14/10/2011

É favor não pisar


Anchusa calcarea Boiss.


Para guardarem os centavos da República, os coleccionadores de moedas usam umas páginas em plástico com bolsas quadradas, uma para cada moeda, num arquivo esmerado onde elas estão protegidas da oxidação. Nos lugares vazios, há quem coloque fotos das moedas, retiradas de livros de numismática ou da internet, na esperança de um dia as substituir pelos originais em metal. Do mesmo modo, a nossa colecção de anchusas tinha, até há uns tempos, uma foto de livro com esta planta, pouco esclarecedora quanto aos detalhes; desde a nossa última visita à Galiza, dispomos já do original — que, na verdade, é também uma imagem, mas com mais memória nossa.

Esta erva-de-n-línguas é um endemismo do oeste e sul da Península Ibérica. Segundo a Nova Flora de Portugal, de Amaral Franco, ocorre em todos os areais costeiros, mas nós nunca a vimos nas praias do norte (Douro ou Minho). O que não nos surpreende pois, por razões ocultas, as plantas da beira-mar preferem enfrentar o perigo — que é real, não falta à-vontade no pisoteio aos veraneantes, sempre ansiosos por chegar à espuma — a terem de se acotovelar dentro das cercas que os zeladores prestimosamente espalham pelos areais.

É herbácea perene ou bienal de duna fixa, com lanugem de dois tamanhos no caule e folhas, uma opção atinada que a protege da erosão do par areia + vento. As folhas são pecioladas, crenadas e, as mais baixas, arrosetadas; podem chegar aos 15 cm de comprimento. As flores tubulares, com brácteas conspícuas e penugentas, são pequeninas e nascem na Primavera: os cálices têm cerca de 1 cm e são fendidos até 1/4 do seu comprimento; a corola, azul ou púrpura, ronda os 8 mm de diâmetro.

Desviei-me do assunto, desculpem. O que queria dizer é que nos falta um exemplar português, o tal centavo precioso.

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