Erva de Sampaio
Já aqui mostrámos círios como este, e o aspecto destas plantas, especialmente na época de floração, não deixa dúvidas quanto à identificação do género. Mas o Verbascum litigiosum é uma espécie que merece destaque: trata-se de um endemismo lusitano, dos areais marítimos do centro e sudoeste português (do Algarve à Serra da Boa Viagem), embora haja quem considere que ele se restringe à faixa costeira entre Leiria e Cascais, nascendo a discórdia da sua semelhança com o Verbascum thapsus L..
Essa parecença — no hábito de candelabro, nas folhas espatuladas, na penugem densa e amarelada e na ausência de manchas púrpura na garganta das flores — levou mesmo a que o V. litigiosum fosse tido como subespécie do V. thapsus. No V. litigiosum, porém, os filamentos dos cinco estames (no centro da flor) são glabros e as anteras (grãos de arroz castanhos no topo) estão dispostas transversalmente. Detalhes que, segundo os entendidos, bastam para lhe dar autonomia como espécie, sem contudo lhe alterar o epíteto (que significa controverso, duvidoso).
Todo este trabalho de destrinça pode, todavia, ter sido em vão. É que, de vulnerável nos anos noventa, o verbasco-de-folhas-grossas, que é bienal, passou a ter o estatuto de espécie ameaçada — e o risco de desaparecer deve ser elevado, a julgar pelos vários decretos-lei que o protegem. Apesar disso, persistem o pisoteio e a erosão das dunas e arribas onde habita, além da extracção de inertes a que a expansão urbana e turística perversamente obrigam.
Este exemplar é da praia de Quiaios. As folhas aveludadas basais são alternadas, com penugem nas duas faces e pecíolo longo; as caulinares, que abraçam o caule, escondendo-o, são sésseis e mais pequenas. Na parte terminal da haste dispõem-se, entre Abril e Maio (em Junho, quando foi fotografada, já eram raras as espigas cobertas de flores amarelas), as flores em fascículos, destacando-se em geral uma flor maior ao centro. Em cada flor, o cálice de sépalas lanosas, acuminadas e com cerca de 7 mm de comprimento, é fendido quase até à base, deixando entrever pétalas grandes de interior glabro. A cápsula avantajada de sementes mal cabe no que resta do cálice.
Chamou-se Verbascum lusitanicum ou V. crassifolium, mas o nome actualmente aceite foi-lhe atribuído em 1913 por Gonçalo Sampaio (1865-1937), botânico em cujo herbário encontramos uma amostra da flora que por cá vai tristemente rareando.
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