28/07/2011

Sanguinho das ilhas


Frangula azorica V. Grubow

O sanguinho-das-ilhas (Frangula azorica) é a versão açoriana do sanguinho-de-água (Frangula alnus), árvore frágil e de pequeno porte que surge esparsamente junto a rios e ribeiras na metade norte do país. Na sua encarnação atlântica, ganha um porte mais robusto (até 10 m de altura) e folhas maiores (10 a 15 cm contra 3 a 7 cm da F. alnus); e, talvez por a chuva no arquipélago ser um fenómeno quotidiano, perde a compulsão de viver junto a cursos de água. Gosta da companhia de loureiros e juníperos na floresta de nuvens, mas também aparece dispersa em ravinas e sebes. De todas as ilhas açorianas, só não está presente em Santa Maria, Graciosa e Corvo. Embora não seja rara, o pastoreio, o abate e a invasão de exóticas têm vindo a depauperar as suas populações, a ponto de ela ter sido listada na Directiva Habitats (Decreto-Lei n.º 140/99). Na Madeira, onde também terá existido, só subsistem dela vestígios fósseis.

Contrariando a opinião do seu predecessor Tournefort (1656-1708), Lineu, no seu Species Plantarum (1753), incluiu estas árvores no género Rhamnus. Foi Phillip Miller, em 1768, que emancipou o género Frangula, caracterizando-o pelas flores hermafroditas de cinco pétalas. Nos arbustos do género Rhamnus, por contraste, as flores têm quatro pétalas e são de dois tipos: masculinas ou femininas. (Veja as fotos acima e também aqui.)

Por muito insignificantes que pareçam - e a verdade é que ninguém planta sanguinhos pelo seu valor ornamental -, as flores são um bilhete de identidade que raramente engana. Antes de os estudos genéticos virarem a taxonomia às avessas, era a morfologia das flores que ditava a fixação dos géneros e das famílias botânicas. Por isso não se entende que uma obra tão conservadora como a Flora Ibérica (que persiste, por exemplo, em reconhecer a circunscrição tradicional da família Scrophulariaceae) queira suprimir o género Frangula, diluindo-o novamente no género Rhamnus. Mas, visto que o tomo correspondente ainda não viu o prelo, talvez a omissão seja um lapso ainda a ser corrigido.

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