Bafo dourado
Ranunculus cortusifolius Willd.
A abundância de bovinos nas pastagens, conjugada com o nevoeiro que tudo transforma em borrão difuso, produz efeitos curiosos. Alguém com tendências surrealistas terá imaginado que as manchas amarelas nas bermas dos caminhos provinham do ar expelido pelos ruminantes, e o Ranunculus cortisofolius ficou a chamar-se bafo-de-boi. Isto nos Açores. Na Madeira, onde a mesma espécie também é nativa, baptizaram-na de doiradinha, nome que pode sem embaraço ser explicado a turistas estrangeiros.
O bafo-de-boi ou doiradinha é um ranúnculo que impõe respeito; a seu lado, os pobres ranúnculos continentais são seres raquíticos e insignificantes. Tudo nele é excessivo: as folhas coriáceas, com 30 cm de diâmetro; as hastes que ultrapassam 1 metro de altura; as vistosas flores dispostas em corimbos amplos. Houve até quem lhe tivesse chamado, muito apropriadamente, Ranunculus megaphyllus, mas o nome que prevaleceu, por ser mais antigo, foi R. cortusifolius. Ambos os epítetetos, megaphyllus e cortusifolius, aludem às qualidades da folhagem: o primeiro ao seu gigantismo, o segundo à sua semelhança com as folhas da Cortusa matthioli, planta alpina da família das prímulas.
De todas as ilhas dos Açores, o bafo-de-boi só não frequenta a Graciosa e Santa Maria. No entanto, tirando as Flores e o Faial, parece só sobreviver em ravinas ou encostas íngremes, em nichos mais ou menos inacessíveis. Em contrapartida, nas Flores, e sobretudo na metade ocidental da ilha, ele aparece por todo o lado, enfeitando estradas e caminhos, crateras, ribeiras e quedas de água. Na época de floração (Abril-Junho), rivaliza em visibilidade com as exóticas (e daninhas) hortênsias. E a variação de altitude não é coisa que lhe importe, pois vi-o na Fajã Grande, quase ao nível do mar, mas também perto do Morro Alto, acima dos 700 metros.
1 comentário :
Bafo de Boi? Só conhecia o Bafo de Onça...
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