Ponta da Fajã
Mais um passo na mesma direcção e a Europa acaba. Não se apoquente o leitor: aludimos a um simples facto geográfico, não à impiedosa crise que sobre nós desabou. A ilha das Flores ainda é Europa, pelo menos politicamente (de outros pontos de vista há quem tenha dúvidas, alegando qualquer coisa sobre "placas continentais"). E daqui para oeste até às Américas não há outro pedaço desgarrado do continente europeu. A costa ocidental das Flores e a freguesia da Fajã Grande marcam um limite inultrapassável para os europeus sem passaporte.
A estrada que desce para a costa da Fajã Grande prolonga-se ainda por dois quilómetros até à Ponta da Fajã. À nossa direita desenrola-se o paredão contínuo da falésia com centenas de metros de altura, rasgada por ribeiros alegremente suicidas na pressa de encurtar caminho até ao mar. Na plataforma verdejante da fajã há casas agora só de recreio e campos de cultivo abandonados ou convertidos em pastagens. Vêem-se anúncios de casas para venda, quem sabe se ao preço da chuva, mas qualquer dia acontece um desabamento (muito por culpa do excesso da dita) e fica tudo soterrado. Talvez o cavalo magricela a pastar naquilo que foi em tempos um jardim ainda tenha agilidade para se pôr a salvo.
Tal como o seu congénere, o Equisetum telmateia faz brotar hastes de dois tipos. As férteis surgem entre Março e Abril: têm menos de 50 cm de altura, não são ramificadas, apresentam uma coloração acastanhada e são encimadas pelos cones que contêm os esporângios; desaparecem depois de cumprirem o seu papel reprodutor para serem substituídas pelas hastes estéreis (as que se vêem nas fotos), que persistem até Outubro.
O Equisetum telmateia é também, em Portugal, cidadão do continente, concentrando-se sobretudo na Estremadura, Beira Litoral e Costa Vicentina. Duas espécies adicionais (E. palustris e E. ramosissimum) completam o contingente lusitano de uma família botânica que, tendo sobrevivido a 150 milhões de anos de convulsões do planeta, se aguenta por cá com dificuldade, vítima do desaparecimento ou degradação dos habitats húmidos a que se acolhia.