Escreveu ele a dado passo: A observação de uma planta é objectiva, mas a sua posição sistemática é totalmente subjectiva. Baseia-se esta, sem dúvida, nos caracteres observados, mas a apreciação desses caracteres e, o que é mais, o seu valor, dependem apenas do critério do estudioso.

O critério do João do Amaral Franco, no vol. II da Nova Flora de Portugal (1983), foi diferente do de Palhinha: segundo ele, o morrião-dourado açoriano não é claramente distinguível da sua versão continental. Estava o enterro consumado: o que existe nos Açores, na opinião de Franco, é a Lysimachia nemorum sem mais, e não uma subespécie.

Numa reviravolta inesperada, não é a opinião de Franco, o patriarca da botânica portuguesa, que hoje em dia prevalece. Nem sequer a de Palhinha. A Lysimachia azorica ressuscitou, já não subordinada à L. nemorum, e surge em todas as listas recentes de endemismos açorianos. Que se terá passado? Alguém com olho mais apurado e prestígio ainda mais firme viu mais e melhor do que Palhinha e Franco? O que aconteceu foi que a taxonomia botânica evoluiu, e não depende tanto, como na época de Palhinha, do critério subjectivo de um estudioso. A evolução é tecnológica: são os estudos genéticos que servem agora para tirar a prova dos nove. Os botânicos alemães Günther Rudolf Heubl e Robert M. Vogt publicaram na revista Mitteilungen der Botanischen Staatssammlung München, em 1988, um artigo (com um título difícil de ler em voz alta: Zyto- und chemotaxonomische Studien an Lysimachia nemorum L. und Lysimachia azorica Hornem. ex Hooker) que parece ter encerrado de vez a discussão. Dizemos parece porque não vimos o artigo: os textos publicados em revistas científicas só estão, em geral, disponíveis ao público que os paga assinando-as. Alguém nos pode ajudar?

Adenda. O artigo de Heubl & Vogt sobre a Lysimachia (o qual, de facto, revalida definitivamente a L. azorica como espécie autónoma, distinta da L. nemorum) pode ser lido aqui (PDF) - muito obrigado a Ricardo Lima pela ajuda.

23/09/2011

Rorela-de-folhas-longas

Drosera intermedia Hayne
Foi numa turfeira na Paisagem Protegida de Corno do Bico que a vimos pela primeira vez. O Lameiro das Cebolas é um habitat raro e frágil, com solo ácido, onde está referenciada a presença de plantas raras ou de distribuição restrita, como a Bruchia vogesiaca e a Menyanthes trifoliata. Está legalmente protegido mas, na prática, apenas guardado por uma cerca de madeira, e cavalos e vacas continuam a frequentá-lo. Talvez a sobrevivência deste ecossistema não seja incompatível com a presença ocasional destes animais, mas não seria mau reforçar a vigilância.

Um lugar assim lamacento serve de recreio a muitos insectos, como convém às orvalhinhas. E do orvalho-ao-sol havia inúmeros pés, até no bordo mais seco do paul. A Drosera intermedia tem um aspecto geral semelhante ao da D. rotundifolia, ambas com rosetas basais e flores brancas de Verão, e podem partilhar o mesmo pedaço de terra (está até registado um híbrido entre ambas). Mas é fácil distingui-las: as folhas da D. intermedia parecem colheres de sopa, graças ao pecíolo longo, e as hastes florais são bem mais curtas do que as da D. rotundifolia.

Muito mais vulnerável que a turfeira de Paredes de Coura é o segundo lugar onde a vimos. Descobrimo-lo a partir de uma fotografia de há uns anos da serra de Valongo. Ao lado da faixa amarela de um estradão de terra via-se uma ladeira com alguns (poucos) pinheiros, alguns (muitos) eucaliptos, um poste eléctrico cinzento e, em fundo, um monte revestido por vegetação rala e desfeado pela cicatriz da extracção de xisto. Num canto improvável, certamente muito menos húmido do que a turfeira das Cebolas, um manto rubro que, ampliado, parecia ser de Drosera. Pouca informação, pensámos, para adivinhar onde fica um sítio assim numa serra cuja paisagem se tem vindo a uniformizar precisamente neste formato de secura, torrões a esfarelar-se, eucaliptos, escavações na pedra e tapetes cerrados de tojo, carqueja e urze a desencorajar outras plantas menos aguerridas. Mas, como sabem, o descanso das férias fomenta devaneios, e lá fomos incréus à procura. O exercício gastou-nos uma tarde, mas fomos recompensados pela surpresa de neste ambiente tão destruído ainda conseguirmos achar contentamento.

22/09/2011

Espargueta com espinhos

Asparagus aphyllus L.
O aspecto deste arbusto não encoraja o seu uso em sopas, pizzas ou saladas: há o justificado receio de os espinhos arranharem a garganta, e os ramos lenhosos não prometem ser de mastigação fácil. No entanto, é mesmo verdade que este espargo silvestre (também conhecido como espargueta) é primo dos tenros espargos tão usados em culinária. Com uma ressalva: os espargos comestíveis (que pertencem à espécie Asparagus officinalis) são consumidos só enquanto rebentos; mal a planta começa a ramificar-se, o caule torna-se lenhoso e impróprio para refeições.

Haverá umas trezentas espécies de Asparagus, quase todas arbustivas, algumas trepadeiras (como as madeirenses A. umbellatus e A. scoparius) e umas poucas usadas como ornamentais (como o A. densiflorus). As três que são espontâneas no nosso território continental (A. albus, A. acutifolius e A. aphyllus) são plantas tipicamente mediterrânicas, próprias de lugares secos; duas delas (A. acutifolius e A. aphyllus) são tão espinhentas e agressivas como o tojo.

Apesar de desempenharem a função fotossintética que costuma caber às folhas, os espinhos (ou cladódios) destes arbustos são na realidade pequenas hastes modificadas que nascem das axilas das folhas - e estas estão reduzidas a escamas que mal se vêem a olho nu.

Informa o terceiro volume da Nova Flora de Portugal que tanto o A. aphyllus como o A. acutifolius se distribuem de norte a sul de Portugal, do Minho e Trás-os-Montes ao Algarve; ambos frequentam matos secos e terrenos incultos ou mesmo ruderais, florescem desde a Primavera até ao Verão, e dão flores pequenas, de cerca de 5 mm de diâmetro. A semelhança entre os dois pode causar alguma confusão, mas uma inspecção cuidada permite distingui-los, seja pelos espinhos (os do A. aphyllus têm comprimentos desiguais, e surgem agrupados em menor número - molhos de três a sete, às vezes solitários, contra dez a trinta do A. acutifolius), seja pela cor dos caules (verdes no A. aphyllus, brancos ou cinzentos no A. acutifolius).

Se a nossa «experiência de campo» vale alguma coisa, forçoso é concluirmos que, pelo menos no norte e centro de Portugal, o A. aphyllus é muito mais comum do que o A. acutifolius (que, aliás, não estamos certos de alguma vez ter encontrado).

21/09/2011

A tilintar em Portugal

Campanula lusitanica L.
Nome vulgar: campainhas
Ecologia e distribuição: distribui-se pelo norte de África e por quase toda a Península Ibérica, desde o nível do mar até aos 1200 metros de altitude, em prados anuais, sebes e terrenos incultos ou cultivados; gosta de locais sombrios mas também se desenvolve a pleno sol
Distribuição em Portugal: todas as províncias (abundante no norte, mais rara no sul)
Época de floração: Abril a Agosto
Data e local das fotos: Abril de 2007 e Maio de 2008, margens do rio Tâmega em Amarante
Informações adicionais: plantas esguias com hastes até 50 cm de altura, esparsamente ramificadas; flores tubulares com 1 a 1,5 cm de diâmetro

20/09/2011

Rei de paus

Lycopodium clavatum L.


A Flora Digital de Portugal chama-lhe licopódio-da-Estrela, ensinando-nos que, apesar de ser subcosmopolita, as populações conhecidas desta herbácea em território português estão todas na serra da Estrela. Esta planta perene aprecia matagais de meia-sombra, bosques com solo ácido ou margens de lagoas, turfeiras e brejos, aceitando até colonizar taludes rochosos, mas pede clima frio de montanha (entre os 700 e os 2000 m) e desaparece se o habitat é perturbado. Os incêndios que regularmente afligem a serra da Estrela, e outras consequências do uso que dela se faz, colocaram este feto à beira da extinção, com lugar obrigatório na lista das maiores prioridades para acções de conservação. Contudo, os exemplares que o Paulo fotografou, talvez não mais que meia dúzia, escondidos sob denso mato de juníperos na margem de uma lagoa (a que chegámos gentilmente guiados por Alexandre Silva, do CISE), viram recentemente o seu torrão abalado pelo alargamento de um caminho; tão próximo passa ele da lagoa que, numa próxima obra do género, as plantas não escaparão. Assim vai a defesa do nosso património natural.

Um outro nome vernáculo da planta, pata-de-lobo, parece tradução do nome científico (o termo grego lykos significa lobo e podion refere-se a ) e alude à semelhança algo fantasiosa da extremidade dos ramos às patas destes bichos. A outros, elas lembram caudas de raposa, pinheirinhos rastejantes ou o enfeite do chapéu do Robin dos Bosques, e estes são mais alguns dos nomes simpáticos com que enaltecem a planta. Porém, o detalhe mais importante, que distingue este género da Lycopodiella, é este: entre Julho e Setembro, nascem espigas férteis, os estróbilos com os esporos, que são "pinhas" estreitas de cor bege no topo de pecíolos altos (cerca de 10 cm de altura e quase sem folhas). Lineu viu nelas umas pequenas clavas (por isso clavatum); mas, como elas nascem aos pares (ou mais raramente aos trios), outros compararam-nas a chifres de veado, e daí a designação inglesa stag's-horn clubmoss.

No resto do ano, só se encontram os talos prostrados (que podem chegar aos 80 cm) e, tal como acontece com a Lycopodiella, bem firmes no solo porque lançam raízes a intervalos regulares. Os ramos, frequentemente em pose ascendente, acrescentam mais uns 10 a 20 centímetros ao conjunto e as folhas (os micrófilos, dispostos em hélice), embora minúsculas (3 a 7 mm de comprimento), cobrem-nos densamente e adelgaçam-se na ponta, terminando num fio alongado e flexível que dá ao feto um aspecto peludinho mas despenteado.

O pó-de-licopódio, feito com os esporos, tem propriedades medicinais; e, atestam alguns autores, foi usado nos primórdios da técnica de fotocopiar.

19/09/2011

Licopódio-dos-brejos

Lycopodiella inundata (L.) Holub


Até à chegada da troika, a construção das auto-estradas parecia imparável, e mesmo depois não terá abrandado muito. Estas coisas têm a sua inércia, tanto maior quanto mais veloz e mais pesado for o veículo em movimento, e meter travões a fundo não garante paragem imediata. E é natural que, tendo nós vivido um processo de modernização galopante, as plantas mais primitivas estejam condenadas ao desaparecimento.

(O escriba considera avisado abrir um parênteses para ressalvar que a teoria atrás exposta não passa de um desabafo fantasioso: tem muito pouco de empírico e nada de científico. Fechar parênteses.)

A subdivisão Lycopodiophyta do reino vegetal, que abrange as plantas a que os anglo-saxónicos chamam clubmosses ou spikemosses, é uma das mais primitivas que existem. Semelhantes às primeiras plantas vasculares de que dão testemunho os registos fósseis, reproduzem-se por esporos tal como fazem os fetos. Mas — apesar da etiqueta que por comodidade colocamos aí em baixo — não são propriamente fetos, e de facto precederam-nos em mais de 50 milhões de anos. Apresentam uma morfologia característica: caules mais ou menos ramificados, erectos ou prostrados, cobertos por folhas diminutas e pontiagudas. Os esporângios acumulam-se no ápice dos caules, e por vezes (como é o caso da Lycopodiella inundata) estão totalmente ocultos pela folhagem. Os exemplos já aqui exibidos dessa classe de plantas incluem a açoriana Huperzia dentata, a valonguense Lycopodiella cernua, e ainda duas espécies de Selaginella, uma continental e outra insular.

Com excepção da Selaginella, todas estas plantas são escassíssimas em Portugal continental, e terão lugar de honra no sempre adiado Livro Vermelho da Flora Vascular Ameaçada. A Lycopodiella inundata, que vive em sítios húmidos ou turfosos, está restrita a uns poucos lugares no Alto Minho, incluindo dois ou três na metade ocidental do PNPG, em altitudes entre os 700 e 900 metros. A acreditar em Franco & Rocha Afonso (Distribuição das Pteridófitas e Gimnospérmicas em Portugal, 1982), a espécie existiria também em Valongo ou nos arredores, mas tal informação não é confirmada por nenhum registo recente. Segura é a sua ocorrência nos Açores e, fora de Portugal, nas zonas temperadas ou frias do hemisfério norte, desde a Europa até à Ásia e à América. Na Grã-Bretanha, e especialmente no sul, é presença assídua em charnecas húmidas.

O licopódio-dos-brejos é formado por caules rastejantes que raramente ultrapassam os 20 cm de comprimento e vão fincando raízes no solo à medida que avançam. A parte terminal desses caules é a única coisa que sobra da planta durante o Inverno. Esporadicamente, entre Abril e Setembro, emergem as hastes férteis, as que contêm os esporângios para a propagação da espécie: são erectas, curtas (até 5 cm de altura) e estão, tal como os caules, cobertas por folhas (ou micrófilos) de cerca de 5 mm de comprimento, dispostas em espiral.

16/09/2011

Segredos do souto


Epipactis fageticola (C. E. Hermos.) Devillers-Tersch. & Devillers
Daniel Tyteca já a tinha avistado em Vinhais, no interior do Parque Natural de Montesinho, e publicado a descoberta em 1999, como uma nova espécie para a flora portuguesa. Identificou-a como Epipactis phyllanthes G.E. SM., e é assim que João do Amaral Franco & Maria da Luz da Rocha Afonso a referenciam, em 2003, no fascículo III do volume III da Nova Flora de Portugal. Porém, um trabalho de investigação publicado em 2001 por Gévaudan, Lewin & Delforge (no n.º 82 da revista Naturalistes Belges) mudou todas as populações portuguesas conhecidas de E. phyllanthes (e quase todas as peninsulares) para a espécie E. fageticola, justificando a transferência com detalhes morfológicos e genéticos. Numa visita recente a Portugal, Tyteca proferiu uma palestra no âmbito das actividades da Associação de Orquídeas Silvestres — Portugal, tendo então referido a existência da planta também na Beira Litoral e na Beira Alta. Mas nós não sabíamos de nada disto e, por isso, foi grande a emoção de observar, quase em primeira mão, uma orquídea tão rara em Portugal.

Aconteceu no dia em que fomos à serra da Estrela ver a Campanula herminii. Depois de admirarmos os «cântaros» e de muitas pausas para fotografar, os nossos companheiros de passeio propuseram que procurássemos uma população de Epipactis no Souto do Concelho, em Manteigas, local onde abundam faias, castanheiros e lariços. Havia indicação precisa do lugar onde procurar, mas, tratando-se de orquídeas de porte diminuto, que pedem sombra e solos humedecidos, um pequeno desvio nas coordenadas registadas pelo GPS poderia frustrar a busca. Ah, mas nós estávamos bem acompanhados. E não hesitámos em desabar encosta abaixo, rompendo pela mata, quando o Francisco Areias nos chamou jubilosamente: tinha encontrado, junto a uma linha de água, uns dezasseis exemplares de Epipactis. As flores eram estranhas: verdes, de hábito pendente, com um lábio branco saliente, cordiforme, parecido com as pétalas, além de uma bolinha amarela a resguardar o pólen. Tratava-se, sem dúvida, da E. fageticola. Não fossem os mosquitos (ou seriam polinizadores?) a banquetearem-se à nossa custa, e suspeito que só depois de o sol se pôr, pelo receio infantil que o Capuchinho Vermelho nos ensinou, teríamos deixado aquele lugar sombrio que de repente se tornara tão admirável. Duas semanas depois ficámos a saber não serem estas as plantas que o Alexandre Silva (CISE) mencionara à Luísa e ao Joaquim; essas são de outra espécie, E. helleborine — além destas espécies, em Portugal só existem mais duas, a E. tremolsii e a E. lusitanica (que talvez não passe de uma subespécie ou variedade da anterior).

Segundo P. Delforge (Orchids of Europe, North Africa and the Middle East, 2006), a E. fageticola ocorre em França, Espanha, Suíça e Portugal, sendo extremamente rara na Península Ibérica. Apesar de, como é comum no género Epipactis, optar frequentemente pela auto-polinização e muitas flores nem se darem ao trabalho de desabotoar — ainda que a presença de pequenos nectários indique que elas não desistiram de tentar a polinização cruzada.

15/09/2011

Erva-loira na estrada descendente


Senecio pyrenaicus subsp. caespitosus (Brot.) Franco


Sem que nada façam para merecer tal tratamento, as plantas também podem cair em desgraça. Um endemismo de uma área restrita como a Serra da Estrela tem direito a ser citado em relatórios, a ser celebrado em resumos de maravilhas para turista ler, a ilustrar com a sua foto brochuras e folhetos de promoção. Mas depois os botânicos, sempre insatisfeitos com o status quo, mudam de opinião e decidem que tal endemismo afinal não o é, pois ocorre em vários outros lugares ou países. Atendendo a algumas subtis diferenças, quando muito tratar-se-á de uma subespécie endémica. Vendo melhor, as diferenças estão dentro do intervalo normal de variação da espécie, e por isso nem sequer configuram uma variedade, quanto mais uma subespécie. E assim, de degrau em degrau, vê-se o endemismo apeado do trono e condenado à inexistência. A planta em si continua a existir, não perdeu beleza nem utilidade; o nome é que é outro, e por isso já não a vemos com os mesmos olhos. Vá lá o ingénuo do Shakespeare (por interposta Julieta) alegar que «A rose by any other name would smell as sweet». Poderá o cheiro ser o mesmo, mas a verdade é que o nosso nariz mudou irremediavelmente.

Exemplo de despromoção foi a que sofreu a Silene elegans: há vinte ou trinta anos era uma das jóias botânicas da Serra da Estrela, um endemismo exclusivo ainda mais raro do que a Silene foetida subsp. foetida; agora que se passou a chamar Silene ciliata, e se sabe que ocorre igualmente em Espanha, já ninguém quer saber dela.

E é bem possível que a história se repita com a planta de hoje, uma erva-loira (nome que assenta bem a várias espécies de Senecio) que em Portugal só existe na Serra da Estrela. É uma moça modesta, sem nada desses ares de exclusividade que a sua condição de rara a poderiam levar a assumir. Gosta até de se postar à beira da estrada para ver o trânsito desfilar.

Foi no primeiro volume da Flora Lusitanica, em 1804, que Félix de Avelar Brotero fez o primeiro registo oficial desta planta; chamou-lhe então Senecio caespitosus. Passou-se mais de um século e meio, a serra foi rasgada por estradas, vieram hordas de turistas atraídos pelo engodo da neve, mas nada perturbava o sentimento de pertença da planta: ela era da serra e só da serra; não queria saber de outros países ou cordilheiras. O primeiro golpe foi desferido por João do Amaral Franco no 2.º vol. (de 1984) da Nova Flora de Portugal: o S. caespitosus ficava a ser apenas uma subespécie do S. pyrenaicus, espécie que ocorre também em Espanha e na França. Ainda assim, tratava-se, de acordo com o mesmo autor, de uma subespécie exclusiva da Serra da Estrela. Talvez essa réstia de glória se perca quando a Flora Ibérica fizer sair o volume das asteráceas: de facto, as particularidades morfológicas assinaladas por Franco (recorte da folhagem, diâmetro dos capítulos florais) não parecem ser suficientemente diferenciadoras; e à vista desarmada esta hipotética subespécie não se distingue das outras.

Por certo o leitor ficou, como nós, ansioso por conhecer o desfecho desta história. Uma Flora, coisa árida escrita na linguagem cifrada dos especialistas, pode ser uma leitura emocionante.

14/09/2011

Campainhas nos cântaros



Campanula herminii Hoffmanns. & Link

Nome vulgar: nenhum registado
Ecologia e distribuição: pastagens, urzais, ocasionalmente em fissuras de rochas, em altitudes superiores a 600 m, nas cadeias montanhosas (sobretudo) do norte e centro da Península Ibérica (ainda que também ocorra em Almería e em Granada)
Distribuição em Portugal: Serra da Estrela e (segundo a Flora Ibérica) Trás-os-Montes
Época de floração: Junho a Setembro
Data e local das fotos: Julho de 2011, entre o Cântaro Magro e o Cântaro Gordo
Informações adicionais: as plantas da Serra da Estrela têm em geral caules mais curtos (10 a 20 cm de altura) do que o máximo (60 cm) citado pela Flora Ibérica

13/09/2011

A fonte no monte



Montia fontana L.

As folhas, carnudas, espatuladas e sésseis, e a ramagem prostrada, por vezes rubra, a formar um matinho denso: tudo faz lembrar a prima beldroega (Portulaca oleracea L.). Também esta planta é (no início da Primavera) tenrinha e comestível, com um sabor que lembra o do agrião. O nome comum em inglês, miner's lettuce, alude precisamente ao seu consumo em saladas por mineiros da Califórnia no século XIX. Porém, ao contrário das flores vistosas da Portulaca, as da marujinha são inconspícuas (2-3 mm), com pétalas desiguais, como se moldadas em gesso por artesão atabalhoado com pulsão para miniaturista. Por isso, a outra designação inglesa, blinks, ajusta-se-lhe melhor.

É uma herbácea ripícola, da beira de fontes, nascentes ou margens de regatos e até locais periodicamente inundados, mas que prefere água corrente. É anual ou bienal e a floração ocorre entre Abril e Outubro. Encontrámo-la no Covão d'Ametade, a revestir um talude irrigado por um cachão de água; as folhas, com uns 5 mm de comprimento, estavam longe do máximo descrito para esta espécie, fixado em 2 cm.

O género Montia (designação que homenageia o naturalista italiano Giuseppe Monti (1682-1760)) tem estado em processo de reorganização, mas ainda subsistem dúvidas. As actuais etiquetas dependem sobretudo da textura da casca das sementes (em geral, três por cada fruto, reniformes e negras). A culpa é da grande variabilidade morfológica que as espécies deste género exibem, uma canseira para os taxonomistas mas que as ajuda a adaptarem-se a novos habitats. Com essa estratégia, estão a tornar-se cosmopolitas, depois de terem sido consideradas pontuais em vários ambientes. Algumas Floras entendem hoje que as plantas do género Montia que ocorrem em Portugal pertencem a duas das três subespécies registadas de Montia fontana (a subsp. amporitana, mais comum, ou a subespécie chondrosperma, com menor exigência de água) ou à espécie Montia perfoliata (Willd.) Howell, a beldoega-de-Inverno, norte-americana de origem, citada por Franco como subespontânea na serra de S. Mamede. Segundo o mesmo autor, a planta da foto (que já se chamou Montia lusitanica Samp.) só é rara no sul do país.

12/09/2011

Feto quebra-ossos




Dryopteris oreades Fomin

Ler os comentários dos leitores nas versões on-line dos nossos jornais valia por um tratado de psicologia social: era um mergulho a frio num mundo de pequenos e grandes rancores e de má-língua desenfreada. Já não é tanto assim desde que mandaram vir a vassoura. O resultado é que a porcaria já não entra; ou, se entra, não tarda a ser varrida. "Moderação de comentários" é como se chama a operação higiénica. Para ouvirmos bocas do mesmo quilate temos que regressar aos cafés ou aos transportes públicos.

As notícias de acidentes na montanha — envolvendo quedas ou gente que se perde — suscitavam (e ainda suscitam, posto que em linguagem menos escabrosa) uma reacção automática unânime: estes tipos da cidade metem-se por onde não conhecem e depois dá nisto; causam transtornos e perdas de tempo às equipas de socorro por pura irresponsabilidade; deviam era levar uma multa bem pesada para ver se aprendem. É curioso como os acidentes de automóvel, muito mais comuns e muito mais mortíferos, não provocam reacções semelhantes.

Sem fazer a apologia da imprudência, convém lembrar que sair dos caminhos assinalados é essencial para que os lugares se tornem parte de nós. Só assim os mapas mentais por que nos orientamos assumem contornos mais nítidos; só assim as descobertas (de um recanto, de uma planta, de uma paisagem) ganham o sabor de vitórias pessoais. Há truques que se aprendem para prevenir transtornos, há aparelhos que ajudam os nossos fracos sentidos. Mas é preciso ultrapassar o temor e desobedecer ao dedo em riste dos que nos querem domesticar.

Vem isto a despropósito do Dryopteris oreades, um feto que encontrámos na serra da Estrela num local de acesso problemático: uma fenda de rocha junto a uma plataforma de um ou dois metros de diâmetro, debruçada a pique sobre uma escarpa. Descer para a plataforma não era difícil nem particularmente arriscado; subir de volta custava mais, mas lá se conseguiu. O fotográfo não quer posar como herói, pois já houve quem cometesse feitos muito mais arrepiantes. Consta até que existe uma actividade humana (proibida na serra da Estrela desde que entrou em vigor o último plano de ordenamento) que se chama "escalada".

E essa desobediência à lei e ao bom senso foi ao menos por uma boa causa? Certamente que sim, prezado leitor: em Portugal, o Dryopteris oreades (ou feto-macho-de-altas-montanhas, como portentosamente lhe chamam Franco & Rocha Afonso) só existe, e em escassíssimo número, nos pontos mais altos das serras do Gerês e da Estrela. E os lugares onde mora são todos assim ou piores.

Deve admitir-se, contudo, que este feto tem fortes semelhanças com outros seus congéneres bastante mais comuns, como seja o D. affinis. Mas os habitats são completamente diferentes, já que o D. affinis mora em bosques caducifólios húmidos, sobre solos ricos; e o feto montanhês, mais pequeno, tem frondes esguias que não costumam ultrapassar os 60 cm de comprimento, quando as do outro chegam a atingir metro e meio. Outras diferenças: o D. oreades perde a folhagem no Inverno (período em que, em qualquer caso, estaria sepultado sob a neve), tem a ráquis muito menos escamosa, e exibe apenas de um a três soros (= agrupamentos de esporângios) no verso de cada pínula (no D. affinis esse número varia em regra entre 6 e 8).

Com um contingente lusitano tão depauperado, é bom saber que o D. oreades não é assim tão raro por essa Europa fora, embora se fique sempre por zonas pedregosas de montanha. Na Grã-Bretanha, ilha pouco afamada pelo acidentado do relevo, é mesmo tido como abundante em certas zonas.