Girassol de Agosto
Os girassóis (género Helianthus) são malmequeres com a mania das grandezas. Ou então são como aquelas esculturas de homens ou mulheres notáveis em que a grandeza moral ou cívica do homenageado é simbolizada pelo gigantismo do monumento. Os girassóis seriam então peças escultóricas em matéria vegetal, feitas para serem vistas ao longe, destinadas a homenagear todas as margaridas e malmequeres à face da Terra.
Sucede que malmequer e margarida são designações imprecisas que abarcam um sem-número de plantas diferentes. O que há de comum nelas é o tipo de inflorescência, ainda assim sujeito a variações subtis; tudo o resto (formato e disposição das folhas, tamanho, hábito, etc.) é matéria de livre arbítrio. Assim, e tirando as flores, os girassóis só são verdadeiramente parecidos consigo próprios, o que não permite tomá-los como representações de outrem.
Mesmo os desatentos terão já percebido que, no sobe e desce das modas alimentares, o óleo de girassol tem sofrido grandes recuos de popularidade. Culpa talvez do azeite, que tem estado em alta nos últimos anos. Não se pode dizer que seja uma evolução ruim. O azeite é coisa nossa, e as oliveiras são parte essencial da paisagem portuguesa. Os campos de girassóis, mesmo que dêem postais bonitos, são um exotismo postiço.
Nesta altura o leitor prepara-se para nos alertar que o que se vê nas fotos não se parece muito com os girassóis tradicionais. O disco central da inflorescência encolheu consideravelmente e não promete dar grande fartura de sementes. De facto, o girassol-do-óleo é o Helianthus annuus — que, como sugere o epíteto, é uma planta anual —, enquanto que o girassol acima retratado é o Helianthus tuberosus, planta vivaz conhecida equivocamente como alcachofra-de-Jerusalém ou girassol-do-Brasil. Ambas as espécies são originárias da América do Norte, e aliás o género Helianthus é exclusivo do continente americano.
Naturalizado em várias regiões de Portugal, e em particular no vale do Douro, o Helianthus tuberosus floresce a partir de Agosto e pode ultrapassar os 3 metros de altura. É amplamente cultivado na Europa pelo seu tubérculo, que se pode consumir em saladas ou como substituto da batata, e que na Alemanha é usado para produção de licor.
1 comentário :
Não me importava nada de experimentar uma "batata" de girassol :-)
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