20/12/2010

Ao mar pleno

Asplenium marinum L.
Há vários bons livros que tratam da aventura das plantas; ou, se quisermos ser precisos, da aventura do homem em busca das plantas e também das plantas que viajaram pela mão do homem. Ainda nenhum, que eu saiba, falou da vida aventurosa das plantas sem nela imiscuir o «factor antrópico». Enfim, terá havido tratados científicos ou livros de divulgação, mas o que falta é um romance da vida vegetal em que os heróis sejam plantas e não pessoas.

Porque, muito antes de a espécie humana existir à face da Terra, já as plantas eram grandes viajantes. Continuaram a sê-lo na infância da humanidade, quando nós estávamos limitados a curtas e laboriosas deslocações. Hoje elas viajam sobretudo à nossa custa, e com isso o equilíbrio dos ecossistemas ficou em risco. Mas as plantas que são nativas de locais muito distantes uns dos outros nunca precisaram de boleia nossa. Uma delas é este feto, que ocorre em rochas do litoral oeste europeu e que, muitos milhares de anos antes dos navegadores portugueses, descobriu por si próprio o caminho (marítimo ou aéreo) para os Açores. Fui-lhe levar notícias dos primos continentais que conheci em visitas às falésias da nossa costa. O habitat açoriano é o mesmo, só a rocha mudou de cinzento para negro. Mas consta que nas ilhas o feto pode subir as encostas expostas ao mar até uma altitude de 500 metros.

Para além da vocação marinheira, o que melhor distingue o Asplenium marinum de outros congéneres seus é a textura coriácea das frondes, que atingem uns 30 cm de comprimento e surgem agrupadas em tufos. As minhocas na face inferior das pínulas (foto acima) são os esporângios, num arranjo linear típico do género Asplenium. Mais minhoca menos minhoca, o feto pode ser admirado o ano inteiro por quem o souber procurar — seja no Continente ou nos Açores.

1 comentário :

Luz disse...

Obrigado pelas coisas que continuam a ensinar-me!
Boas festas, carregadinhas de coisas boas, todoas as que mais desejam
Luz e meninos do JI de Valejas/ S.Bento