Sargaço defumado
Fumana procumbens (Dunal) Gren. & Godr.
Já ninguém se lembra por que Thomas Bartholin (em 1673, e depois Lineu) lhe chamou Fumana, embora a casca cinzenta que reveste os ramos seja a explicação mais plausível, a que serve o termo latino fumus. Reparámos nela porque tinha flores amarelo-limão como as do Halimium, mas as folhas não condiziam: pareciam grãos de arroz verdes, reunidos em molhinhos. Encontrámos estes exemplares, já a floração estava no fim, na vertente sul da serra de Sicó. Lemos depois na Nova Flora de Portugal que, no nosso país, ela só ocorre neste lugar desta serra e nos arredores de Bragança (mas aqui sem localização precisa). Sendo assim tão rara, desculpa-se que não tenha nome vernáculo em português; em espanhol é a jarilla rastrera; em inglês, sprawling needle sunrose.
Trata-se de uma planta lenhosa de distribuição mediterrânica (na parte africana, só em Marrocos) mas que também está presente no centro-este da Europa e no oeste da Ásia; na Península Ibérica, encontra-se no interior e em zonas mais ou menos elevadas (entre os 100 e os 2000 m de altitude) do litoral. É cespitosa mas pequena (não ultrapassa os 35 cm) e prostrada, precisa de solo calcário e prefere terrenos pedregosos com vegetação pouco densa ou fissuras de rochas em pleno sol.
Antes de ir à sua vida, repare o leitor nas sépalas, três grandes e com nervuras salientes que parecem costelas, e mais duas minúsculas semelhantes a brácteas. As cinco pétalas, de 8 a 10 mm de diâmetro, não têm pé nem a mancha na base que é frequente nas cistáceas; o formato mais comum é o ovado-triangular mas por vezes, diz G. López González (em Los árboles y arbustos de la Península Ibérica e Islas Baleares, Mundi-Prensa, 2006), as pétalas assemelham-se a um "corazón invertido" - descrição meio enigmática para uma flor com simetria radial, não acha?
7 comentários :
Olá Paulo
Não tendo,nas minhas rápidas andanças serra acima e monte abaixo,as 'qualidades botânicas e temporais' para me deter nos pormenores que aqui indicas,é sempre c/ prazer que leio aqui que convém virar e revirar o objecto que se quer fotografar como se o convidassemos a dançar;normalmente não o faço;e quase nunca uso o olfacto ou o tacto para receber noutras dimensões;paciência!
Vem isto a propósito de quê?
Listei as 'Cistaceas' do v/ sítio e tendo encontrado algumas que vi/fotografei no Gerês,lembrei de uma,que fotografei-e só ai,mas isso nada quer dizer!!-junto à barragem das Sombrosas;e por ter estranhado o padrão de forma/cor laranja pontilhando o interior das pétalas amarelas(variante?),lembro ter-me deitado uns minutos a fotografá-la,tempo quase demasiado para que uma vaca,que não vira e por lá pastava,se sentisse tentada..a fazer-me dançar;esperarei vê-la por aqui..ou,se não incomodar, remeter-ta-ei.
Abraço
Carlos Silva
Olá Maria, lá fui investigar alguma coisa sobre esse Bartholin, aparentemente pai do Bartholin cujo nome me era familiar de outras anatomias.
Aqui não se descobrem só plantas :-)
Olá Carlos.
Por favor envia-nos fotos dessa cistácea para o endereço dias.com.arvores(at)sapo.pt
Estamos com grande curiosidade em vê-la.
Abraço,
Paulo
P.S. Só um reparo: quem escreveu o texto de hoje foi a Maria, e não eu.
Olá Carlos: Não foi perto dessa barragem que viste alguns exemplares de Pinguicula lusitanica?
[A estrada até lá é tão larga e transitável quanto sugere a imagem do Google Earth?]
Gi: Obrigada pela adenda. Este Bartholin ter-se-á cruzado com as plantas do género Fumana por causa de uma obra de farmacopeia, Dispensarium hafniense, uma vez que elas eram usadas (diz a Flora Ibérica) em medicina popular como hipotensoras, hemostáticas, anti-sépticas e anti-inflamatórias.
Olá Maria (e Paulo)
Escrevi era já noite serrada e só mais tarde dei conta que remetera para o 'autor do post errado' (decerto, devaneio momentâneo por efeito do post anterior da Boraginaceae de Sicó);as minhas desculpas pelo erro.
Remeterei ainda hoje,de casa,a Cistaceae que lá fotografei (só vendo saberei se lhe dei algum nome..não lembro!).
Quanto à tua questão Maria sobre a transitabilidade até lá, tenho dúvidas:nunca cheguei (ainda) até lá de carro;o ano transacto,quando lá fomos,em geocaching/trekking, foi desde um acesso a seguir a Fafião(aí sim,'no estacionamento', fotografei a Pinguicula lusitânica e uma Droseraceae,juntas!);a estrada acho que é transitável,mas pelo que soubemos (não oficialmente)na altura,o acesso à barragem por essa estrada parece ser restrito à circulação do Parque/barragem mas não tenho a certeza.
Abraço e até logo
Carlos
Oi Maria
Parabéns.
Adoro vir aqui e ficar namorando as flores , árvores, jardins ,desse "Dias...", tudo harmoniza e os textos são sempre complementos excelentes , escritos de forma que possamos entender melhor cada espécie .
Eu amo essa espaço, quase nunca comento, só aprecio aprecio e apaixono-me por tão lindas flores.
Obrigada
abraços
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