Licopódio-dos-brejos
Lycopodiella inundata (L.) Holub
Até à chegada da troika, a construção das auto-estradas parecia imparável, e mesmo depois não terá abrandado muito. Estas coisas têm a sua inércia, tanto maior quanto mais veloz e mais pesado for o veículo em movimento, e meter travões a fundo não garante paragem imediata. E é natural que, tendo nós vivido um processo de modernização galopante, as plantas mais primitivas estejam condenadas ao desaparecimento.
(O escriba considera avisado abrir um parênteses para ressalvar que a teoria atrás exposta não passa de um desabafo fantasioso: tem muito pouco de empírico e nada de científico. Fechar parênteses.)
A subdivisão Lycopodiophyta do reino vegetal, que abrange as plantas a que os anglo-saxónicos chamam clubmosses ou spikemosses, é uma das mais primitivas que existem. Semelhantes às primeiras plantas vasculares de que dão testemunho os registos fósseis, reproduzem-se por esporos tal como fazem os fetos. Mas — apesar da etiqueta que por comodidade colocamos aí em baixo — não são propriamente fetos, e de facto precederam-nos em mais de 50 milhões de anos. Apresentam uma morfologia característica: caules mais ou menos ramificados, erectos ou prostrados, cobertos por folhas diminutas e pontiagudas. Os esporângios acumulam-se no ápice dos caules, e por vezes (como é o caso da Lycopodiella inundata) estão totalmente ocultos pela folhagem. Os exemplos já aqui exibidos dessa classe de plantas incluem a açoriana Huperzia dentata, a valonguense Lycopodiella cernua, e ainda duas espécies de Selaginella, uma continental e outra insular.
Com excepção da Selaginella, todas estas plantas são escassíssimas em Portugal continental, e terão lugar de honra no sempre adiado Livro Vermelho da Flora Vascular Ameaçada. A Lycopodiella inundata, que vive em sítios húmidos ou turfosos, está restrita a uns poucos lugares no Alto Minho, incluindo dois ou três na metade ocidental do PNPG, em altitudes entre os 700 e 900 metros. A acreditar em Franco & Rocha Afonso (Distribuição das Pteridófitas e Gimnospérmicas em Portugal, 1982), a espécie existiria também em Valongo ou nos arredores, mas tal informação não é confirmada por nenhum registo recente. Segura é a sua ocorrência nos Açores e, fora de Portugal, nas zonas temperadas ou frias do hemisfério norte, desde a Europa até à Ásia e à América. Na Grã-Bretanha, e especialmente no sul, é presença assídua em charnecas húmidas.
O licopódio-dos-brejos é formado por caules rastejantes que raramente ultrapassam os 20 cm de comprimento e vão fincando raízes no solo à medida que avançam. A parte terminal desses caules é a única coisa que sobra da planta durante o Inverno. Esporadicamente, entre Abril e Setembro, emergem as hastes férteis, as que contêm os esporângios para a propagação da espécie: são erectas, curtas (até 5 cm de altura) e estão, tal como os caules, cobertas por folhas (ou micrófilos) de cerca de 5 mm de comprimento, dispostas em espiral.
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