Chícharo esférico
Lathyrus sphaericus Retz.
Já faz tempo que o chícharo se nos esgotou na despensa. A lacuna tem o grave inconveniente de nos privar do arroz de chícharo, que é a versão muitas vezes melhorada do popular arroz de feijão. Aqui convém não poupar nos detalhes gastronómicos, pois nem todos os feijões se equivalem. Embora se possa confeccionar um arroz aceitável com feijão vermelho, quem tiver o paladar correctamente afinado saberá reconhecer que os melhores arrozes se preparam com feijão branco. A espessura da goma libertada pelo feijão branco remete o feijão vermelho para uma divisão secundaríssima. Ora o chícharo, além de garantir essa mesma consistência que evita a transformação do arroz numa sopa aguada (a tal fraude culinária a que é costume chamar "arroz malandro"), ainda oferece o bónus de um sabor único, cruzado por um irresistível travo picante.
E porque o chícharo e o arroz do mesmo nos fazem falta, deixamos aqui este escrito à laia de mnemónica. Há que voltar a Sicó, mesmo que agora, com o avanço do Outono, já sobrem poucas flores silvestres para observar (ainda se vêem, porém, algumas tranças-de-Outono; e quem for persistente há-de também encontrar isto).
E que tem a planta acima ilustrada a ver com o chícharo? É que esse acepipe provém de uma planta que se chama Lathyrus sativus; os frutos dela são vagens, como sucede com todas as leguminosas, e aquilo que nós comemos são as sementes. Na Península Ibérica existem 30 espécies nativas de Lathyrus e mais duas outras que são cultivadas como ornamentais (L. odoratus) ou para alimentação (L. sativus). Muitas dessas espécies são trepadeiras, algumas são anuais e outras são perenes. As espécies autóctones não têm, em geral, qualquer préstimo culinário, e podem mesmo ser tóxicas. O que os diversos Lathyrus têm em comum são as folhas compostas, formadas por folíolos alongados dispostos aos pares, e rematadas por gavinhas (ou, mais raramente, por mucrões).
O Lathyrus sphaericus, que é anual e atinge uns 50 cm de comprimento, destaca-se entre os seus congéneres pelas flores vermelhas. Teriam elas potencialidades ornamentais se fossem maiores e mais numerosas, mas cada flor aparece isolada e não excede 1,5 cm de diâmetro. E, com vagens tão magras (3ª foto), também as sementes (que são esféricas, como lembra o epíteto específico) são diminutas: têm uns 3 mm de diâmetro, contra 1 cm dos verdadeiros chícharos. Se se comessem, saberiam a pouco.
4 comentários :
É boa altura para refazer as reservas com chícharos da nova colheita.
Aqui pela Beira,para o arroz,utilizam-se os "cornipos" (vagens tenras com o chícharo ainda no começo de desenvolvimento)são excelentes.
A seca está a estragar a colheita tardia de cornipos,a melhor.
Pessoalmente uso uma variedade,miudinha,aqui designada por barrentos,são castanhos.
Abrc.,
mário
Obrigado por comentar, Mário. De facto eu não sabia que as vagens tenras do chícharo também eram consumidas (presumo que não estarão à venda em sítio nenhum).
Abraço,
Paulo
Caro Paulo Araújo
Por vezes aparecem nos mercados de produtores biológicos.
Um amigo,e também muito apreciador dos cornipos,disse-me tê-los encontrado à venda no Alentejo.
Abraço,
mário
Santa Catarina da Serra dedica um evento ao chícharo de 24 a 28 de Novembro de 2011.
www.ochicharodaserra.com
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