Férias
Publicada por
Paulo Araújo
em
30.7.11
7
comentários
Etiquetas: Açores - Flores , Campanulaceae
Publicada por
Maria Carvalho
em
29.7.11
2
comentários
Etiquetas: Julian Barnes , Serra da Estrela
Frangula azorica V. Grubow
O sanguinho-das-ilhas (Frangula azorica) é a versão açoriana do sanguinho-de-água (Frangula alnus), árvore frágil e de pequeno porte que surge esparsamente junto a rios e ribeiras na metade norte do país. Na sua encarnação atlântica, ganha um porte mais robusto (até 10 m de altura) e folhas maiores (10 a 15 cm contra 3 a 7 cm da F. alnus); e, talvez por a chuva no arquipélago ser um fenómeno quotidiano, perde a compulsão de viver junto a cursos de água. Gosta da companhia de loureiros e juníperos na floresta de nuvens, mas também aparece dispersa em ravinas e sebes. De todas as ilhas açorianas, só não está presente em Santa Maria, Graciosa e Corvo. Embora não seja rara, o pastoreio, o abate e a invasão de exóticas têm vindo a depauperar as suas populações, a ponto de ela ter sido listada na Directiva Habitats (Decreto-Lei n.º 140/99). Na Madeira, onde também terá existido, só subsistem dela vestígios fósseis.
Contrariando a opinião do seu predecessor Tournefort (1656-1708), Lineu, no seu Species Plantarum (1753), incluiu estas árvores no género Rhamnus. Foi Phillip Miller, em 1768, que emancipou o género Frangula, caracterizando-o pelas flores hermafroditas de cinco pétalas. Nos arbustos do género Rhamnus, por contraste, as flores têm quatro pétalas e são de dois tipos: masculinas ou femininas. (Veja as fotos acima e também aqui.)
Por muito insignificantes que pareçam - e a verdade é que ninguém planta sanguinhos pelo seu valor ornamental -, as flores são um bilhete de identidade que raramente engana. Antes de os estudos genéticos virarem a taxonomia às avessas, era a morfologia das flores que ditava a fixação dos géneros e das famílias botânicas. Por isso não se entende que uma obra tão conservadora como a Flora Ibérica (que persiste, por exemplo, em reconhecer a circunscrição tradicional da família Scrophulariaceae) queira suprimir o género Frangula, diluindo-o novamente no género Rhamnus. Mas, visto que o tomo correspondente ainda não viu o prelo, talvez a omissão seja um lapso ainda a ser corrigido.
Publicada por
Paulo Araújo
em
28.7.11
0
comentários
Etiquetas: Açores , Rhamnaceae
Publicada por
Maria Carvalho
em
27.7.11
4
comentários
Etiquetas: Arrábida , Euphorbiaceae , Terras de Sicó
Centaurium chloodes (Brot.) Samp.
Publicada por
Maria Carvalho
em
26.7.11
2
comentários
Etiquetas: Dunas , Gentianaceae , Lewis Carroll , Vila do Conde
Vaccinium cylindraceum Sm.
Publicada por
Paulo Araújo
em
25.7.11
0
comentários
Etiquetas: Açores - Flores , Ericaceae
Myosotis maritima Hochst. ex Seub.
[Endemismo açoriano, presente em todas as ilhas.]
O regatão Bonifácio assentou perto de mim e me mostrou uma folha de água, uma água dura, fria, lisa, enganchada, que nem a água debaixo da lagoa, presa em outra água e nessa água estava uma cara parecida com a cara de mãe Awa, mas não era ela, era a minha cara, eu ri e a minha cara riu, o regatão tinha feito uma folha de água fria, cara de espíritos, folha de espíritos, não era a minha cara porque era feita de água, lisa por fora, redonda, olhos puxados para as orelhas, nariz aberto, boca de umas taturanas encarnadas, perguntei se era a minha alma presa ali, o regatão fazia a magia da alma, ele prendeu a minha alma naquela folha, devia ser a minha alma, (...), a alma repetia o que eu via, se eu ria, ela ria, se eu mexia no cabelo, ela mexia no cabelo, a alma fingia que era eu, arremedava a minha cara, rodava, fazia ser tudo igual, grande era seu segredo de fazer ao mesmo tempo, de saber tudo o que eu ia fazer, não fazer antes nem depois, igual, e fazia bem, como uma irmã, como a cabeça de uma irmã, duas irmãs, que nem eu tivesse duas cabeças, Tenho eu duas cabeças? perguntei, e o regatão riu de mim, Esta indiazinha!
Ana Miranda, Yuxin: alma (Companhia das Letras, 2009)
Publicada por
Maria Carvalho
em
22.7.11
0
comentários
Etiquetas: Açores - Flores , Ana Miranda , Boraginaceae
Sedum maireanum Sennen
As plantas do género Sedum apreciam reentrâncias de seixos, fazendo-nos saber que, ao contrário do que parece, há sumo no farelo da pedra. Os muros das cidades, quando em ruínas e sem grafitos, são um sucedâneo deste habitat que alguns arrozes-dos-telhados reciclam. Mas não todos. Este endemismo de Marrocos e da Península Ibérica é uma planta anual que precisa do ar enevoado das alvoradas e anoiteceres na montanha, embora também se possa encontrar em prados turfosos a baixa altitude e em areias temporariamente encharcadas. Dado o nosso arreigado hábito de maltratar as zonas húmidas, tornou-se raro por cá, embora haja registo dele em meia dúzia de províncias. A recompensa de uma tarde inteira de procura na serra do Açor foi uma única população pequena à beira de um riacho.
Quando em flor, na Primavera ou Verão, é das crassuláceas mais bonitas: as folhas alternas, lineares, de secção redonda, são amiúde de cor afogueada; e as flores, dispostas em corimbos, têm pétalas apiculadas cor-de-rosa, soldadas na base para formar um tubo curto - um arranjo delicado onde se destacam os dez estames dispostos em estrela e as anteras vermelhas. Como os outros, este Sedum mostra sinais de adaptação a condições extremas. As folhas são suculentas e pequenas (c. 8 mm), para não perder demasiada água por evaporação, os talos são rasteiros (de uns 10 cm), para se abrigar do vento, e os sistemas radiculares parecem exímios a procurar água e nutrientes. Além disso, antes da seca e dos incêndios do Verão, desaparece.
O nome presta homenagem ao botânico francês René Charles Joseph Ernest Maire (1878-1949), professor de botânica na Argélia, explorador da flora do Saara central e autor dos dezasseis volumes da Flore de l'Afrique du Nord (edição póstuma em 1953). Dezasseis? Certamente não descreve apenas o deserto, quase só dunas e siroco, uns poucos oásis e não mais de quinhentas espécies de vegetação de savana semi-árida, uma amostra botânica insignificante face à extensão daquele território. Porém, no canto noroeste de África, perto da ponta sul de Espanha, com um olho no mar Mediterrâneo e outro no oceano Atlântico, há a Cordilheira do Atlas, neve, floresta e uma biodiversidade invejável, e, mais acima, parte da Cordilheira Bética. Segundo as referências, foi em Marrocos, não muito longe de Casablanca, no sistema montanhoso Rif, onde chove a cântaros em boa parte do ano, que este Sedum foi primeiro encontrado por L. Emberger e R. Maire, em 1927. Chamaram-lhe S. villosum var. aristatum (Pl. Rif. Nov. 1: 7). A nomenclatura em vigor, contudo, é devida a Sennen (Étienne Marcelin Granié, 1861-1937; Diagnoses des Nouveautes Parues dans les Exsiccata Plantes D'Espagne et du Maroc 190, 1936) e a Mauricio (Desiderio Arnaiz), que o descreveram, em 1933, no Catálogo de la flora del Rif Oriental.
Publicada por
Maria Carvalho
em
21.7.11
3
comentários
Etiquetas: Crassulaceae , Serra do Açor
Publicada por
Maria Carvalho
em
20.7.11
0
comentários
Etiquetas: Euphorbiaceae , Serras de Aire e Candeeiros
Ranunculus cortusifolius Willd.
A abundância de bovinos nas pastagens, conjugada com o nevoeiro que tudo transforma em borrão difuso, produz efeitos curiosos. Alguém com tendências surrealistas terá imaginado que as manchas amarelas nas bermas dos caminhos provinham do ar expelido pelos ruminantes, e o Ranunculus cortisofolius ficou a chamar-se bafo-de-boi. Isto nos Açores. Na Madeira, onde a mesma espécie também é nativa, baptizaram-na de doiradinha, nome que pode sem embaraço ser explicado a turistas estrangeiros.
O bafo-de-boi ou doiradinha é um ranúnculo que impõe respeito; a seu lado, os pobres ranúnculos continentais são seres raquíticos e insignificantes. Tudo nele é excessivo: as folhas coriáceas, com 30 cm de diâmetro; as hastes que ultrapassam 1 metro de altura; as vistosas flores dispostas em corimbos amplos. Houve até quem lhe tivesse chamado, muito apropriadamente, Ranunculus megaphyllus, mas o nome que prevaleceu, por ser mais antigo, foi R. cortusifolius. Ambos os epítetetos, megaphyllus e cortusifolius, aludem às qualidades da folhagem: o primeiro ao seu gigantismo, o segundo à sua semelhança com as folhas da Cortusa matthioli, planta alpina da família das prímulas.
De todas as ilhas dos Açores, o bafo-de-boi só não frequenta a Graciosa e Santa Maria. No entanto, tirando as Flores e o Faial, parece só sobreviver em ravinas ou encostas íngremes, em nichos mais ou menos inacessíveis. Em contrapartida, nas Flores, e sobretudo na metade ocidental da ilha, ele aparece por todo o lado, enfeitando estradas e caminhos, crateras, ribeiras e quedas de água. Na época de floração (Abril-Junho), rivaliza em visibilidade com as exóticas (e daninhas) hortênsias. E a variação de altitude não é coisa que lhe importe, pois vi-o na Fajã Grande, quase ao nível do mar, mas também perto do Morro Alto, acima dos 700 metros.
Publicada por
Paulo Araújo
em
19.7.11
1
comentários
Etiquetas: Açores - Flores , Ranunculaceae
Veronica dabneyi Hochst.
Publicada por
Paulo Araújo
em
18.7.11
2
comentários
Etiquetas: Açores - Flores , Plantaginaceae
Doiro, rio e região, é certamente a realidade mais séria que temos. Nenhum outro caudal nosso corre em leito mais duro, encontra obstáculos mais encarniçados, peleja mais arduamente em todo o caminho; nenhuma outra nesga de terra nossa possui mortórios tão vastos, tão estéreis e tão malditos. (...) Patético, o estreito território de angústia, cingido à sua artéria de irrigação, atravessa o país de lado a lado. E é, no mapa da pequenez que nos coube, a única evidência incomensurável com que podemos assombrar o mundo. Miguel Torga, 1950
Anacamptis morio subsp. picta (Loisel.) P. Jacquet & Scappaticci (variedade alba)
Descoberta de Duarte Victorino Marques.
Estas são algumas das orquídeas que observámos em Maio durante uma expedição ao Douro organizada pela AOSP — Associação de Orquídeas Silvestres — Portugal. Atente o leitor às legendas para saber mais sobre cada planta.
Publicada por
Maria Carvalho
em
15.7.11
7
comentários
Etiquetas: Douro , Miguel Torga , Orchidaceae
Aristolochia pistolochia L.
Na verdade não foi por ela que visitámos a pequena mata de sobreiros e carvalhos-cerquinhos algures na Serra dos Candeeiros. Tratou-se de um prémio de consolação, pois a desejada mais uma vez se esquivou. E a Aristolochia pistolochia, a planta que rima (este Lineu tinha arroubos de poeta), não é descoberta de se deitar fora. Ainda que a Flora Ibérica garanta que ela ocorre em todo o centro e sul de Portugal e também em Trás-os-Montes, a verdade é que nunca a tínhamos visto. Frequentando bosques e clareiras de matos secos desde o sul de França às regiões de clima mediterrânico na Península Ibérica, é muito menos comum do que a sua congénere Aristolochia paucinervis, da qual se distingue pelas folhas triangulares, pelo amarelo-torrado das flores, e pelos capuzes mais proeminentes.
Depois de uma planta que, se não ajuda a evitar a gravidez, pelo menos tem semelhanças com outra a que a superstição atribuiu tal qualidade, é boa política reforçar a nossa postura neutral dando voz à facção pró-vida. Acreditavam os antigos, por a forma da flor lembrar um útero, que a Aristolochia tinha virtudes obstétricas, e daí o nome que Lineu lhe atribuiu, e que significa excelente parto. A mesma crença inspirou a designação inglesa birthwort para todas as plantas do género. Contudo, a medicina moderna desaconselha qualquer uso terapêutico destas plantas, que são tóxicas e potencialmente cancerígenas.
Publicada por
Paulo Araújo
em
14.7.11
6
comentários
Etiquetas: Aristolochiaceae , Serras de Aire e Candeeiros
Publicada por
Maria Carvalho
em
13.7.11
0
comentários
Etiquetas: Alenquer , Euphorbiaceae
Cicendia filiformis (L.) Delarbre
Publicada por
Maria Carvalho
em
12.7.11
4
comentários
Etiquetas: Gentianaceae , Serra do Açor
Margens turfosas, revestidas de Sphagnum, da Lagoa Branca (ilha das Flores)
Há molhas que vêm por bem. O dia até começara promissor, embora o pequeno-almoço no hotel, servido só a partir das 8h00, me atrasasse a saída. Menos de uma hora depois já estava eu no táxi a caminho do miradouro das lagoas. De lá de cima contemplar-se-iam, rodando a vista, nada menos que três lagoas: a Comprida, a Negra e a Branca. O nevoeiro, porém, zangado por não ser tido em conta, resolveu fazer das suas: encurtando o raio de visibilidade para cerca de 10 metros, conseguiu a proeza de ocultar não só todas as três lagoas como o próprio miradouro. Ao fim de meia dúzia de passos, já não sabia de pontos cardeais e duvidava até que ainda pisasse terra firme. O taxista desconfiara dos meus preparos, mas lá me havia largado onde eu lhe pedira. Prometera-lhe que o chamaria depois do almoço para me ir buscar à Fajã Grande.
Ao nevoeiro veio juntar-se a chuva. Mansa e miudinha para começar, logo depois mais intensa, mas enfrentei-a com determinação: afinal vinha prevenido com capuz e capa impermeáveis; e, ainda que as lagoas estivessem em greve de zelo, ia dando para esquadrinhar a vegetação em redor à cata de plantas rasteiras. Só tinha que limpar os óculos e depois olhar em volta antes que, contados 30 segundos, novamente eles ficassem tão úteis para auxiliar a visão como se viessem com lentes opacas. Consegui ver e fotografar (mal, as fotos aceitáveis tirá-las-ia dois dias depois) algumas orquídeas e ranúnculos (ou bafos-de-boi) antes de a chuva se agravar a tal ponto que seria parvoíce continuar. Já não tinha comigo nada enxuto com que limpar os óculos. As roupas, se as espremesse, dariam para encher vários baldes. As botas de montanha haviam-se revelado eficientíssimas esponjas para absorver a água da chuva e das muitas poças do caminho. Foi este espantalho encharcado que o taxista recolheu, pouco passava do meio-dia, num cruzamento ainda longe da Fajã Grande.
Banho de chuveiro, troca de roupa, almoço no hotel, visita de emergência às lojas de Santa Cruz das Flores para comprar sapatos e galochas, eis que são três da tarde, já não chove e ainda há dia para gastar. Decido-me por uma visita à Fajã de Lopo Vaz, na costa sul da ilha, onde um folheto distribuído no posto de turismo anuncia um trilho que se pode fazer em duas ou três horas. Mais um táxi, mais uma corrida. É verdade que a ilha é exígua — são só 17 km de uma ponta à outra — mas, como as estradas não são planas nem a cruzam em linha recta, não é prático percorrê-la toda a pé.
A visita à Fajã de Lopo Vaz confirmou que, no litoral da ilha das Flores, os estragos da vegetação infestante (incenso, canas, conteiras, feto-azevinho) não são menos sérios do que no resto do arquipélago. Antes de iniciar a descida, porém, resolvi espreitar a velha plantação de criptomérias no cimo da escarpa. E foi então que vi, pela primeira vez, o muito apropriadamente chamado feto-de-três-bicos.
Asplenium hemionitis L.
Este feto singular, com folhas de 10 a 30 cm de diâmetro que fazem lembrar as da hera, bem poderia ser um dos nossos símbolos nacionais: ocorre nos Açores e na Madeira e tem, em Sintra e em Mafra, as suas únicas populações conhecidas em todo o continente europeu. Embora também presente nas Canárias, em Cabo Verde e no norte de África, é clara a responsabilidade de Portugal na preservação de uma espécie que vive dias difíceis, e que só na Madeira parece ter um futuro risonho.
É patente a afinidade do feto-de-três-bicos com a língua-cervina: ao contrário dos fetos mais comuns, estes dois têm folhas inteiras, não divididas em pinas ou pínulas. Além do mais, comungam a preferência por lugares umbrosos e húmidos. Tanto assim é que na mesma mata de criptomérias era possível vê-los lado a lado. Contudo, numa ilha tão pluviosa como as Flores os requisitos de humidade são satisfeitos mesmo num muro exposto ao sol: foi nesse habitat que, dias depois, reencontrei ambos os fetos noutros locais da ilha. (Infelizmente, a distância a que me encontrava do Porto não permitiu que me habilitasse aos prémios do Grande Concurso Dias com Árvores.)
O epíteto hemionitis, atribuído por Lineu ao feto-de-três-bicos, justifica-se pela semelhança com um feto da América tropical a que o mesmo Lineu chamou Hemionitis palmata. Já o nome deste último tem uma explicação enigmática: hemionos em grego significa mula, que é um bicho estéril. O feto Hemionitis (informa William T. Stearn) encorajaria a esterilidade, e terá sido usado por mulheres como amuleto contra a gravidez.
Publicada por
Paulo Araújo
em
11.7.11
1
comentários
Etiquetas: Açores - Flores , Aspleniaceae , Fetos & afins