Fentanha tamanha
Depois de andarmos entretidos com os fetos que vivem nas árvores ou nos muros, é altura de nos virarmos para aqueles mais convencionais que têm as raízes enterradas no solo. Alguns deles atingem dimensões de respeito, e são tão frequentes nos nossos bosques que acabam por se perder no anonimato. É um exercício de humildade prestar atenção ao que é grande e vulgar, em vez de valorizar somente aquelas minúsculas raridades que exigem olho de caçador. Sem quererem parecer tropicais, os nossos maiores fetos não destoariam se transplantadas para uma dessas florestas míticas que há nos trópicos. Aliás, as florestas nativas dos Açores e da Madeira, densas e húmidas como são, acolhem muitos destes fetos, entre eles o Polystichum setiferum (ou fentanha) de que falamos hoje.
Viver no chão à sombra das árvores é levar uma existência tranquila, que não exige estratégias especiais de sobrevivência. Pelo contrário, viver nos rochedos batidos pelo ar salgado da beira-mar, como faz o Asplenium marinum, não se consegue sem custos. Assim, o feto-marinho tem frondes curtas e coriáceas, quase carnudas, e a fentanha tem frondes grandes e maleáveis. A sua aparência próspera dá testemunho do solo fresco, rico em húmus, próprio dos bosques caducifólios onde lhe calhou morar.
As folhas (ou frondes) da fentanha, cada uma delas com cerca de um metro de comprimento, costumam agrupar-se em coroa. São frondes bipinadas: os segmentos que as compõem, distribuídos simetricamente ao longo da ráquis, estão por sua vez divididos em segmentos mais pequenos, chamados pínulas. Há fetos simplesmente pinados (como o feto-marinho e o feto-pente), outros tripinados (como a cabrinha), e outros ainda de frondes inteiras (como a língua-cervina — POR FAVOR NÃO SE ESQUEÇA DO CONCURSO). A fentanha pode confundir-se com outros fetos não menos comuns, e para uma identificação segura convém inspeccionar-lhe as pínulas — que são dotadas de um curto pecíolo e têm um formato assimétrico peculiar, com o recorte das margens rematado por espinhos.